sábado, 29 de outubro de 2011

Prisão

Eu vivo numa prisão como a maior parte das pessoas. Uma prisão imaginária criada por homens. Uma prisão que não é definida por barras, nem correntes e uma prisão que não se encontra em torres, nem mesmo em masmorras. Uma prisão que nos prende aqui entre paredes semelhantes às das dimensões desconhecidas que poderão por aí existir. Uma prisão que nem todos conseguem ver ou mesmo tocar. Uma prisão chamada de realidade. Uma prisão finita em constante crescimento que nunca imaginei saber da existência dela, porquê? Talvez porque esta prisão tem crescido ao longo do tempo, como estivesse sempre um passo à nossa frente. Essa mesma prisão definida por limites. Prisão essa que nos faz crer que somos livres quando na realidade não somos, nem conhecemos bem o conceito de liberdade porque na verdade... Só possuímos uma pequena amostra de liberdade. Essa amostra é composta por diversas falsas liberdades que os meus olhos enxergaram ao longo da minha vida.

Nestas prisões existem todo o tipo de pessoas diferentes, mas não importa as suas diferenças ou parecenças, porque na realidade continuamos presos, inclusive aqueles que mandam e gerem estas mesmos... Bem-vindo à prisão de almas... Onde a maior parte das pessoas estão aqui inseridas, nestas prisões feitas por nós mesmos, nessas celas decoradas por nós mesmos com os seus convictos condenados também por nós mesmos. Nestas prisões que por ventura está dentro de outra prisões que ironicamente estará dentro da absoluta prisão alguma vez construída...

Lembro-me de um dia ter dito para mim que não aguentava mais e assim, decidi sair... Mas estranhei o facto de ninguém ter me impedido tal e qual o que se encontrava para além desta prisão. Para além desta prisão, existe um mundo enorme para ser explorado. Um mundo que só de o ver de relance causa algum choque e pavor. Um mundo que me faz sentir um medo estranho como uma excitação que nunca senti antes. E só foi quando me atrevi a caminhar uns curtos passos, assustando-me com as coisas novas que via, deixando para trás as barreiras irreais, essas tais que só eu conseguia ver e ultrapassar. Que eu vi nada, mas mesmo ninguém.

Não vi nadinha de nada a não ser esse mundo que para mim era uma experiência nova. E de o ver senti-me só, embora feliz. Feliz por não estar preso, mas triste por estar em solidão. Melancolia para ser mais preciso, uma sensação difícil de explicar. Sensação essa tão peculiar das que estava habituado... Fugira daquela prisão por não existir uma cela para mim, apesar de viver numa prisão gigante com um número exagerado de celas. Fugi porque sentia-me tão mas tão apertado que mal conseguia respirar. Mas só foi quando julgara ter escapado à maior prisão em que me achava inserido, que eu acabei por entrar noutra prisão ainda mais pequena. Uma prisão chamada de dúvida e de indecisão. Uma prisão ainda mais torturante que todas as que tinha estado...

Encontrava-me agora a meio do caminho que traçara... Atrás de mim permaneciam as paredes invisíveis da realidade e à minha frente o nevoeiro espesso do mistério. Então, respirei fundo e caminhei de seguida adiante para o coração da neblina investigando tudo o que os meus sentidos captavam. Sensações essas que não entendia e ainda não entendo, mas que à media que prossigo a minha mente começa a decifra-las. Todos os sons que escutara nesse dia, gradualmente tornavam-se em voz audíveis em sintonia com os meus passos. Até mesmo os lençóis de fumo ganharam formas e até o próprio ar tornou-se vivo como se as próprias moléculas estivessem livre arbítrio para encher os meus pulmões de uma maneira sobrenatural, ao ponto de gerarem emoções desconhecidas por mim. Podia jurar que reconhecia as almas que dançavam à minha volta e até atrevo-me a dizer, que eram todos os ex-reclusos que nunca mais foram vistos. Esses que provavelmente terão morrido a tentar escapar, ou que possivelmente assim escaparam...

