terça-feira, 20 de setembro de 2011

Isolação

Isolação... Isolação... Isolação.
Eu não me irei revoltar outra vez
Eu não me irei misturar com vocês
Porque vocês rasgaram o meu coração

E aqui jaz o meu corpo na isolação
Aonde me sinto finalmente em paz
Devo me ralar se eu fico para trás?
Eu devo desfrutar deste frio chão?

Sim, eu tomei a escolha da isolação
Pois neste mundo eu sou uma mentira
E recuso viver com quem a transpira
Correndo atrás dela até a exaustão

Sim, eu tomei o caminho da isolação
Mas levei-te contigo, minha menina
Amiga tão querida e intensa nicotina
Mesmo que não passes de uma ilusão

E agora eu estou no centro da isolação
Fechado dentro destas paredes escuras
Enquanto todas as crescentes loucuras
Se alimentam da minha grande solidão

E são estes escudos da minha isolação
Que me cobrem dos monstros que por aí andam
Pelas cidades em busca das presas que caçam
Para regalo da sua perversa satisfação

Isolação... Isolação... Isolação.
Eu não me irei rastejar outra vez...
Eu não irei mais amar um de vocês...
Até me cozerem o meu coração.

E assim dá-se mais um processo de isolação
Que mais uma vez chega e que mais tarde vai
Elevando a mente, enquanto o meu ego cai
Para me tornar escravo da minha imaginação.

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 18 de setembro de 2011

Círculo Elementar: A Queda

Eis o pinhal dos montes de Azurva
Que está a entrar em estagnação,
Dando-se mais uma raptura
De mais um alaranjado verão.

E desta vez é a flora que se queda
E que assim cessa de florir.
Pois hoje o vento paga na mesma moeda,
Porque o Outono já se faz ouvir...

Hoje é o elemento ar que desce ao solo
E é o verde que se deixa estar,
Para receber os seus hospedes ao colo
Que um a um estão a chegar.

E as alegres árvores já acenam,
Vendo-os à distância aqui no monte.
Enquanto os pássaros assim se elevam
Desaparecendo... No horizonte.

Blackiezato Ravenspawn

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Vida Como Ela É

Quando a vida te der vários limões,
Prepara para ela uma doce limonada.
Enquanto declamas as tuas emoções,
Como ela se tratasse da tua amada.
E se alguma vez precisares de um conselho,
Senta-te, não precisas de ficar em pé.
Vou fazer de conta que és o meu espelho,
E contar-te a minha vida, tal como ela é

Quem eu sou? E porque razão eu escrevo?
Para onde vou? E para quem eu vivo?
São algumas das explicações que a mim devo,
Ao meu reflexo, onde me vejo embebido.
Talvez não passe de mais outro igual,
Que embora no fundo, seja diferente.
Quando me perco no meu psico-emocional,
Tal e qual no irreal, se perde um demente.

E depois perguntaste-me, curiosa assim...
- Quais os teus sonhos e os teus objectivos?
Mas eu não te disse, porque não existe fins,
Para os meus diversos planos, concebidos.
Simplesmente consiste em ser apenas eu
Este giroscópio de infinitas rotações,
Pois na minha vida nada se perde ou se perdeu
Apenas sofreu várias transformações.

Nunca segui, nem seguirei uma rota exacta,
Nem nunca saberei o que desejo e o que quero.
Porque a maior parte das vezes, a dúvida me mata
Mas eu sou paciente e então eu espero.
Levando todo o tempo que tiver que levar,
Confiante, perseverante no poder do amor
À espera que a semente venha a brotar,
Na mais magnifica e exuberante flor.

Porque eu sou obcecado pelo perfeccionismo,
Embora não crer em tal conceito na totalidade.
E não passar de mais um auto-hipnotismo,
Gerado por uma mente cheia de criatividade.
Que partilha com o cosmos um prazer mutuo,
A um nível mais alto que a física quântica.
Quando o sémen lírico percorre pelo útero,
Fecundando numa poesia ultra-romântica.

