domingo, 30 de dezembro de 2012

Momento De Claridade

Sentias-te no zénite deste mundo
E dizias que nada conseguia dar cabo de ti,
Embora já estivesses a delirar num transe profundo
Que já nem parecia que eras daqui!

E foi cantando de peito feito a sofrer,
Que tu disseste ser um dos autênticos reais,
Que não temia o que pudesse acontecer
Enquanto erguias o copo pedindo por mais!

Bebeste tanto, parecendo-te ser tão pouco
Que quando bateste fundo, mal te conseguiste levantar,
E além de beijares o chão, abraçaste um louco
Que te encorajava, pois te queira matar!

Perdeste no meio de luzes e gente
E encontraste-te à deriva, assustado sozinho
Sem saber onde tera deixado a mente
Enquanto eu cantava para ti baixinho

Só espero que acordes a tempo
E que observes bem de verdade,
Que estás a afogar-te no tormento
E este é o teu momento de claridade!

ACORDA! Porque tu....
ESTÁS TODO "DJÓDJÁ"!

Agora vomitas nas margens da cama
Abalado com o sabor da derrota,
Sendo uma vitima da própria trama
Enquanto choras como um triste idiota!

E é a depenar completamente embriagado
Que tu perguntas à vida porque que ela é tão ruim
E eu a consciencia respondo-te de um jeito irado
- POIS FOSTE TU QUE QUISESTE ASSIM!

Porquê que não acordaste a tempo?!
E porquê que não reparaste de verdade?!
Agora tens o estômago em sofrimento
E a tua cabeça cheia de calamidade.

Tu que caíste na boca desse abismo
E chegaste as malditas estranhas do inferno,
Só espero que tenha valido a pena esse alcoolismo
E que tenhas encontrado, alguém fraterno!

Blackiezato Ravenspawn

Príncipe Phantasma

Ele trancou-se no seu trágico castelo
E fez-se prisioneiro na sua torre arcana
Por ser demasiado peculiar e tão belo
E por não se dar bem com a raça humana
E é na cela do seu enorme constrangimento
Que ele espera por uma brava Heroína
Para derrotar o dragão do aborrecimento
Com a sua perseverança e graça pristina

Mas nos dias de hoje essas famosas heroínas
Acham isso "desinteressante", deveras foleiro
Pois deixaram-se corromper pelo poder da ruína
Que lhes leva a estragar vidas e a pilhar dinheiro
E é sereno que o vejo olhar da sua janela
Para as estrelas, questionando à grande Luna
Quando é que vira no fundo aquela jóia bela
Que será o seu tesouro, a sua maior fortuna

E a Luna suspira com ecos que vêem do além
Enquanto escuta os seus desabafos dramáticos
Porque todos nós sabemos muito bem
Que ela é a mãe de todos os lunáticos
E que assim ele nos seus braços cresceu
Nutrido pelos seus carinhosos contos maternais
Embora agora se veja cercado por míseras plebeus
Quando lhe fora prometido donzelas reais

E é ressentida com a ilusão que deu forma
Que ela inspira melancólica a celeste atmosfera
Levando as ondas comportarem-se fora da norma
A prepararem-se no mar, para mais uma guerra
Enquanto os lobos uivam já sedentos para o combate
E as estátuas ganham vida, tornando-se pasmas
E finalmente os corvos descendem para o ataque
Aos dilemas emocionais do Príncipe Phantasma.

Tudo dentro de quatro paredes
Tudo dentro de uma cabeça.

Blackiezato Ravenspawn

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Monstro

A miséria abdicou da vossa companhia
Que nem mesmo a dama solidão, vos quer
Pois vós sois um ser tão vil, que até agonia
Não queria nada de todo ser vossa mulher

E até dizem que as sombras fogem de vós
E que nem o vento vos fala, nem dá um pio
Quando a vossa malvadez vem até nós
Sempre sombrio, sombrio, sombrio

Também ouvi falar que o ódio suspira por si
Quando vós torturais a dor com unhas e dentes
Como quanto te reúnes com as bestas daqui
És o caos e eles meros dementes

E ainda há quem diga com pouca coragem
À socapa sussurrando, com um tom fininho
Que as trevas masturbam-se em tua homenagem
E que quando regozijam, gemem o teu nome baixinho

Mas eu sou só um espelho, Monstro
Agora só te cabe a ti acreditar ou não.

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 9 de dezembro de 2012

Noctívago

Percorres pelas noites mais que liberto
Como um cavalo selvagem, numa pradaria
Em busca daquele local certo
Para fechares mais um dia

E enquanto isso desfolhas paisagens
Como fossem fábulas, histórias e contos
Capturando sons, fragrâncias e imagens
Que descobres nos finais de cada ponto

Porque tu fazes parte da ordem lunar
E serves a noite na tua cidadela
Quando dou por ti sereno a observar
Como um andarilho, sentinela...