Ouvi uma voz que me tocava com mãos suaves no meu ombro. Tal toque que me despertou um novo sentido. Sentido esse que me transmitia a mensagem - Vem connosco... Junta-te a nós. - De uma forma tão éterea que o meu cérebro nem conseguiu reagir ao que experienciara... Congelei no tempo por breves instantes e quando dei por mim, estava cercado de entidades que me acariciavam o corpo e me suspiravam palavras que nunca esperava ouvir. Palavras que eram demasiado surreais para serem ditas daquela forma, palavras que eu temia, palavras que me mostravam realidades que sempre refutei ao longo da minha vida... Não quis acreditar, pois tudo o que eu acreditara perdeu o sentido tal e qual o meu corpo perdeu o controlo de si. Entrando num frenesim que desencadeou uma tempestade de fogo que se alimentava do meu medo e as labaredas destas corriam pelas minhas veias, gerando doses abismais de adrenalina. Tal impressão não consegui aguentar e só me queria ver livre desta. E assim corri até não a sentir mais e o frio do suor substituir esse calor que as minhas emoções geravam.

Não sabia agora o que se tinha passado lá e nem fazia intenções de saber. A única coisa que só pensava nesse momento, era entrar de novo da prisão que eu tinha fugido... E quando voltei à cela onde estava inserido, aquela que partilhava com outras pessoas a que chamo de família. Estavam a jantar. Nem tinham dado pela minha ausência. Talvez pensariam que estava na cela de outros, ou nos átrios da prisão ou até mesmo nos outros sectores próximos. Entrei e sentei-me junto a eles para jantar também. No final da refeição dirigi-me aquela que fui habituado desde pequeno a chamar de mãe e falei-lhe da experiência que tinha testemunhado. Da maneira que achei mais concisa de se explicar. - Mãe... Eu hoje saí da prisão... Hoje vi um novo mundo. - Mas ela não me levou a sério. Apenas sorriu concluído com umas palavras de consolação de um jeito como não tivesse alcançado nada de valor. Eu olhei para ela e senti raiva... Era raro sentir algo por esta mulher. Mas desta vez não protestei ou utilizei linguagem involuntária como costumava fazer. Apenas saí da sua presença e voltei para o meu lugar da cela, deitando-me na cama. Agora... Não conseguia dormir, pois um ódio crescia dentro de mim tal e qual aquela adrenalina incandescente que me possuiu com o terror. Fiquei frustração e senti nojo de tudo o que via, senti-me violado, senti-me sujo, senti-me inútil, senti-me ridículo, senti-me frágil, senti-me exposto,senti-me magoado e além de tudo o que terei sentido. Senti-me morto... Só queria escapar daqui e esquecer aquele dia... Passaram imensos dias, mas eu continuei preso no mesmo.

Deixei-me levar até a um ponto de saturação. E quando esse momento chegou, aí pulei da minha cama e corri mais uma vez até à fronteira da prisão. Meti de novo o pé lá fora e senti a mesma excitação, o mesmo medo. A desconhecida verdadeira liberdade que me viciava mais que qualquer droga que até agora tinha experimentado, que qualquer emoção que eu julgava transcendente alguma vez sentida. Era como respirar, não podia deixar de a sentir. O corpo pedia por mais, tinha de consumir mais ou eu... Ou eu... Mas quando pensava num termo para me explicar, também reparei que voltei-me a sentir mal. Uma recaída... Mal, porque não tinha ninguém com quem partilhar esta realidade. Mal, porque ninguém acreditava em mim no que eu disse. Mal, porque se faziam crer no que eu diria, mas que não lhes dizia nada. Senti-me mal, porque não tinha ninguém com quem fugir! E assim... Voltei-me a sentar no meio no chão como costumava fazer e ainda faço... Entre o domínio da prisão e o infinito da liberdade. A pensar... Até perceber porque razão continuo a ir e a voltar vezes sem conta... E hoje percebi porquê...

Porque sou eu que crio as minhas prisões! Porque sou eu que suporto aqueles que as criam prisões. Porque eu tenho um tremendo medo de viver fora de uma prisão! Porque a humanidade sempre se encarcerou em prisões! Porque a humanidade fecha-se por dentro nos seus próprios retiros: sendo prisões, ou não! Porque nós prende-mo-nos a tudo que nos gera tranquilidade, nem que seja uma segurança ilusória de prisão! Numa mentira fraca que nós sabemos que não é real! Uma prisão que gera outras prisões onde nós somos escravos das coisas que criamos e nos prendemos vezes sem conta, sem saber! Que estamos presos! Que vivemos iludidos nas liberdades em que criamos! Liberdades essas chamadas de prisões! Chamadas de sociedades! Chamadas de instituições! chamadas de responsabilidades! Chamadas de rotinas! Chamadas de deveres! Chamadas de vidas! Prisões da mente! Prisões de prisões de prisões de prisões de prisões! De prisões que nunca mais acabam!

