sábado, 27 de julho de 2013

Nostalgia Monocromática

Escondida numa sala deserta
Algures no meu subconsciente,
Descobri uma passagem secreta
Para o sótão da minha mente...

Lá onde eu deixei os meus brinquedos
Num passado, agora bem distante,
Soterrado por mil e um segredos
De uma larva, que ainda era infante.

Lá onde eu construí os meus sonhos com lego
Como um autista cria mundos imaginários,
Fechado em mim numa crisálida em sossego
Protegido dos meus aborrecimentos diários.

E lembro-me de como tatuava o meu tecto
Com a magia das fadas que voavam pelo quarto,
Dando a forma mais animada ao intelecto
Transformando aquelas noites num teatro.

E sozinho, lá nesse meu mundo oculto
Pintei com lapises e com aguarelas,
Sempre do jeito mais solene e profundo
As princesas estrelares mais belas.

Como enfrentei todos os meus medos
Que se esgueiravam no meu coração,
Sobre o comando do meu alter ego
Que adorava testar a minha imaginação.

E agora dou por mim quebrado, despejado
Fora da fantasia, numa estranha realidade,
Num mundo onde eu sou caçado, procurado
Por ter o selo genuíno da surrealidade.

Por isso tragam-me de novo essas histórias
Dos palácios e das florestas de cristal,
Aquelas, que estão em ruínas na minha memória
Queimadas por um crescimento gradual.

E deixem-me em transe! Deixai-me morrer!
Nos ilusórios braços de uma poção mágica!
Porque o mistério perdeu todo o seu poder
Quando a realidade deixou de ser enigmática!

Pois agora as fadas não passam de mementos
Que já nem as paredes querem falar para mim!
Tornaram-se caladas-frias, sem sentimentos
E o silêncio até pica-me, com impulsos carmins!

E é assim que o conhecimento estrangula o amor
E é assim que a fantasia afoga-se no esquecimento!
Deixando com que o tempo me drene a cor
E a substitua lentamente por tons cinzentos!

Levando com que toda a minha radiança
Não passe apenas de uma simples recordação!
Deixada para trás, num momento de criança
Enquanto as folhas planam até tocarem no chão...

Pois a minha vida tornou-se num constante outono
Num declínio etéreo que eu não paro de sentir,
Numa rotina monótona, transtorno que me dá sono
E uma estranha vontade de-me auto-destruir!

E é assim que dou por mim a murchar
Da formas bizarras mais trágico-dramáticas,
No leito de tudo o que tive de me tornar
Para obter uma nostalgia, monocromática.

E é retirando no final as minhas fotografias mentais
Do lamentoso lago de sépia, que eu inspiro e suspiro.
E vejo-me a ofuscar num vazio longínquo, cada vez mais
Desvanecendo-me como hieróglifos em velho papiro...

Blackiezato Ravenspawn

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