domingo, 18 de julho de 2010

Hospital Dos Carentes

Farto de esperar
E farto de estar em pé.
Enfraquecido a desesperar
Bebendo mais um café.
Encostado naquela máquina
Que segurava o meu corpo
Numa forma tão apática
Eu caído e todo torto...
Passava já uma hora
Desde que entrara nas urgências
Com as tripas quase de fora
Desgastado, sem resistências.
E olhava ao meu redor
Os outros, que por sua vez esperavam.
Partilhando a sua dor
Enquanto as mágoas se amontoavam.

As luzes sintéticas,
Os longos corredores,
As enfermeiras energéticas,
E os preocupados doutores...
Os murmúrios constantes,
Os suspiros iminentes,
E os seus choros latejantes
Daqueles tristes pacientes.

Então dirigi-me ao exterior
Para matar aquela pressão.
Como faz um bom fumador
Com um cigarro na mão.
E marcava o chão com sangue
Que escorria da minha barriga.
A minha boca range!
Enquanto apertava mais a liga.

A ferida parecia estancar
Envolta na minha camisa
E só me restava aguardar
Pela altura precisa...

E após um bom tempo, fui chamado
Pela recepcionista do hospital...
Marchando com o abdómen rasgado
Lá entrava eu, mesmo mal...

A enfermeira analisava,
Os danos que tinha sofrido
E gentilmente se apresentava
Como lhe fosse um ente querido...

Não me efectuou algum tratamento
Nem concluiu nenhum diagnóstico.
Nem me receitou algum medicamento
Nem nenhum narcótico
Nem me cozeu os pontos
Apenas me deu uns abraços
Contando surreais contos
Por uns momentos escassos.

Saí porta fora, completamente desiludido
Pintando o piso... Ainda a sangrar...
E estava tão fudido...
Que mal conseguia falar...

Por fim, ela despediu-se de mim,
Com um certo gozo e satisfação
Abandonando-me assim
À deriva como um cão.

E com a mão no umbigo
Como uma mulher envergonhada.
Que outrora dormiu comigo
E lhe chamava de amada...
Voltei a casa desanimado
Com uma garrafa de vinho
E com o corpo lacerado
Sobre uma ligadura de linho.

Porque da maneira com isto vai
E como estará para vir...
Onde muita gente caí
E só pensa em desistir...
Preparem então essas macas!
Para esses recipientes,
De mentes flageladas e fracas!
Alvos de ataques dementes...

Porque a mim sempre mo disseram
Faz-te homem, cresce e esquece!
E por mais mal que te fizeram...
Cada um tem o que merece.

E lá se juntam os dependentes
Neste lugar de amargurados
O Hospital dos carentes
O cemitério dos corações...
Quebrados.

E alguém pergunta.
"Quando é que eu sei, que amo alguém?"
Quando infelizmente... Esse sentimento acaba.

Blackiezato Ravenspawn

Sem comentários:

Enviar um comentário