*

Ninguém me ouviu... Estava no ponto mais longe que consegui alcançar em toda a minha vida. E agora... E agora é tempo de regressar à prisão a que eu chamo de casa. Mas hoje, eu não me prendo. Deixei-me de prender, pois eu não consigo aguentar mais. E é por isso que amanhã irei voltar à linha que separa a prisão do desconhecido. Para avançar mais um passo adiante do que a vez anterior, marcando uma nova marca e regressando de seguida. Ganhando coragem pouco a pouco, enquanto planeio com os restos de paciência que ainda possuo, a minha grande fuga.

Sozinho ou acompanhado, não importa...

E eu sei que um dia vou ser capaz de sair desta prisão para sempre. Eu jurei a mim mesmo...
Um dia vou me libertar quando não existir mais nada em que me apegar aqui. Quando olhar para trás e o passado desvanecer em cinzas...

E só de pensar em tal já me gera excitação... Já me faz sonhar coisas que nunca pensei sonhar e não saberiam que eram possíveis serem sonhadas. Ainda nem alcançando tal proeza, já me sinto realizado tal e qual o calor que a terra recebe do sol que se encontra bem distante... E quando alcançar a rainha de todas as liberdades. Não vou voltar atrás, nem ninguém me fará recuar... Apenas só espero que um dia também se consigam libertar. E quando me libertar... Aí esperarei por todos os prisioneiros que me fizeram sentir menos presos, fazendo parte das vozes suaves que dizem - Vem connosco... Junta-te a nós...

Um dia eu estarei pronto para dar a grande caminhada, sem receio, pelos confins do infinito. Para me perder nesse mundo platónico, onde nenhuma parede terá o poder de me confinar... Ou até mesmo talvez, apenas sairei de uma prisão para encontrar que estou inserido noutra. Mas não importa... Pois quando começar a minha verdadeira fuga, vou viver para escapar de prisões ao contrário de me trancar nestas.

E se a única coisa que restar para além de todas prisões for a minha loucura... Não faz mal... Porque eu já deixei cair a minha máscara de sanidade à muito tempo. Pois um pássaro não foi feito para estar numa jaula, mas sim para voar livre...

Enquanto esse dia não chega, eu continuo a viver nestas prisões dentro de prisões. À procura de alguém que tenha algo para contribuir para a minha fuga, ou que até se atreva a escapar comigo.

Mas infelizmente... Só tenho encontrado pessoas, felizes nas suas próprias prisões.

E às vezes até penso que eles possuem o poder para ver essas paredes fantasmagóricas diante de nós. Mas que simplesmente optaram por se conformar com esta realidade. A mesma, que nem real é... Como se implorassem com todo o clamor... Para que os prendessem para sempre. Em prisões...

*

Ou talvez tenha sido mesmo eu, quem tenha caído mesmo na absoluta prisão onde ninguém alguma vez foi metido. Naquela tão cruel e tão torturante... Que me leva ao ponto de imaginar a única coisa que sou capaz de imaginar... Por não me conseguir prender em mais nada, por ter esgotado todos os métodos de auto-aprisionamento possíveis por mim mesmo e não me restar mais formas de aprisionamento a não ser sonhar com uma liberdade impossível com a única intenção apenas... De me prender em algo para me sentir tranquilo e completo.

Mas se esse dia chegar... Eu me matarei.
Porque não existe maior prisão.
Que uma liberdade impossível.

E é por isso que eles trespassaram os limites definidos por essas linhas que separam do que nós conseguimos fazer e do que nos mata...

Porque quando a liberdade se torna impossível e sem sentido.
Só há uma maneira de a alcançar...
Morrendo. Assistindo a prisão da alma desmoronar-se no chão e se decompor com o tempo.
Enquanto a prisioneira... Liberta-se... Sem nunca mais se prender em algo... A não ser na sua desejada liberdade que nem prisão é... Porque a liberdade não prende... Ela leva a alma, onde esta desejar mais ir.

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 23 de outubro de 2011

Música

És das mais sacras e imortais regalias,
Para esta cruel e profana humanidade.
Quando vestes as mais puras poesias,
Com uma enorme graça e tal vaidade
E assim encantas-nos com melodias,
Bem ritmadas, repletas de verdades.
Alimentando os nossos frágeis corações,
Com os diversos sentimentos e emoções.

