segunda-feira, 1 de março de 2010

O Mundo Em Que "Nós" crescemos

Ainda me lembro quando era pequeno. Ainda me lembro quando andava na escola mais os outros miúdos.
Vivia no mundo diferente que agora vejo com estes olhos. Poderei dizer que era feliz...
As coisas que aprendi desde essa altura acabam por moldar a minha pessoa e talvez poderei dizer o meu futuro incerto, que ainda está em fase de construção. Mas agora só me relembro desse passado bom que outra-hora tive, e sinto e vivo neste presente cru dos dias de hoje. Tanta coisa mudou...

Amigos foram, novas vieram.
Os beijos inocentes que antes desejava, se tornaram no sexo doentio.
Como a alegria da aprendizagem, se tornou no aborrecimento da rotina.
Os risos transcendentes, nas expressões melancólicas.
E as simples despedidas que antes duravam até ao dia seguinte.
Naqueles adeus eternos, que são encobertos pelo o esquecimento e pelas cinzas da chama que outra hora se extinguiu.
O que se passa com estas pessoas...

Depois é o ciclo vicioso do amor...
Cabrão fode rapariga inocente, esta torna-se numa puta e fode rapaz inocente.
Este transforma-se num Cabrão e fode outra rapariga inocente, e continua sempre assim.
Na maior parte dos casos... Depois vêm as desculpas, os lamentos, a saudade, o desespero.
Sentimentos esses que já não me dizem nada, só me criam sensações de mau estar.
Isto não é o meu acto, por isso me levanto e mudo de espectáculo. Ainda há pessoas que desfrutam destes casos. Enquanto isso saio do recinto, acendo um cigarro e cuspo no chão...

Agora chove... E a Natureza canta através do vento.
As pessoas se movem e procuram por abrigo, mas eu continuo parado no mesmo lugar à chuva.
As vezes até elas devem pensar, que raio faz ele ali. Será que ele bate mal?
Eu não ligo, nem me importo, se calhar deve ser a minha cabeça a pregar partidas.
E eu dou mais um passo a frente e sinto as pequenas gotas de agua no meu corpo.
Às vezes levanto-me de manha e concluo que não sou nada. Sou apenas um fantasma que deu a face.
Embora as pessoas me vêm, não sinto a percepção destas sobre mim.
Às vezes me pergunto, porquê que o meu coração não para de bater?
É estranho, é que já sinto que já morri à muito tempo.
Mas tenho a sensação que possuo algo precioso dentro de mim, que me faz continuar aqui...

Volto a minha caminhada a volta destas paisagens enfadonhas, enquanto observo as pessoas no seu dia à dia.
Mas não vejo nada de especial, vejo o mesmo do costume. Tão óbvio e banal, que até a minha mente farta da rotina,
Insiste em criar novos epilogos através deste fim já desenhado pelas nossas mãos impuras. Que por muito mais que tentemos moldar o futuro, como um artesão que brinca com o barro, continuara a ser a mesma coisa... O que muda é o material...

Barro e Carne...

O barro enfraquece e se quebra, a carne desgasta-se e se corroí...
Como as rochas que se convertem em areia fina das praias e dos desertos.
As pessoas esquecem-se do importante e afogam-se em ilusões para contornar esse obstáculo que tanto temem em ver.
O Ómega, o fim, a Morte. Pff, não passam de farmacêuticos que vendem o medicamento, sem acreditar na sua cura...

Esquecem-se também do afecto e carinho. E instigam-se nos moldes que são lhes atribuídos... E graças a isso, simples potes de barro ficam para sempre fechados dentro de armários, sem ver a luz do dia. As pessoas vão lá, escolhem um do seu agrado e depois quando se fartam, deste... Acabam esquecidos num canto de qualquer casa, até que uma pessoa nova possa entrar e reparar no seu encanto. Isso não é arte... Arte é olhar para um quadro e a cada dia descobrir uma coisa nova, ver um espectro infinito de beleza num lugar onde nada é possível, nem racional. Arte é olhar para esta terra devastada e mesmo saber que não vale nada. Dar-lhe carinho e a nossa dedicação. E ver numa simples paisagem cinzenta, onde pessoas andam como robôs seguindo os seus programas e protocolos, uma beleza transcendente e sacar desse cenário, as milhares de vidas que escondemos dentro de nós.

