sábado, 28 de dezembro de 2013

Pó De Estrela

Nós somos os ventos estrelares
Nós somos as constelações
Os corações crepusculares
Com milhares de monções...
Nós somos a noite e o dia
O eclipse e o ardente anel
Que une opostos em harmonia
Com palavras no papel.

Nós somos a prata e o ouro
As gemas e os diamantes
Para os amantes que buscam tesouros
Em espíritos cintilantes...
Nós somos os demais oráculos
Que caíram nestes planetas
Para magicar nos pináculos
Arte para almas ultra-violetas.

Nós somos os sonhadores
Nós somos os visionários
Os imaginários exploradores
De amores extraordinários...
Nós somos a voz déspota
Dos mistérios submersos
E cada um de nós é uma nota
Da sinfonia do universo.

Nós somos a perseverança
Nós somos a consciência
A experiência e a lembrança
A mudança e a cadência...
Nós somos os marinheiros
Que hasteiam as velas
Para levarem os cruzeiros
A navegar pelas estrelas.

Nós somos os pedaços de uma só carne
De um astro que outrora brilhou,
E agora não passamos do pó de uma estrela
Que com o tempo se amontoou.
Nós somos os viajantes especiais
Todos da mesma família e do mesmo clã
Que um dia será todo reunido
Pelas crianças do amanhã.

Blackiezato Ravenspawn

A Florbela Espanca Está Morta

Debaixo dos lençóis de cetim,
Na minha enlanguescente tumba.
A poetisa dorme junto a mim,
Para se refugiar na penumbra.

Da decadência que lhe comeu a pele
Palavras eternas, rigor mortis.
Guardadas agora num estranho mel
Que nunca sofrerá, necrosis.

Enquanto isso os espectros cantam,
Pelos momentos que foram silenciados
E os vultos com as suas umbras dançam,
Invisíveis, sem serem observados.

Até a realidade mostrar-se franca
E entrar-me pela porta fora
E dizer-me que a minha Florbela espanca
Não está comigo, mas, sim morta...

A minha mente envelhece triste e séria,
E o meu corpo transmuta-se em âmbar.
Perante à fotografia de uma alma Sépia,
Cujo o seu sangue tinha as cores do mar.

E assim o vento rouba-me o sonho
E a lua deixa-me um beijo na testa,
E é bocejando aborrecido ainda com sono
Que fumo do haxixe que ainda me resta.

E ela volta a ascender pelo místico fumo
Enrolada em tecidos cinzentos,
Que se tornam púrpuras do meu mundo
Dando vida a novos, sentimentos.

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 15 de dezembro de 2013

Aeterna

Janeiro
Dizem que existe sempre uma alternativa
Embora todas elas me pareçam iguais,
Logo, não sei qual delas me cativa
Nem qual delas, eu gostarei mais...

Fevereiro
E não é por ter receio de errar
Que eu vivo nesta constante indecisão,
Mas sim por não me querer chatear
Caso tudo acabar em frustração...

Março
Pois ela consome-me as artérias
E dá cabo dos meus neurónios,
Como mazelas severas tão sérias
Que até fazem chorar demónios...

Abril
E assim pela dúvida sou torturado
Sem me importar se me está a doer,
Porque o que mais me deixa angustiado
É não saber, mesmo pelo que viver...

Maio
Hoje, mais um aniversário conquistei
E assim fiz os meus vinte e quatro anos
E a única coisa que relativamente eu sei
É que morrerei como os outros humanos...

Junho
Mas para quê festejar esta data,
E para quê fingir que estou feliz?
Quando na verdade a realidade é-me ingrata
E nunca me deu o que eu mais quis?

Julho
E porque não deixar cair na indiferença
No esquecimento, junto com os outros dias?
Tal e qual as celebrações e as crenças
Que me prometeram presentes e alegrias?

Agosto
É... Soa-me bem melhor e menos chato
Viver tal dia como se fosse outro banal,
Sem ter de me ralar com algo de facto
A não ser com a minha utopia mental...

Setembro
Por isso, ó doce poesia minha,
Filha da minha imaginação e do meu aborrecimento.
Tu que acompanhas esta minh'alma sozinha
Desde o inicio do seu tempo...

Outubro
A vós vos redirecciono todos os parabéns
E desejo a radiância de todas as estrelas,
A vós que das trivialidades te absténs
Pois só tu as consegues vencê-las...

Novembro
Tu que te mostras digna e franca a mim
Espelhando no zénite toda a tua virtude,
Quando vens adornada na eloquência do cetim
No pináculo do meu ser, em plenitude...

Dezembro
Tu que serás sempre a minha magna lua
Tão sublime, tão misteriosa e tão terna,
Enquanto eu para Chronos, outra carne crua
Até as suas presas, tornarem-te Aeterna...

*

E é sobre as mãos do tempo e na tábua do universo,
Que pelo cutelo de destino, que eu sou fatiado.
Esperando já pelos ingredientes dos teus versos
Para talvez um dia... Ser saboreado
Por quem partilhar as minhas receitas
E tiver consciência, destas obras feitas...

Blackiezato Ravenspawn