Sendo a mais bela, como a mais feia,
Que até se torna difícil de te definir.
Serás a górgona, ou serás a sereia,
Nestes oceanos musicais do sentir?
Porque nem és vazia, nem mesmo cheia,
Pois és toda a brisa que se faz ouvir.
Aquela que embala-nos com ondas,
Lançando-nos no cosmos, como sondas...

És a mais energética das cocaínas,
Que levanta a moral dos flagelados.
Como a mais potente das heroínas,
Que tranquiliza todos os atribulados.
Sendo a cicatriz de todas as feridas,
O antídoto de todos os envenenados
E aquela que torna as palavras em cores,
Conforme os nossos rancores e amores.

Sendo-nos tudo, ao troco de quase nada,
Valendo mais que todos os materiais.
Pois és uma das excelências alcançadas
E a melhor das crenças espirituais.
Tão única e ao mesmo tempo variada,
Feita para abraçar as almas demais
E apesar de cada um, preferir as suas,
Todos eles se rendem a ti e as tuas...

Músicas.

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 22 de outubro de 2011

A Fada Do Nada Fazer

Não faço nadinha! Mas nem mesmo, nadinha de nada,
Porque encontro sempre tudo, devidamente feito.
Pois existe dentro de mim, algures uma petiz fada,
Que vive escondida em simbiose com o meu peito.
E ela alimenta-se de mim, criando todos os meus desejos,
Sendo todo o meu bem-estar, sendo todo o meu deleito.
Quando se manifesta subtil, nos meus sonolentos bocejos,
Que derretem o meu cérebro e me deixam desfeito.

Ela é o meu maior passatempo, ela é o meu maior ócio,
A droga que não se toma, nem que se tem de obter
E o seu efeito é como beber absinto e como fumar ópio,
E é como não estivesse cá, mas visse tudo a acontecer...

Tantos planos para hoje, e deixo-os todos para amanhã,
Porque encontro-me sempre, eternamente, tão cansado.
E assim acordo ao início da noite e adormeço logo de manhã,
Vendo o tempo passar, pensando sonhado, mais um bocado.
E é pegando nessas palavras, lançando-as à balda numa sertã,
Sem ligar o lume, apenas olhando para o fogão meio-aluado.
Que através da minha distracção, eu evoco a minha anfitriã,
Para cozinhar o meu tédio, preparando um serão, requintado.

Pois eu não possuo rotina, eu nem faço parte do sistema,
Porque eu sou uma partícula que foi feita para se perder
E que quando viaja por si, encontra-se sobre um poema,
Criado magicamente, pela arte, de nada fazer...

E é arrotando agoniado, que eu crio um instrumento gutural,
Que da minha misteriosa embriaguez, eu produzo esta canção.
Enquanto o cigarro vai-se ardendo, dando-se mais um ritual,
Que pelo seu fumo se revela, um universo regido, pela perfeição.
Mas só quando fico sóbrio, é que reparo que agi deveras mal,
Que nem apesar das críticas, consigo encontrar alguma razão.
E é por isso que me arrasto pelas ruas, em busca do surreal,
Como um drogado agarrado, a mendigar pela sua salvação.

Pois nenhuma ressaca doí mais, que a simples pura realidade,
Quando a sua graça etérea finda e eu perco todo o seu poder.
E às vezes até parece, que me esqueço da minha mortalidade
E salto de pedra em pedra, à espera de cair para depois me erguer!

Enquanto eu sofro em silêncio, sobre o vazio véu da obscuridade...
Abafado e cegado! Pelo barulho cintilante! Do absoluto prazer!

Blackiezato Ravenspawn

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Jogo

Estima-se que o jogo poderá englobar mais de sete mil pessoas.
E sabe-se que no passado já jogaram muitas mais.

Mas nem toda a gente joga o jogo... Sempre existiu uma pequena parte de indivíduos que recusaram jogar, ou que até supostamente conseguiram escapar deste.

Muitos que escaparam recusam-se a falar.
Outros nem sabem ao certo mesmo explicar.
Apesar de existir uma rara parte destes,
Que o segredo do jogo decidiram revelar.
Um exclusivamente em particular.

E as suas palavras foram estas.
"O jogo existe, existirá e sempre existiu. Provavelmente terá cerca de dez mil anos e uma coisa é certa. Nunca ninguém conseguiu, nem nunca haverá alguém capaz de ganhar o jogo.
Pois este é infalível... A única maneira de derrotar o jogo, é não o jogar.
Porque o jogo só para, quando não restarem mais jogadores..."

