sexta-feira, 31 de maio de 2013

Retórica

Ilumina dignos
Ilude parvos
Ofusca malignos
E inspira bardos

Esconde tramas
E tapa buracos
Encanta damas
Como safa rabos

Morde amorosa
E incita rigor
Dançando graciosa
Para quem, cria humor

Castiga hipócritas
E detecta patetas
Solucionando incógnitas
Ao regatear forretas

Uma criatura d'aço frio
Uma duelista teórica
Que maneja um florete esguio
Para fazer esgrima Retórica

Blackiezato Ravenspawn

Poesia Decadente

Dizem que a arte é o reflexo da sociedade
E que os olhos são espelho da alma
Que o meu futuro encontra-se de verdade
Algures nos traços da minha palma

Mas na minha poesia decadente
Não está em rotas, nem nos trilhos
Pois ela fanática imola-se crente
Iludida pelo clarão de um rastilho

E assim cada verso órfão foragido
Procura desesperado um lar
Um dócil e generoso ouvido
Onde nele se possa refugiar

Mas infelizmente estes cantos meus
Acabam por depenar em ruínas
Em busca de um omnipotente Deus
Que não encontram nas minhas rimas

E como vadios rasgados e desalmados
Os restantes caminham, sem esperança
Até acabarem destroçados e condenados
Tal e qual os sonhos de uma criança

E a maior parte deles enjaulados são
Em celas de quatro paredes líricas
Subjugados por uma suprema razão
Que os rotula como criaturas míticas

Pequenas essas histórias tontas
Que são fatiadas na língua as tiras
Tal e qual essas fábulas que tu contas
Para encobrir todas as tuas mentiras

E é escutando o latido de todas elas
Nos mausoléus da minha melancolia
Que elas erguem fieis uma pequena vela
Para mim o poeta, o seu grande Messias

Eu que deverás lhes devo
Embora não as mereça ter
E é por isso que as escrevo
Para assim podê-las esquecer

Essas donzelas, palavras sozinhas
Que nunca serão elogiadas ao luar
Por não encontrarem alguém no final das linhas
Que tenha o poder para as amar

E é acabando esquecidas e perdidas
Como soldados da vanguarda
Que são vistas como incompreendidas
Por vestir a miséria como uma farda

Porque a minha cabeça é um círculo do inferno
E lá, elas são devoradas por tenebrosos cães
Comandados pelo seu diabólico lorde paterno
Eu, o criador de bastardos, filhos da mãe

Tu se quisesses, até podias tê-las salvo
Mas estavas inconsciente e ocupado...
A vislumbrar a merda que tu julgas valer algo
E é graças a ti, que eu me sinto menos culpado

E é enquanto a poesia entra em decadência
Que eu abuso delas perverso e sem afinco
Para contrariar esta ridícula experiência
Que tu chamas arte... E eu de limbo...

É pelo cruel arrastar desta caneta
Que a minha frustração, eu assassino
Quando nas lições da vida, eu faço gazeta
Para brincar inocente, como um menino...

Blackiezato Ravenspawn

Poço Abismal

Uma exótica e ousada fragrância
Voltou-me a trazer aos portões do inferno
Aqueles que eu desconhecia na minha infância
Quando o meu coração ainda era terno

E foi com cautela dando o primeiro passo
Que foi recebido na obscura entrada
Com um estranho laço, vil cínico abraço
Debaixo da fachada com uma dentada

No covil das harpias e das malditas megeras
Das sucumbis-vampiras e das tenebrosas bruxas
Que criam bestas cruéis e horrendas quimeras
Com veneno misturado com flores murchas

E acabei por me diluir nesse poço abismal
Naquele que só entra quem é convidado e quem mesmo quer
No maldito antro nefasto de puro ódio infernal
Onde o diabo mostra-se em forma de mulher

E enchi com o meu ego o seu cálice do pecado
Até o sumo da vida escorrer-lhe pelos dedos
Penetrando num saco de carne roto e degenerado
Para colher um miserável entulho de segredos

E olhei para o céu como vislumbram os judeus
Com cobiça nos olhos num jeito dramático
Mas não vi estrela de David nem mesmo Deus
Apenas uma tenebrosa boneca de plástico

Daquelas que eu no passado adorava brincar
Agora esquecidas nos meus baús da nostalgia
Mas esta não cheguei mesmo por decapitar
Talvez porque esta sorria... De uma forma sombria

Como uma marioneta sem vida nas mãos de uma corrente torturante de uma constante penitência sexual, enquanto baila ao som dissonante de uma agonia com uma cadência... Abismal.

