domingo, 20 de maio de 2012

Do Avesso

Eu sorrio na cara do perigo
E eu choro nos braços do amor
Enquanto romantizo comigo
Porque não existir outro melhor

Eu digo sempre o que não devo
Na realidade sem mesmo saber
E o que devia dizer, nunca tendo
Porque não sem quando o fazer

Eu sou um animal meigo e social
Embora sem algum mero interesse
Parasitado por um homem bestial
Que queria que tudo desaparecesse

Eu sou um jovem sem paixão
Uma criança adulta sem inocência
Um crente-zelote sem devoção
E uma divindade sem omnipotência

Eu sou um peixe que pula e voa
Nos céus imaginários de ilusões
E um pássaro que se afoga á toa
Em mares profundos de maldições

Eu sou quem tem pena do abismo
E quem o veste como uma vaidade
Pois eles acariciam-me com cinismo
E eu escarro-lhes com a verdade

Eu sou quem honra quando insulto
Como quem ofende quando elogio
Sendo demasiado claro para um vulto
E uma chama azul que produz frio

Eu sinto-me porco e sujo em pureza
Que receio quando não existe medo
Porque a miséria é-me uma gentileza
Quando regozijo em grande degredo

Eu adoro malucas e sádicas meninas
Que me assombram com belos clamores
Pois só assim, é que segrego endorfinas
Entre várias gargalhas e imensas dores

Eu gosto de ser enrolado com tabaco
Para vos intoxicar com o meu fulgor
Porque o cabrão do Valor é o Diabo
E o Rozz Williams, o grande senhor

Eu sou um matemático-físico lírico
Um artesão miserável de poesia vazia
Um vírus consciente e deveras empírico
Que evolui e espelha-lhe em melancolia

Eu sou quem faz-se de misógino
Interpretando Romeu para as cabras
Masturbando-me num jeito omino
Para ejacular nelas, cruéis palavras

No fundo sou como o crepúsculo
Que se queda em negros olhares
Uma rosa com tendões e músculos
Que floresce para tu me despetalares

Eu sou quem à noite está acordado
Mas de manhã, eu murcho e adormeço
A sonhar em pé e a reflectir deitado
A viver uma existência, toda do avesso

Ou seja... Eu já não sei por onde vou
Por isso abdico das coisas que mereço
E é navegando à deriva por onde estou
Que me desintegro e assim me esqueço

Do que realmente, eu fui, serei e sou
Na única coisa que não careço...

Blackiezato Ravenspawn

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