Temendo a sua quebra de sigilo e a sua exposição face aos controladores de jogo. Esta alma deixou para trás uma nota detalhada do que se trata este jogo após a sua fuga. E nunca mais ouvimos falar deste, desde de tal... Mas eis a sua nota.

O Convite
Estás pronto? Tens a certeza?
E queres fazer parte desta realeza?
Então prepara-te, pois eu vou contar.
Três,
Dois,
Um,
Zero.
Se é isto mesmo o que queres
Então implora-me, eu quero!

I
- Eu quero! E foi assim me comprometi,
A jogar este jogo a tempo inteiro.
Até ao dia que o abandonei e fugi,
E optei por outro roteiro...
E tudo começou quando a sirene soava,
E as pessoas corriam pela sobrevivência.
E assim corria mais do que eu respirava,
Com um enorme peso na consciência.
E confesso que existiu certos momentos,
Que vi o temporizador chegar ao fim.
Balas disparadas pelo vil tempo,
Terminando outros, junto a mim.
Mas não podia parar agora,
Tinha de os deixar para atrás.
Pois temia que chegasse a minha hora,
Mas meus pêsames para ti rapaz...

O Jogo
Bem-vindos ao grande jogo
Venham daí todos jogar
Para arderem como o fogo
Até mais nada de vós restar!
Corram pelas vossas vidas
E dupliquem as vossas apostas
Mas cautela minhas queridas
Quando estiverem aí de costas!

II
Escolhe bem a tua equipa,
Planeia bem a tua táctica.
Caso preciso, simplifica,
Como se faz na matemática.
E se necessário, também sacrifica
A forma de vida mais básica,
Faz desta uma subtracção
E dá o fim a esta equação.
Lembra-te que são todos teus inimigos
E só pode existir um vencedor,
Por isso caga neles, dás-lhes migos
Escolhe o sucesso invés do amor.
E se acabares com um vazio na alma,
Enche esse espaço com prazeres comprados.
Ignora a situação, relaxa - tem calma
E respira fundo e volta a lançar os dados

O Jogo
Bem-vindos ao grande jogo
Venham daí todos jogar
Para arderem como o fogo
Até mais nada de vós restar!
Corram pelas vossas vidas
E dupliquem as vossas apostas
Mas cautela minhas queridas
Quando estiverem aí de costas!

III
Bosque de caçadores de créditos,
Quartel de soldados da fortuna.
Psicopatas mascarados de médicos,
Atiradores, escondidos em dunas.
Porque aqui existem pegadas no deserto
Pois ninguém joga o jogo só,
Cautela com quem te chegas perto
Pois poderás morder o pó.
Nem subestimes nenhum desafio,
Quando te encontrares num duelo.
Porque a tua vida está por um fio
Quando tentas manter o teu elo.
Porque um dia poderás ter tudo,
Como no outro não podes ter nada.
Por isso não te faças de surdo,
Pois podes ser alvo de uma emboscada.

O Jogo
Bem-vindos ao grande jogo
Venham daí todos jogar
Para arderem como o fogo
Até mais nada de vós restar!
Corram pelas vossas vidas
E dupliquem as vossas apostas
Mas cautela minhas queridas
Quando estiverem aí de costas!

IV
Possuem-te com uma extrema arrogância,
Para esmagares todos no teu caminho.
Devido a essa estúpida ridícula ignorância,
Que um dia te vai deixar tão sozinho.
Fazendo-te viver num ciclo vicioso
Pois o teu medo, é ser um fracassado.
Por isso lutas para ser um vitorioso,
Para não te tornares num derrotado.
Não te ralas com as suas consequências,
Porque o que te interessa, é só ganhar.
Para alimentares essas dependências,
Nem que tenhas de roubar, matar ou estuprar.
Sendo manipulado por líderes aldrabões,
Que te congratulam com inúteis troféus.
Não caminhas no piso das ilusões
E idolatra os falaciosos céus.

O Jogo
Bem-vindos ao grande jogo
Venham daí todos jogar
Para arderem como o fogo
Até mais nada de vós restar!
Corram pelas vossas vidas
E dupliquem as vossas apostas
Mas cautela minhas queridas
Quando estiverem aí de costas!