Simplesmente, as crianças... São o único futuro que nós temos.
Embora não seja grande admirador em conviver com os mais novos, consigo ver nestes seres algo que nós perdemos no passado. Sim... A inocência... Esta inocência que perdemos, que às vezes conseguimos a encontrar nos confins do nosso mais que tudo. É essa inocência que move as poucas pessoas que existem aqui.

Ás vezes acabamos por ser como os descendentes de Caín. Ingerimos o sangue, esforço, suor e lágrimas dos outros que não nos dizem nada. Somos capazes de fazer os outros derramar sangue sem nos importamos. Um homem levanta a mão e ouve-se um estrondo, a terra rebenta e a vida se transforma em decadência... As guerras e a crueldade são prato diário para esses "Homens". Somos capazes de estragar o sucesso dos outros por inveja e mesmo assim ainda nos atrevemos a exigir algo dos outros que estes já nos deram. Eu pergunto-me, como posso dar algo que não possuo? E como é que as pessoas são capazes de dar algo que não possuem? Mentiras!

De volta ao amor, agora percebo porque esta palavra não passa de um substantivo comum... Porque não diz nada...
Amor é batota, amor é um jogo, é uma fachada... Eu passei anos a criar uma barreira contra toda a força maliciosa. Mas para quê? Para uma simples pessoa vir até mim e deitar-me abaixo em própria casa? Ofereci um bocado de mim, algo que a maior parte das pessoas não merece e acabei por selar uma doença vital nas minhas veias.
E mesmo assim, este substantivo comum, ousa zombar de mim...
É como o amor existisse no ar, mas como é que vou segurar um pedaço desse amor interminável nestas mãos...
Já sei agora... Porque temos a tecnologia... Talvez para algum dia conseguimos armazenar um fragmento desse amor, numa câmara de Vacuum para mostrar ao mundo. Será?

Homens se esforçam para planear um futuro para os seus semelhantes. Homens se dedicam de corpo e alma à nossa felicidade ao nosso sucesso. Homens morrem a tentar trazer o que não merecemos, por afecto a nós. E um simples "Homem", é o suficiente para botar esse esforço de mártir, ao chão... Apenas com um gesto da mão e umas palavras que não são as suas, mas sim de um demónio qualquer.

Homens que pisam a terra onde vivemos com atrevimento, homens que foram enganados pelo orgulho, pelo ódio, pela a mais falsa das vaidades. Enganados! Com pensamentos de autoridade. Homens que invés de se deitarem neste solo fértil e acolhedor da mãe terra. São homens que submetem a sua própria criadora dentro das suas mãos, debaixo dos seus pés...
Eles pisam nos do topo, eles sentem os nossos murmúrios... E eles riem-se...
E eu rio-me com eles, por saber que existe tamanha estupidez neste mundo... Rio-me de tristeza face a isto tudo. E acendo mais outro cigarro. Homens que pensam ser astros, mas por mais que brilhes com o poder de mil sóis, eu nunca irei me submeter a vós... Por isso esmaga-me e tenta-me provar o contrario.
...

E eu que pensei que já tinha passado a adolescência, mas parece que só foi ao nível físico e psicológico. Então eu pretendo me isolar numa crisália, para escrever ainda mais e reforçar a minha casca, para que um dia possa sair deste exílio e meditação, uma bela borboleta que possa voar nestes céus...

Penso para mim. Homem corvo, tu que és tão forte, porque caís com tão pouco? Maldição de um coração fraco?!
Não, simplesmente não sou fraco, por ser débil emocional. Simplesmente acabo por ser forte ao mesmo tempo, por saber que sou um dos únicos que possui esta doença e aprendeu a viver com esta. E que não vende o seu mais precioso para obter a cura... Os mundanos procuram esta cura pelas areias do tempo. E à medida que o tempo passa, apenas vão trocando coisa por coisa, na falsa esperança, em que algum dia possam a descobrir. Mas no fundo no fundo, só estamos a equilibrar as balanças...

Por isso, não temo...
E quando ela me vier ceifar...
Apenas vai levar o entulho da minha existência...
E a minha verdadeira relíquia irá fugir das suas mãos mortíferas, como a areia fina do tempo, que voa incandescente, para a tempestade âmbar da Eternidade...

Blackiezato Ravenspawn

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