domingo, 17 de junho de 2012

Solidão III

Ó homem estranho, ó descendente da lua
Tu que andas perdido algures nessa rua
E que prossegues em frente, sem intenções de parar
Mesmo que não haja motivos, para continuar

Anda cá então...
Anda cá então...Anda cá então
Ter com a tua amada solidão

Tu que foste com a esperança d'algo encontrar
Embora não chegaste mesmo assim a alcançar
Mas será no vazio, dessa tua cama solitária
Que encontrarás o conforto de uma dama precária

Por isso deita-te então...
Deita-te então... Deita-te lá então
Nos braços da querida solidão

Para que possas sonhar tanto
No silêncio da minha canção
Passando uma noite em branco
Depois de um dia de frustração

Mas lembra-te meu pequenino
Não te esqueças meu coração
Que eu nunca te deixarei sozinho
Pois eu a tua amiga solidão

Por isso respira fundo...
Respira fundo... Respira lá fundo
E esquece lá esse mundo

E é assimilando essa magoa tua
No nosso secretismo, na escuridão
Que tu me dás a tua pele cinzenta nua
Ás mãos remediantes da solidão

Duas décadas de solidão
E mais duas décadas, assim virão
Não por falta de atenção
Mas sim por falta de compreensão.

Por isso brilha lá então...
Brilha lá então... Brilha lá então
Jóia prateada... Para a tua amada Solidão.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

As Quatro Cavaleiras Do Apocalipse

Quebram-se os grandes portões
Perante a última negra revelação
Em nome de todas as predições
Surgem as vozes da destruição!
E assim dá-se o despertar dos selos
Das profetas, as mãos do Apocalipse
Que vos arrastaram pelos cabelos
Para dentro do entrópico eclipse!

Primeiro Selo - A Conquista

Os céus rugem, a terra estremece - vem a conquista,
Nascente do relâmpago, montada em cavalo branco.
Com arco em punho - eis a primeira decadentista
Que veio subjugar o que a humanidade desejava tanto.

As linhas são invadidas, as suas hordas avançam
Os homens choram e os seus sonhos ardem.
A dama de ferro é coroada e os ventos cantam,
Quando as fronteiras e as suas cidades caem!

Segundo Selo - A Guerra

Água torna-se em sangue e a chuva em chamas
E lá vem ela cavalgando, pintada de encarnado.
Eis a Guerra - a senhora das espadas, o drama
Que faz da paz e esperança, coisa do passado.

E possessos em frenesim, os povos lutam entre si,
A malícia cresce e a segunda decadência emerge.
Transformando todas as sociedades numa barbárie,
Aniquilando tudo que a pouco e pouco se perde.

Terceiro Selo - A Fome

As trevas caiem e dá-se o cavalgar da grande terceira,
Que traz as balanças para cobrar todas as dívidas.
E montar o seu maior negócio de toda a sua carreira,
Discursando em preto para todas as criaturas lívidas.

"Exijo um quarto de trigo por um dia do vosso salário
E mais três quartos de cevada para vosso desconforto.
Não danifiquem o azeite, nem o vinho, seus ordinários
E quem não pagar o que deve, pagará com o corpo!"

Quarto Selo - A Morte

E é no final que vem a rainha das donzelas espectrais,
Cavalgando para colher o restante quarto da humanidade.
Usando a sua ceifa, a pestilência e as criaturas abismais,
Mais o suporte do seu pálido cordel e do seu servo Hades.

E o câncer e a lepra espalham-se como as más notícias
E as pessoas vão caindo uma a uma, em dominó!
Até que a resignação tome as últimas resistentes milícias
E transforme tudo o que outrora foi vida, em pó!

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 9 de junho de 2012

Espiral Descendente - Spirit Fly Catcher

Como se atrevem a entrar nos meus salões,
Para vir destronar, eu, o príncipe do pináculo?!
Vieram alimentar-se das minhas lamentações,
Ou vieram antes para assistir o meu espectáculo?

Aviso já a todos aqueles que me querem capturar,
Que terão de dar as vossas essências ao manifesto.
Pois não existe outra maneira de assim conquistar
O homem que pela sua irrealidade foi infesto.

Eu, que sou o isco plantado no pilar da obscuridade,
Uma armadilha sinistra cuidadosamente plantada.
Que atrai os espectros pregadores da mortalidade,
Para terminar de vez, as suas existências flageladas.

E olha para os teus vassalos, querida depressão,
Como eu os arrasto para o meu subconsciente.
Fazendo dos teus planos, a tua maior decepção,
Enquanto os desintegro numa espiral descendente.

E onde estás tu dona?! Eu exijo mais e mais comida!
E porque foges de mim, quando me prometeste agonia?
Vais abandonar os teus peões dentro de mim à deriva,
Do meu ego, até serem consumidos pela entropia?