V
Só existe um verdadeiro prémio,
Nesse quotidiano tão trágico.
Pois mais vale ser um boémio,
Do que acabar num fidalgo sádico.
E foi assim que marquei a despedida,
Destes confrontos de miserabilidade.
Quando quebrei as regras proibidas,
E alcancei a minha própria liberdade.
Quando parei e pensei fora da caixa,
E fiz-me passar por um vagabundo.
Almejando pela pontuação mais baixa,
Enganando o sistema deste falso mundo.
Por isso não queiras ser o mais forte,
Nem te tornes num profissional temerário.
Mas caso o desejares, então boa sorte
Depois não te queixes, meu otário.

O Fim do Jogo
Passaste pelos míticos anéis de chamas
E conquistas as mais altas montanhas,
Exploraste tudo, como criaste tramas
E agora vês te vítima das tuas manhas.
Pois tropeçaste nas tuas próprias palavras,
Enquanto o azar espiava-te no teu logro.
Mas agora saiu-te o tiro pela culatra,
Adeus! - Bem-vindo ao fim do jogo!

A Fuga do Jogo
Pois eu prefiro partir pelo infinito
E continuar a ser tão livre como o vento
Do que fugir do que acredito,
Arrastado pelas ondas do momento...
Porque eles seguem as mesmas direcções
Fugindo em frente, da flecha do tempo
Até esta penetrar os seus corações
E estes caírem em esquecimento.

So why do you keep going
If you know you will die?

Always so straight ahead
In the path that lies nearby?

It's because it's so tasteless
Like a pie made of lies?

Because i know that feeling
And i can hear your inner cries...

So that's why i split myself
In many countless i's.

To fly in endless swirls,
Like they do the little flies.

Taking the multiple paths
That i see with my own eyes.

While most end up losing
When we... We tie.

That's why this game is so ironic...

The worst you play,
The better person you became.

And still...

People continue to take it so seriously
Calling us losers.

So then be it...
All hail!

The Kings of the Losers!

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 15 de outubro de 2011

Bruxa

Feiticeira vil e sombria
Das terras mais distantes
Adepta na obscura magia
Tal e qual os necromantes
Vestida sempre de negro
Com um pontiagudo chapéu
À procura de um emprego
No inferno, ou no céu...

Uma personagem fictícia
Nesses contos de terror
Que carrega a malícia
Na alma, no teu interior
Um adjectivo de insulto
Para algumas mulheres
Que manipulam os vultos
E todo o que quiseres...

És uma recipiente de demónios
Sendo a mais assídua ocultista
Com as tuas pedras de zircónio
Os teus utensílios, decadentistas
E nessas bonecas fazes furos
Quando desejas a alguém mal
Como também prevês o futuro
Na tua bola mágica de cristal...

Veneras todos os elementos
E tudo o que mais te cheira
Criando diversos encantamentos
Por essas noites inteiras
Planeando também invocamentos
Como rituais e possessões
Mais tragédias e tormentos
Em volta dos teus caldeirões...

Em busca de forças algumas
Adornadas nos teus talismãs
Mas para mim és como qualquer uma
Porque também és fêmea, minha irmã
E não importa as tuas lamentações
Nem o que dizem as tuas cartas
Porque quem vive sobre tentações
Não se sacia, nem se farta...

Por isso abre essas ricas pernas
Para eu me ajoelhar nessa sina
E agradecer as graças mais eternas
Que me mostrarão a tua vagina
Tu, minha linda lua de Júpiter
Minha querida e bela Calisto
Tu, a mulher mais misteriosa
E uma renunciante a Cristo...

Dizem que tu és um veneno letal
E uma praga deveras cruel e maldita
Como um maligno soneto infernal
Que tu com mestria, tanto recitas
E também dizem que tu amaldiçoas
Como também és uma pega ingrata
Que anda como uma nobre pessoa
Embora desfiles como uma vadia gata...

Fingindo com intenções nada boas
Quando cinicamente dás essa pata
Ouvindo essa voz etérea que te ecoa...
Mas na realidade, tu nem matas!
E por isso... Ai que tontas mentiras!
Olha! Eis o teu calcanhar de Aquiles!
Ai se eles vissem como tu gemes e respiras
Quando te toco, vai lá, diz-lhes...

- Ai, ai, uiiii... Que esta a ficar mesmo quente!
- Ah, ah, ah! Que prazer tão, mas tão ardente!
-Que me faz desfrutar, dessa forma tão efervescente!
-Oh, oh, ooooh... Mas que língua tão experiente!