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 18 de maio de 2013

Nem Sei Ao Que Chamar A Isto

Olhas-me de esguelha
Mas finges-te de desinteressada
Coças a orelha
Um bocado atrapalhada
Cerras os olhos
E danças em adágio
A coçar os entrefolhos
Enquanto mordes o lábio

E eu viro as costas
Lentamente para ti
Para ver se gostas mesmo
De andar atrás de mim
E tu avanças sorrateira
Sem hesitar em se encostar
Inocente à minha beira
Com pretextos para dançar

Mas eu deixo-te para trás
Só para aumentar o suspense
Elegante, hábil e audaz
Sem ter dar alguma chance
E o teu coração para
E o teu peito congela
E com lágrimas na cara
Ressente-se uma donzela

Que me deseja obter
Sem vergonha, totalmente
Enquanto implora por prazer
E ouve gritar na sua mente

"Ai, seu desgraçado
Se eu pudesse
Nem sabes o que eu te faria
Esgalhava-te esse nabo
Ó minha rica alegria
Da forma que mais te apetece
Roçando o meu rabo
No teu pénis ousado
Bem longo e tão largo"

"Seria a tua princesa
E faríamos uma grande festa
E com toda a absoluta certeza
Que queria o teu sémen na minha testa
Por isso fode-me cabrão
Vem! Não fugas de mim
Pois eu quero-te Pavão
Que me fodas sem fim"

Então se me desejas obter
Como nunca desejaste alguém
Deixa-te vir sem querer
Morde o meu isco e vem

Bebes libido como se fosse água
E cantas como uma harpa
Gemes angustiada com tal mágoa
Tu ó mística mulher-carpa
Encanta-me lá, então ó sereia
Causa-me o maior drama
Com esses seios teus de areia
No teu rochedo, na minha cama

Inala-me como inalas o mar
Lambe-me como lambes as algas
Diz-me como desejas levar
Nessas sedentas e famintas nalgas
Mostra-me a tua caverna subterrânea
O tesouro que existe em de ti
Para que por uma fracção momentânea
Possamos ambos orgasmar em frenesim

E que possamos também submergir esta vontade
Nos nossos corpos em esquecimento
Juntando as nossas mentes na verdade
Por um, simples, breve momento...

Enquanto as nossas almas se lambem em euforia
E o cosmos se recria em harmonia.

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Melchior Montenegro II

Universo em ruptura
Maldição benigna
Virtude obscura
Sofredor sem estigma

Adaga fálica
Fogo sem fumo
Solução problemática
Navegador sem rumo

Pássaro submerso
Enigmática traça
Casúlo controverso
Palhaço sem graça

Sedoso mel
Brilhante ramela
Judas fiel
Cão sem trela

Ambivalência paradoxal
Porcelana de arremesso
Tesouro banal
Preciosidade sem preço

Modéstia arrogante
Orvalho na giesta
Gelo flamejante
Errante mente-mestra

Artista caótico
Silêncio no megafóne
Saudável narcótico
Hades sem Persephone

Tacanhez extensa
Amargo cacau
Transparência densa
Quase negro, Eisengrau

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 5 de maio de 2013

Necro-Dueto

A morte compõe partituras
Para o seu sinistro pianista
Juntando sons e criaturas
Num frenesim vil e terrorista

E ele dá vida às suas baladas
Notas que dão cabo de mim
Tocando em teclas aguçadas
Feitas de ébano e de marfim

E a minha voz vem por atrás
Arrastando tudo como o vento
Pois é decadente e bem capaz
De causar agouro e sofrimento

E é entoando um crime discreto
Numa suavidade cheia de solidez
Que nós, o sublime, necro-dueto
Interpretamos para ti, só uma vez...