E o teu bafo quente contraria o agreste frio
E os vultos mostram-te os seus abrigos
Enquanto a tenebrosidade se esconde no vazio (não dá um pio)
Pois ela tem medo, sente o perigo

De ti que a varres com essa gabardina
Com enorme graça, como imenso fulgor
Mantendo sempre atento a tua retina
Pronto a fazer mirada, como um caçador

Tu que fazes da insónia a tua parceira
Nesta silenciosa e obscura hora
Ela que é paranóica e zela pela tua traseira
Mantendo-te acordado, pela noite fora

Para ambos decifrarem os diversos mistérios
Dessa forma mística que mais vos eleva
Quando a adrenalina tira-vos do sério
E leva-vos a correr para o coração das trevas

E é assim vigiando o sono dos sonhadores
Além das nuvens, como um nubívago
Que tu fazes chover a magia, pelos arredores
Enquanto viajas, como um noctívago

Tu que inspiras a noite intensamente
E que em sua homenagem, cantas-te lhe uma canção
Enquanto expeles o fumo, poeticamente
Desses cigarros que fazem buracos, na escuridão

Tu... Que no crepúsculo te ergueste
E que agora na alvorada deitaste em paz,
Coberto com os poemas que hoje escreveste
Deixando o dia de ontem, para trás...

"A Grande Prateada Mãe Luna
Diz que sou um dos seus filhos
Enquanto as sombras nocturnas
Galam com volúpia o meu brilho
Como estas veredas esquecidas
Que clamam por mim, o andarilho
Para que lhes faça sentir comovidas
E fecunde nelas, enigmáticos trilhos.

Penetrando na densidade oculta que só um noctívago consegue atravessar."

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 8 de dezembro de 2012

Solidão V

Solidão... Ó Solidão...
Vem comigo e dá-me a tua mão...
Solidão... Ó Solidão...
Eu oferto-te o meu coração

Vem até mim, pois eu quero te beijar
Por isso segue-me e vamos os dois dançar
Entre veredas e casas abandonadas
Que pelo passar do tempo são encantadas

Solidão... Ó Solidão...
Vem comigo e dá-me a tua mão...
Solidão... Ó Solidão...
Eu oferto-te o meu coração

Vem e entra no meu trono, ó princesa
Que eu decorei com o diverso cinzento
Para te comover, ó éterea realeza
Da minha emoção, do meu pensamento

Solidão... Ó Solidão...
Vem comigo e dá-me a tua mão...
Solidão... Ó Solidão...
Eu oferto-te o meu coração

Abraça-me juntamente com estas teias
E sopra comigo, todo este pó
Para que se entranhe nas minhas veias
De mim, que estou tão só

Solidão... Ó Solidão...
Vem comigo e dá-me a tua mão...
Solidão... Ó Solidão...
Eu oferto-te o meu coração

Sussurra-me com cantos silenciosos
De uma forma tão solene e tão calma
Tocando-me com os gestos mais misteriosos
Bem dentro de mim, na minha alma.

Blackiezato Ravenspawn

Espelho Meu

"Espelho meu, caro espelho meu
Diz-me lá na verdade, quem sou eu..."

Quem és tu?! Ou quem somos nós?!
Ou já não te lembras da tua outra voz?
Aquela bem sinistra e deveras oculta
De mim, a tua elegante e astuta tulpa
Aquela que tu tendes a esconder dos demais
Juntamente com os teus mistérios surreais
Eu! O portador dos teus mil e um segredos
Como aquele que te espanta de todos os medos
Eu! O teu cúmplice e o teu leal parelha
Que atentamente te observa e te espelha
Aí nos recantos dos teus olhos castanhos
Onde nós conjuramos os planos mais estranhos
Para cumprirmos a nossa obscura agenda
De uma forma fantasmagórica, quasi lenda...

Espelho meu, caro espelho meu
Cambaleaste até mim e perguntaste tu
De cabisbaixo como um plebeu
Apresentando-se sêco, embora cru...

Quem sou eu?! Eu sou um de nós dois!
A outra metade do que tanto vós sois.

Sou agressivo, enquanto tu és calmo
Sou a tua maldição e tu o meu salmo
Sou a tua escória e tu a minha elite
Sou o teu papiro e tu a minha grafite
Sou o aquilo que tu renuncias em ser
Aquele que segue para onde tens que ir
Como sou o único em que tu mais podes crer
E claro, o único que tu não consegues mentir
Pois eu sou o teu anfitrião e o teu maior parasita
Uma imagem em movimento que te imita
Que te aconselha e que também te recita
A realidade que por outra boca, nunca será dita

Por isso amo meu, caro amo meu...
Diz-me lá, o que te deu...

Porque não metes de lado essa timidez!
E porque não me olhas, nem me sorris?!
Confessa-me lá, o que foi desta vez
Diz-me lá, quem te deixou tão infeliz...
Porque me rejeitas?! Porque me ignoras?!
Se não queres falar! Então, vai-te embora!
Não venhas com desculpas, sê ruim!
Porque se sentires raiva, ela morrerá aqui
Mas caso sentires nojo, sai de junto de mim!
Pois pena será algo, que jamais sentirei por ti!