E assim, convulsionas toda molhada
Porque é isto que tu tanto queres
Sendo tão, ou mais desenvergonhada
Como o resto das outras mulheres.
Por isso hoje eu tiro-te as teias,
Hoje não dormiras com fantasmas
Pois hoje partilhamos a cama a meias
E hoje comigo, assim orgasmas...

Porque eu fodo todas as que andam
E não me importa se são "feias"
Pois hoje as tuas mãos comandam
A lívida cabeça da minha centopeia.

Blackiezato Ravenspawn

Não Sei Por Quem

Eu bem gostaria de chamar,
Querida a outra alguém...
Mas infelizmente não posso,
A não ser à minha mãe...
E assim um enorme vazio,
Lá este meu coração tem...
Por ser um pobre vadio,
Apaixonado por ninguém.

Que na realidade não sei mesmo.
Mesmo por quem...

Blackiezato Ravenspawn

O Bicho Papão

Existia uma abominação de grande pansa,
Conhecida por se esconder na escuridão.
Que eu imaginava quando era criança,
A quem lhe chamavam de bicho papão.

Cresci e nem dei pelo tempo passar,
Que propriamente nem me lembrei de tal.
Dessa besta que me desejava devorar,
E atormentar o meu espírito jovial.

Mas hoje lembrei-me dessa tonta criatura,
Aquela que se escondia debaixo da cama.
De uma forma sinistra, vil e tão obscura,
O meu fim do mundo, o meu trágico drama.

E eu olhei...

Mas não existe tal ridícula tontice,
A não ser os meus chinelos de lona.
Ai meu Deus! Que filha de putice!
Não pode ser! Uma bicha papona?

- Sim, sou eu a suprema prima-dona!
- Que te cantava o terror a noite inteira!
Ai sim? Então cala-te e vai dar a cona
Pois vazia, está a minha carteira...

*

- Oh... Apesar do nosso hiatos, temos que admitir que já andamos nisto à tanto tempo...
E eu acho que já era tempo de levarmos a nossa relação a sério...

Quê? Desta vez vais mesmo me comer?

- Sim.

Então chupa com cuidado ou parto-te os dentes!

*

Porque eu... Eu é que era o meu próprio monstro.
E essa tal entidade, o meu reflexo.

O bicho papão, não passa do meu avatar da perversão.

Blackiezato Ravenspawn

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Chronos E Thanatos

Tu és escravo de um sofrimento
Que faz-te confusão no pensamento
Quando vês os ponteiros em movimento
A cortar-te a vida sem discernimento
E assim lutas cauteloso mais que atento
Para não caíres no esquecimento
Correndo atrás desse sentimento
Até dar-se o fim do teu tempo

Eu digo - Tique-taque, tique-taque
Enquanto o teu coração em sintonia bate
E eu repito - Tique-taque, tique-taque
Esperando paciente pelo cheque-mate...
E quando chegar esse dia e a tua alma se render,
Olhando para trás, em grande sofrimento...
Enquanto sonha com passado, que deseja reviver
A tal vida que foi, outrora um momento...

De novo continuarei - Tique-taque, tique-taque...
E de novo repetirei - Tique-taque, tique-taque...

Dançaste audaz com mestria, embora com atrevimento
Enquanto apostavas essa tua vida a girar na roda da sorte...
Mas agora recebo-te - Bem-vindo! Eu sou o Rei Tempo!
E apresento-te a minha filha - A tua Princesa! A tua Morte!

Tique...
Taque...
Tique...
Taque...
Tique...
Taque...
Tique...

Teque...

Blackiezato Ravenspawn

Visionários

Nós somos... As crianças que nunca crescerão...
As várias estrelas, na interminável escuridão
Quando lançamos as nossas vozes para a monção,
Soando como o relâmpago e o trovão.

E até mesmo os surdos-mudos nos ouvirão,
Como também os invisuais nos avistarão.
Os caminhos que a diante de nos aparecerão,
Onde os paralíticos de novo andarão.

Nos somos... Os mestres do espaço-tempo...
A eterna imortalidade, do volátil momento
Quando estendemos as nossas mãos ao vento,
Removendo a neblina do impossível acontecimento.

E até mesmo os prisioneiros se libertarão,
Como também os perdidos se reencontrarão.
Nos sonhos que os sonhadores imaginarão,
Trazendo novos futuros que o presente mudarão.

Nós somos... A metamorfose das borboletas...
Os longos rastos que deixam os gélidos cometas
Quando caímos em forma de água nos planetas,
Nutrindo a vida de rosas e violetas.