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 4 de maio de 2013

Dois Minutos E Quarenta Segundos

Oh meu Deus! Eu estava lá a voar
Fora de mim completamente à toa!
Sem saber como deveria categorizar
Se a sensação era má ou mesmo boa.

Dois minutos e quarenta segundos passaram
Mas eu nem soube o que haveria de escrever!
Sobre as coisas que os meus olhos avistaram
Como das mensagens que não consegui entender!

Mas agora a euforia corre-me nas veias
E os pensamentos fundem-se com emoções!
Revelando-me catarses e odisseias
Que lá passei nas outras dimensões!

Dissociei-me por momentos da realidade
Evaporei e condensei como o orvalho!
E dei por mim, no auge de toda a santidade
Fodasse, Salvia! Tu és do caralho!

Blackiezato Ravenspawn

O Rei Dos Reis

Eu faço os homens traírem os seus amigos,
Perderem a moral e investirem nos meus favores.
Trocando a humanidade por míseros artigos,
Tentados pela cobiça, promovo-os a traidores.

Porque o sentido da vida sou apenas eu,
Aquele que se esconde em papel cartomante.
Sendo mais poderoso que qualquer outro Deus
Titã, Diabo ou até mesmo gigante.

Porque enquanto existir ganância,
Eu estarei aqui para vos manipular.
Aumentando entre vós a vossa distancia.
Levando irmãos e primos a guerrear.

Porque eu sou o rei de todos os reis,
Quem dá-vos um preço e tira-vos o valor.
Sendo aquele que vós tanto imploreis,
Por uma migalha do meu nefasto amor.

Eu, a única e absoluta viva divindade,
Que corrompe os olhos dos demais
E que viverá para sempre na eternidade,
Enquanto for louvado por reles mortais

Por isso ajoelhai-vos, meus cães
Para contemplarem, eu, o vosso rei!
Seus plebeus, seus zé-ningués
Aquele que impera o globo e dita a lei.

Blackiezato Ravenspawn

Melchior Montenegro

Um nobre infante gaiato
Um reles velhaco honesto
Encantadoramente chato
Embora sinistro e funesto

Um romancista descrente
Um cão vadio de valor
Misterioso e transparente
Sem cheiro e sem sabor

Um carocho visionário
Um génio-filosofo niilista
Um escritor sem salário
Afamado de antagonista

Metade real, metade mito
Como um lorde crepuscular
Horrivelmente sublime e bonito
Mas sem um par, para dançar

Um explorador desnorteado
Um prisioneiro fora da cela
Um fantasma sem passado
E um cavaleiro sem donzela

Um satélite sem um planeta
Uma vasta nébula encarnada
Num recipiente sem etiqueta
Para uma alcoólatra requintada

Uma harmonia dissonante
Um voluptuoso desassossego
Em forma de um vulto brilhante
Ele, o Melchior Montenegro

Um plot twist subito e nada clichê
E também um inocente fora da lei
Mas não me perguntes ao certo porquê
Porque nem eu, mesmo sei...

Blackiezato Ravenspawn

Crepúsculo Em Santa Margarida

Viajam nuvens rosas
Neste horizonte ciano
Cuja uma brisa airosa
Dita um tempo arcano

Dá-se um transe visual
Eis o interlúdio nocturno
De um espectáculo teatral
Que fecha o acto diurno

Soando notas cromáticas
Movendo silhuetas polimorfas
À volta de luzes enigmáticas
Nativas de ruas mortas

E assim o dia desvanece
E mais uma noite cai
Quando a lua aparece
E o sol despede-se e sai

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Macro-Estrela

Luz permanente
Absoluta escuridão
Estrela cadente
Mar de imensidão

Caos e ordem
Dançante harmonia
Desde o inicio do homem
Até ao fim da sinfonia

Emocional e racional
Morte versus vida
Confronto intemporal
Existência sentida

Terror foragido
Desleixado acrobata
Limbo desmedido
Poesia que mata

Blackiezato Ravenspawn