E daí resulta este núcleo, esta pedra preta
Adornada por esta pele, o seu sublime véu.
Aonde todos os meteoros e todos os cometas
Colidem, juntando as vítimas aos seus réus.
Com mãos que tocam conhecidos e forasteiros,
Com dedos que contêm as unhas mais aguçadas.
Que fazem sangrar vilões, como justiceiros,
Fazendo de mim, uma rosa negra, espinhada.

Sombra temida, embora com boas intenções,
Cavaleiro obsoleto pela plástica sociedade.
Com várias multidões, mas com as mesmas pessoas,
Que pregam mentiras, até se tornarem verdade.
Diversas modas, mas eu com o mesmo estilo,
E apesar das companhias, sinto-me em solidão.
Nos diferentes bares, como estivesse num asilo,
A escrever poemas, sobre a mesma canção

E foi assim que partilhamos palavras e bebidas,
Acabando por reunir-mo-nos de novo, cá fora.
Esquecendo mais uma noite das nossas vidas,
Para no final desaparecemos e irmos embora.
Cada um atrás dos seus sonhos por aí além,
Cada um com a sua filosofia, com o seu caminho.
E foi ai quando julgara estar a falar com alguém,
É que reparei que apenas, estava a falar sozinho...

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 10 de setembro de 2011

Arte Da Degradação

Diz ele - Ai ratinho, pequeno ratinho
O que seria de mim, meu caro amigo?
Se não tivesses aqui a brincar comigo,
Provavelmente ainda estaria sozinho.

Por isso bebe - Diz ele acariciando o rato...
Depois partilharemos este pedaço de pão
Não tenhas medo, bebe em paz meu irmão,
Pois não existe falcatruas, neste contracto.

O rato come e ele pergunta - estava saboroso?
E levantando-se, este respondeu - hi-hi, iefe-iefe!
Ai queres mais? Comei o resto então seu patife
Porque a tua companhia é o maior dos gozos!

O rato comeu o resto e depois foi-se embora...
Adeus ratinho. Dá comprimentos aos teus pais.
Disse ele e o rato foi-se, mas não voltou mais
Porque não havia mais pão, a partir de agora.

Enquanto o homem permaneceu no chão, nu
Em cima dos seus poemas, o seu ninho...
Onde passou os restantes dias débil e sozinho
À espera do paladar da morte, azedo e cru.

Olhando para o tecto cheio de humidade,
Como se trata-se de uma magnifica pintura.
Padecendo de uma forma tão opaca e escura,
Embora com um sorriso de luminosidade.

E assim cessou de existir tão debilitado,
Apesar de radiante sem qualquer mágoa.
Mesmo sem ter luz, gás ou mesmo água
Devido à pobreza com quem estava casado...

E mais tarde começou a cheirar tão mal,
Que isso atraiu os seus vizinhos, os roedores.
Que vieram prestar os seus últimos amores
Improvisando para ele, um humilde funeral.

"Vinde a mim e devorai o meu corpo
Quando se der a minha lamentada crux
Tal e qual no final, afirmou Cristo Jesus
Antes de ser traído, torturado e morto."

Mas não houve lágrimas nem mesmo dor,
Apenas um banquete que ele proporcionou.
Que por vários dias as criaturas alimentou,
Sendo aproveitado com respeito e clamor.

Até se dar o fim da sua grande celebração,
Deste homem que vivia a escrever poemas.
Que faleceu tranquilo, apesar dos problemas
Pois a sua maior arte, foi a sua degradação...

E assim coexistiu com ratos, os seus manos
E com os vermes que também conheceu...
Este homem! Em que me tornarei talvez eu
Num degradante futuro... Daqui a uns anos...

Blackiezato Ravenspawn

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Melhor Passa Deste Mundo

Tinha acordado depenado fora de mim,
Terrivelmente, muito antes da estimada hora.
Então abri o maço, mas não restava nada, enfim
E então disse p'ra mim - meu Deus o que farei agora?!

Procurei, mas não encontrei o vício em casa
E aí... Comecei totalmente a ressacar...
E agora o meu corpo parecia a faixa de gaza,
Pois contra a minha mente estava a lutar.

Senti-me ainda mais cansado, deveras débil e fraco,
Do que naquele momento, em que antes me deitara.
Então desesperado comecei a extrair todo o tabaco,
Daquelas beatas que no cinzeiro, outrora deixara.