E até mesmo os mártires do oblívio ascenderão,
Como também do sacrifício os seus ideais se estenderão.
Nas espirais mortais que novas existências desencadearão,
Onde ninguém julgava existir redenção.

Nós somos... Os lobos que uivam à Luna...
Os graus de areia que nunca conhecerão dunas
Quando viajamos carregando as maiores fortunas,
Suspirando como coros e tunas.

E até mesmo os lunáticos novas eras trarão,
Como também os grandes sábios iluminarão.
Os pensamentos dos inventores que surgirão,
Dando forma a nós, os visionários...

Que por vós. Passarão...

Blackiezato Ravenspawn

Sorriso Parvo

Quando não existem palavras,
Para expressar o que se sente.
Ou quando a mente nem sabe,
Se está mesmo sã ou demente.
E se está a viver um grande sonho,
E o seu prazer torna-se iminente.
Duvidando com alguma confusão,
Ou especulando apenas, curiosamente.

Quando algo injustificável acontece,
Sem fundamento algum, consciente.
Capturando-nos pela sua elegância,
Ou pelo seu misticismo, simplesmente.
De uma forma talvez misteriosa,
Que acabou de se tornar evidente.
Que nem o corpo nem a alma,
Sabem reagir devidamente...

Ai... Nasce um sorriso parvo

Que partilhamos com quem amamos,
Quando matamos as saudades.
Ou quando também falamos,
Sobre coisas passadas, distantes.
Demasiadamente empolgados,
Não contendo a graça, sorrindo antes.
De algo que se tornou eterno,
Apenas por uns breves instantes,

Tal quando estamos embaraçados,
Nas diversas situações, perante.
Ou quando algo nos satisfaz,
Com emoções voluptuosas, excitantes.
Por vermos desejos realizados,
Tornando-nos infinitamente radiantes.
Como uma criança inocente, regalada,
Pelo brilho de estrelas, cintilantes...

Essa reacção peculiar,
Embora tão familiar,
Íntima! Que se expõe,
Cuidadosa, *murmurando* secretamente...
Passando por triste,
Embora. Tão feliz...
Que nem sabe ao certo,
Se é mesmo isto que quis...
Tornando o mais sério,
No maior dos idiotas.
Como se fosse alvo algum,
De gozos e chacotas.

Esse sorriso tão, mas tão parvo,
Que amolece os olhos das pessoas.
Quando decide roubar uma lágrima
Após vislumbrar passagens. Boas...

:]

Blackiezato Ravenspawn

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Momentum

- Porquê que teve de ser assim?

Porque se a vida fosse só feita de ses,
Tornaria-se extremamente aborrecido.
Não passaríamos de escravos da previsão,
E a maior parte de nós, nem teria nascido

E para quê que nos serviria obter tudo?
Sem pagar um preço, sem algum sacrifício?
Será que conseguíamos dar algum valor?
À coragem mostrada num momento propício?

Será que existiriam os intermináveis porquês?
Que oscilam entre os falhanços e as glórias,
Que são acompanhadas pelo medo e pela excitação
Que nos faz seguir sonhos e contar histórias.

Não! Nem tomar escolhas traria sabedoria,
Nem seriamos humanos, apenas perfeitos bonecos
E é por isso que cada um sobe a torre à sua maneira,
Pois todos os caminhos, são correctos...

Ninguém ganha. Ninguém perde...
Primeiro nascemos. Depois morremos
Num remoinho de caos organizado
Onde lentamente, nos dissolvemos.

E só quando abdicares de toda a existência,
Só aí é que vais entender a razão da tua vida.
Porque nunca lhe interessou por onde foste,
Pois ela sempre viveu dentro de ti, escondida.

Nesses anos que viajaste em experiências,
A flutuar nos confins da tua indecisão.
Até abdicares de tudo e fechares os olhos,
E esta aparecer-te revelada, na tua mão.

Pois a percepção capta e molda a mente
E por si a mente define e analisa o tempo
E quando o tempo distorcer toda percepção.
Dará continuação ao ciclo
Criando e destruindo, um Momentum...

Somos todos engrenagens preciosas
A girar num gigante relógio cósmico.
Que um dia vão acabar oxidadas
E de novo diversamente recicladas
Em novas e evoluídas peças únicas...

Por isso...
Carpe Diem.

Blackiezato Ravenspawn