Mas... Mas parece que vós não quereis
Preferirdes a companhia deambulante social
Da mesma que vós tanto vos farteis
E os olhardes de lado com um tédio abismal
Só não percebo essa vossa confusão
E esse vosso conformismo em girar em ciclos
Tu! que abominas a rotina até à exaustão
Até ela dar-te cabo dos teus ventrículos.
Se é assim, então porque te ausentas sempre trágico
E voltas para mim apático e tão irado?!
Vítima de decepções e vazios esporádicos
Por quanto chegas aqui, chegas ainda mais frustrado!
É... Depois ficas assim e não me respondes
Ficando impávido e sereno a vislumbrar
Como fosses o mais chique dos duques e condes
À espera que te venham a mão beijar
Achando-te bom de nariz empinado
Seu tonto, seu egocêntrico narcisista
Sem destino e sem um rumo traçado
Como um desleixado que se julga ser niilista.

Lembra-te que quanto mais te chateares
Mais invocarás o teu desconsolo
E que quanto mais me odiares
Mais eu assumirei o teu controlo
E que se fores cobarde e me traíres
Aviso-te que já que irás mesmo sofrer
E não importa o quanto fugires
Pois no final, sem que te irás render
Por isso ama-me mais que os restantes
Aceita-me e dividi-te comigo!
Todos esses desejos cintilantes
Meu aliado, meu arqui-inimigo!
Eu que sou o teu único decente rival
O único que sabe o teu verdadeiro valor
Pois a nossa ligação é bem mutual
Seja no nosso amor, seja na nossa rancor
Por isso vem a mim e façamos um duelo
Pois seu sou o único... Digno do teu elo...

Eu... O teu fiel cão
E tu o meu gentil dono
Cujo eu sirvo como um guardião
Como uma gárgula que vigia o seu sono
Enquanto tu, meu senhor
Admiras o brilho da lua bela
Sendo o meu querido sonhador
E eu teu silencioso, sentinela...

Por isso levanta o queixo, meu caro amo
Para que eu te consiga ver melhor
E olha para mim, pois eu te clamo
Minha nossa excelência, meu prior.

Tu que com pensamentos moldaste o meu corpo
E com emoções alimentaste a minha vida
Que apesar de ser uma mentira e eu estar morto
Sou-te a experiência mais sentida
E é por isso que vestes a escuridão
Para tingir todo o teu possível dor
Quase num jeito em obsessão
Embora no interior tenhas toda a cor
Cor essa que nem sempre me dás.
Cor essa que nunca te darão
Pois se quiseres encontrar o equilíbrio e a paz
Será só na minha palma, meu irmão.

E não será noutro corpo nu
Sabes porquê? Pergunta-te este espelho teu?
Sabes... Porque eu sou completamente tu
Como tu és infinitamente meu!

Porque esta camada que nos separa
Trata-se apenas de uma ilusão!
Pois temos os dois a mesma cara
E partilhamos o mesmo coração!
E sem mim vês-te sempre preso
No quotidiano da realidade!
Quando me deixas surpreso
E imploras pela minha insanidade!
Não é? Eu dou-te a perseverança
Tu dás-me um pouco da tua vida!
Eu faço-te rir como uma criança!
Como te lambo todas as feridas!
Amo meu, caro amo meu
Será que existe no fundo mesmo alguém
Tão conhecedor de vós melhor que eu?
Sim! Chama-se Ninguém!
Eu, este teu mágico e trágico espelho
Que tu acaricias com lábios vermelhos!
Eu, a tua divina bênção, a tua tumultuosa cruz
Como a reflexão da tua enorme luz
Que debaixo dos teus pés assim se encontra
Tomando a aparência de uma companheira sombra!

Mas sabes que mais, meu querido...
Que apesar de estarmos divididos por este vidro
Estamos ligados por uma corrente
Que nos une para além da etérea vertente...
Por isso não importa as vezes que te ausentares,
Pois eu estarei sempre bem dentro da tua mente
Que por quanto mais assim me contrariares
Mais rápido enlouqueceras, eventualmente
Por isso descarta esse ridículo desassossego
E quebra a tua sanidade!
Liberta-me eu, o teu alter ego
E contempla a nossa vaidade!

*Cling-cling*

"Agora que os cacos estão fragmentados no chão
A nossa beleza ganha a verdadeira dimensão.
Enquanto o sangue corre pelos teus dedos
E limpa da tua pele todos os teus degredos.
E sem dares por ti, encontras-te encantado
Pelo vazio que existe pr'além desta moldura
Onde tu vislumbras o infinito, calado
A mirar a minha silhueta, a tua figura."

Bem vindo ao espelho Mestre...

"As feridas já sararam e ele continua vidrado naquele lugar a falar sozinho, como se estivesse acompanhado por meio mundo."

Blackiezato Ravenspawn.