E depois de reunir as réstias da minha desgraça,
Enterrei toda a minha decadência, no cachimbo.
Acendendo-o, enquanto puxava pela primeira passa,
Expirando de olhos fechados, entrando no limbo.

Não via nada, nem escutava som algum,
Estava completamente sem sentidos...
Com aquela passa que fumava em jejum,
Para silenciar todos os meus gemidos...

E quando abri estes olhos pachorrentos,
Para enfrentar o aborrecimento diurno.
À minha volta circulavam fios cinzentos,
E e aí senti paz na destruição, tal e qual Saturno

Inspira-me intensamente - Disse a Nicotina
E assim continuem nesse jeito profundo,
Até cair na cama na minha própria ruína
Desfrutando da melhor passa deste mundo.

Blackiezato Ravenspawn

O Príncipe Do Universo

Apesar de seres pequeno, já és um gigante
E és deveras mimado com um tremendo carinho.
E mesmo estando próximo, estás-lhes distante
Embora acompanhado, mas tão sozinho.

Sendo o portador da vida, como da morte
E de todos os segredos que desejas ver revelados.
Que contêm perfeitas criações, que imaginas à sorte,
A partir dos teus sonhos, mais encantados

Tu meu infante, embora já considerado ancião
Sábio talentoso, misterioso e controverso...
Por guardar a ordem e o caos no teu coração
Dando forma na tua mente, um universo.

Que carregas em pura harmonia nessa bela capa,
Negra, embrenhada com padrões mais brilhantes.
Pintados por ti, nesse teu suave tecido de napa,
Que conta as tuas histórias, mais exuberantes.

Que com o tempo ainda se irão desenrolar,
Em odisseias tão belas como as da tua irmã.
Mas agora meu príncipe. É tempo de descansar
E de dormir no colinho da tua mamã.

"Eu nunca entendi, nem mesmo creio no destino.
Mas caso este existir, é assim que nos imagino...
Dentro de uma orbe celestial de cristal pristino,
Entre as mãos delicadas, de um inocente menino."

"Porque pr'álem deste enigmático cosmos
Deverá existir outros mais...
Talvez uma família, talvez um mundo
Ou até talvez... Um cosmos de cosmos..."

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Despetelar (A Queda De Uma Rosa)

Com que então, querido Outono!
Sinta-se à vontade, sê bem-vindo!
Porque este Verão já me dava sono,
Apesar de ser tão quente e lindo.

Chegou demasiado cedo este ano,
Mas, receber-lhe é sempre um prazer.
Por isso contai-me tudo, ó soberano
Pois eu estou a morrer por saber...

Ah! E já pintou o céu de cinzento
Com a sua decoração favorita.
Talvez um pouco antes do tempo,
Mas não deixa de estar catita.

E assim instalas-te, belo e cordial
Com essa tua presença requintada.
Que apesar de já me ser habitual,
Deixa-me sempre embaraçada.

Causando-me esta sublime sensação,
De mistério, arrepio e de alegria.
Ao som do vendaval que traz a sua canção,
Matando a saudade com a nostalgia.

Enquanto me beijas levemente,
Suspirando, como se estivesse a recitar.
Para uma rosa deveras carente,
Que se comove, até despetalar.

Com esse seu charme tão adorável,
Encantador que faz-me imenso sorrir.
De uma forma deveras agradável,
Até não aguentar mais e assim cair.

Nas suas mãos elegantes e carinhosas,
Que me pousam suavemente no chão.
Realizando todos os meus desejos airosos,
Que eu guardei neste frágil coração.

Por isso vem a mim, gracioso zefir"
E levai-me convosco para o seu trono.
Pois consigo a volúpia desejo dividir,
Pela ultima vez, ó príncipe Outono!

"Folhas e pétalas caem sobre o solo,
Enquanto a rosa mostra a sua intimidade.
E agora o seu príncipe pega-lhe ao colo,
Carregando as réstia da sua vitalidade."

"E e assim que a rosa morre de amores,
Enquanto as chamas correm com o vento.
Anunciando a estação dos pensadores
Da queda, da memória e do esquecimento."

Blackiezato Ravenspawn