Devias saber bem que eu sou viciado em grande dor,
E devias ter mais cautela aqui no meu local de lazer.
Porque quanto mais me fizeres sofrer e causares rancor,
Mais fome me dás e mais aumentarás o meu poder.

So come forth, spectral flies of doom
Bite me up, like nothing mattered
Because all of you will be consumed
In the gorge of the spirit fly catcher.


Blackiezato Ravenspawn

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Dessagrando A Bandeira

Uma leprosa incurável decadência
Assola esta velha paraplégica nação
Que se alimenta de fracas experiências
Sentidas nas touradas e na religião
E é assim que o povo busca conforto
Nas tumbas das glórias do passado
Há espera que regresse o príncipe morto
Que resgatará este país flagelado
Agora preso em teias de fracassos
Responsáveis por usurpadores e tiranos
A neblina cai, o futuro está baço
Aqui neste império fantasma, uma vez soberano

E a ignorância espalha-se como uma doença
Nos centros das praças como nas televisões
Pelos necromantes que reforçam a mesma crença
Com as suas mentiras e as suas ilusões
Num teatro de contínua miseribilidade
Que converte néofitos para um culto
Chamam-lhe património da humanidade
Eu chamo-lhe patético e lamentável vulto
Todos falsos profetas, todos ídolos inúteis
Vendem-se amassando o pão do diabo
Para nos servir nos vossos dias úteis
Em troca dos vossos cobardes rabos

E é por isso que não sinto mais empatia
Pelo que simboliza esta rasgada bandeira
Porque só nos momentos de feitiçaria
É que se vê um povo a sair à maneira
E é enrolado em sarcasmo e em eufemismo
Que eu vislumbro e pergunto ao sol
- O que é feito deste grande patriotismo
Quando acaba o futebol?

E é por isso que eu dessagro esta bandeira
Com o meu sémen e com as minhas fezes
E é por isso que eu dessagro esta bandeira
Com o meu sémen e com as minhas fezes!

...

Ó lustro mar lusitano nosso!
Tu que nos desvendaste outrora a glória
Só tu consegues reencher este poço
Da seca dos constrangimentos da nossa história
E é tributando-te ao sabor do vendo
Que eu ofereço a minha alma repleta em sal
Tirai-nos desde constante sofrimento
E rejuvenesce este idoso portugal
Com as tuas ondas, com as suas mortes
Extingue estas negras chamas que ofuscam mentes
Porque este sangue já deixou de ser forte
Por isso cria um novo, para os inocentes.

...

Com as que queimo aqueço o meu coração
Com as restantes, uso-as para a costura
Rasgando-as e depois recozendo em frustração
Eu faço cuecas para mim, em pura loucura.

Porque invés de me intoxicar com a voz do Cavaco
Prefiro servir Baco e envenenar-me com tabaco barato.

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 3 de junho de 2012

Mestre Artesão De Rimas

Tu és o magnífico mestre artesão de rimas
Um perfeccionista repleto de sublime graça
Aquele espadachim que é um guru da esgrima
Que baila no papel, enquanto o tempo passa
Tu que dominas o momento além da realidade
Como o faz uma borboleta monarca, elegante
Quando te soltas das teias da gravidade
A partir da magia dessa tua caneta cintilante
Tu que produzes noites e dias sem cessar
Todos os dias da semana, ao teu belo prazer
Trazendo do vazio algo para se contemplar
Com essa tua exímia arte de tão bem escrever
Fazendo de ti um criador de multi-universos
Quando fazes das tuas palavras, marionetas
Sendo aquele poeta que brinca com versos
Tal e qual uma menina, brinca com bonecas

Blackiezato Ravenspawn

"Só Mais Um Chuto"

Ele é tão viciado! Completamente
Que ninguém o consegue parar
Pois ele só tem um desejo na mente
Que se resume apenas, em chutar

E ainda pequeno, já chuta na escola
Preparando o caldo, sem uma colher
Mas é agarrado e nunca passa bola
Pois é tudo dele, venha quem quiser.

E é a chutar sempre em demasia
Para fugir da rotina do quotidiano
Que ele encontra a sua maior alegria
Chutando todos os dia como um insano.

Até à auxiliar confrontar a sua negação
Quando me vê e chama pelo meu puto
Dizendo - anda lá, Pedro, olha o teu irmão
Que ele nos responde - Só mais um chuto!

E apesar de novo,  já é considerado rei dos "recos"
Porque finta os outros, como se fossem bonecos.

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 2 de junho de 2012

Impulsos Genéticos

Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta.

Quando oiço esta batida
Fico completamente louco
Pois é como a minha vida
Vale-se no fundo, tão pouco!

Eu tenho que me desenvolver
Pois a minha existência chora
Sinto que devo me assim mexer
Acho que chegou a minha hora!

Pois eu sinto os meus genes
Eles estão sedentos para marchar
Quando tocam estas sirenes
Anunciando a altura de procriar!

É o meu instinto animal
É um desejo que branda
É um cio bélico tão letal
Que ruge e me comanda!

Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta.

Eu quero conquistar ventres
Eu quero encher meninas
Eu quero viver para sempre
Eu tenho de subjugar vaginas!

Eu tenho o Tesla nas minhas gónadas
Pois eu sinto-me repleto de electricidade
Que fortalece estas tribos nómadas
Eu sou o Ghenghis Khan da modernidade!

O meu corpo é engenheira Alemã
Calibrada, funcionando perfeitamente
Por isso fujam, minhas ricas irmãs
Pois estão na mira da minha mente!

Achtung! Meus espermatozóides!
Infiltrai-vos nos óvulos que persistem
Sieg Heil! Meus caros bio-andróides!
Nadai, dividem-vos e conquistem!

Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta.

Pois eu sinto a necessidade de lutar
Eu sinto a necessidade de produzir
Eu sinto a necessidade de copular
Eu sinto a necessidade de expandir!

Eins, zwei, drei, vier!
Avante em frente, é altura de partir!
fünf, sechs, sieben, acht!
Blitzkrieg! É altura de combate!

De um corpo que deseja montar o cerco
Ao som dos seus tambores aritméticos
Pois o instinto triunfa, a razão eu perco
Perante os meus impulsos genéticos!

E o meu pénis levanta-se em glória
Em nome da fisionomia do género macho
Que passará o meu legado pela história
Porque se eu não o passar, eu racho!


Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta,
Pe ta-ta-ta ta, Pe ta-ta-ta ta.

E sou apagado da piscina genética.
Para sempre...

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Morte Bonita

Outrora foste uma estrela vistosa
E a mais sublime das redondezas
Pois eras tão poderosa e grandiosa
Que nem davas espaço para incertezas

Eras o célebre motor de toda a vida
Uma Semi-Deusa de luminosidade
O coração de uma galáxia comovida
Que nutria um corpo de majestosidade

Tu que encandeavas a luz das tuas irmãs
Com a tua vaidade, com esse teu brilho
Para seres venerada todas as manhãs
Como uma doce mãe, é pelos seus filhos

Sendo uma chama virtuosa nesta escuridão
E um ponto de referencia neste mar cósmico
Pois toda a graça era criada pela tua mão
Devido ao teu poder ardente astronómico

Até ao dia da tua negra metamorfose
Quando mostraste as tuas intenções
Deslumbrando-te no preto com tal pose
Impondo assim o fim, das equações

Porque a tua existência custava energia
E tu sabias bem desse teu contracto
E agora só te restava servir a entropia
Para teres a chance de representar mais acto

Agora com uma rosa que se tornou insana
E que tinha um tremendo medo de murchar
Pois queria ser para sempre a mais soberana
E que fez tudo o que tivesse para continuar

E julgando isso ser para todos o melhor
Tu juntaste para sempre, fracos e fortes
Para a última valsa espacial ao teu redor
Em homenagem a ti, à estrela da morte

E foi tornando-te nesse buraco negro
Que tu tiveste protagonismo nesta fita
Destruindo a radiança e o desassossego
Eternamente, numa morte bonita

Equilibrando a balança do bem e do mal
Misturando todas as cores do caleidoscópio
Despertando a curiosidade, um enigma final
No olho que se encontrava atrás do telescópio.

"Será a morte o começo de algo?"

Blackiezato Ravenspawn

"Ai Os Meus Sentimentos"

Vivem existências mais que razoáveis
Que a maioria nem tem um propósito real
Tornando-se em pessoas nada prestáveis
Sendo cópias inúteis nesta era pré-digital

Tendendo a ter mais do que necessitam
E mesmo assim desejam o que não há
Acabando dominados pelo que pesquisam
Sem saber no fundo o que lhes traz cá

São pseudo-filósofos, são falsos poetas
Que se orientam por contos orquestrados
São almas dúbias que se acham correctas
Apesar de sonharem de olhos vendados

Criaturas que armazenam materiais em cofres
Ignorando o que não lhes gera rendimentos
Vocês são egoístas! O mundo também sofre
Por isso que se fodam os vossos sentimentos

E que se fodam também as vossas vidas
Pois não me comovem, fazem-me vomitar!
Vocês personagens, tão mal desenvolvidas
Que tanto insistem e teimam em representar!

Blackiezato Ravenspawn