sexta-feira, 28 de março de 2014

D.R.E.A.D's

Estrilhar?! Mandar o bife?!
Qual seria a enigmática emoção?
Capaz de iludir a minha razão
Ao ponto de injuriar um irmão?
Só para mostrar uma mera opinião?!
Sem fundamento e sem visão?
E porque seria tão agressivo?
Só para descarregar essa tensão?

Para que fosse o rei por um dia?
E o agrado de toda a multidão?
Para que quando chegasse a noite
Tivesse uma fêmea no meu colchão?
Não, não e não! Isso é uma ilusão
Que te plantaram no coração
Pois não existe possível justificação
Para essa ridícula acção.

E para quem toma tal decisão
Nenhum de vós merece, ser, cidadão
Sabes porquê? Aqui vai, então!
Eu faço o obséquio e respondo À questão
E até se precisarem meus caros
Eu ajudo-vos a resolver a equação
Com a mais sábia e pura solução
De não transmitir ódio, apenas compaixão.

Eu não compactuo com a destruição
Porque não encontro algum prazer
Nessa miserável auto-satisfação
De descarregar a frustração
E moldar a minha ignorância e torná-la perdição
Só para ter o gostinho momentâneo
De ter fodido, um irmão

Porque tudo isso é dementação
E não me trás grande gratificação
Por isso cago nesses rodeios
Pois não preciso dessa atenção
Não preciso de seis-trinta-e-cinco
Só preciso de um lápis na mão
Porque perante a comportamentos desses
Eu faço fold, recuso, dou a negação

Só não passo de um poeta urbano
Que escreve poesia SAD
Aquele andarilho renegado
Que é rotulado por ter um feitio BAD
Um freak visionário que deu à volta à lua
E voltou meio MAD
E o niilista estacionado na rua
Que se está a cagar se é DREAD
Pois eu não tenho nada para vender
Eu sou real, não sou um AD
Mas se quiseres fumar daqui
Estás a vontade, meu LAD

Blackiezato Ravenspawn

A Tristeza É Um Acto De Rebelião

Há dias luminosos que faz sol
E há dias como este que apenas chove,
E hoje estou tão estagnado e tão mole
Que qualquer coisa me comove.

Porque se a natureza tem opostos
Porque razão eu não haveria de os ter?
Os meus orgulhos e os meus desgostos
Entrelaçados na dor e no prazer.

Mas nesta fantástica era digital e moderna
A tristeza é vista como acto de rebelião,
Porque se não te rires, dizem que és uma merda
E se andares solo, dizem que tens depressão.

Que até parece que perdemos o direito
De sentir as coisas e de sermos humanos,
Porque é na tecnologia que buscamos o perfeito
Como se fossemos alquimistas insanos.

Mas como esta gente quer ser feliz
Se não sabem estar em baixo e tristes?
Quando a vida te fode e o mundo te diz
Que não vales nada, nem mesmo existes?

Mas... Hoje o céu está melancólico
Por isso temos permissão para chorar,
Como bêbados em transes alcoólicos
Pois ambas são partículas d'água e ninguém vai reparar.

Mas nada saí de mim, (in)felizmente
Porque as minhas lágrimas estão congeladas,
No permafrost do meu subconsciente
Seladas do mundo com as luzes desligadas.

Por isso deixai-me na minha tristeza
E deixai-me saborear o destino cru,
Porque é na minha maior fraqueza
Que me sabe melhor, um prato de Blues.

Tens os bolsos cheios de dinheiro
Logo fitas um sorriso nas montras
- Queres um que te fique bem porreiro?
Não foi por isso que vieste às compras?

Mas acho um bocado duro da vossa parte
Pedirem-me a mim para sorrir,
Quando o meu humor torna-se escuro e arde
Com o único propósito de vos destruir.

É verdade, eu procrastino imenso
Uma das minhas maiores virtudes,
Fórmulas em pensamento extenso
Para resolver a equação da plenitude.

Mas a vida tem o habito de ser assim
Logo, neste dia só me sobra o agouro,
Por ser tão generoso e dar tanto de mim
A um mundo que só quer saber de ouro...

Blackiezato Ravenspawn

quinta-feira, 27 de março de 2014

"Gaijas"

Todas vestem algodão
E algumas ainda vestem ganga
A maioria não tem coração
Só truques na manga
Umas ainda são jovens
Outras são quase idosas
Algumas parecem homens
Que se acham bem vistosas
Umas são convencidas
Outras só olham para o seu umbigo
Com ar de aborrecidas
Que só sabem dar migos
"Poucas" são ricas
"Muitas" são pobres
E o resto são as finas
Que ainda se julgam nobres.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Umas parecem miragens
Outras, a minha tulpa
A maioria usa maquilhagem
E adora descartar as culpas
Umas são extremamente quentes
Outras, frias demais
E há aquelas que se acham diferentes
Apesar de serem as mais banais
Umas são pálidas e brancas
Outras são escuras e pretas
E todas elas dizem ser francas
Embora só mandem petas.
Muitas são inseguras
E até parece que não batem bem
Pois todas elas são confusas
Até mesmo tu, minha mãe.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Umas gostam de flores
Outras sofrem de alergias
Pois não gostam de amores
Nem de romance nem de poesias
Umas são criaturas sagazes
Outras, bestas ignorantes
Completamente capazes
De actos bem degradantes
Umas são deveras foleiras
Enquanto outras dizem-se astutas
Quando se mascaram de freiras
Embora tenham fama de putas
Umas dão comigo na droga
Outras só me dão pena
Que quando se vai a moca
Até parece que consumi rena.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Umas são depressivas
Outras raras e genuínas
Perigosas e maníacas
Com cara de meninas
Umas nem eu mesmo sei
O que têm dentro de si
Outras dizem que são gay
E até já apanhei uns travestis
Umas são simpáticas
Outras, só são apenas boas
Com uma história tão trágica
Para serem um mau exemplo de pessoa
Umas até galo e aprecio delas
Outras, pregava-lhes uma foice
Porque a magia da Cinderela
Cessa depois da meia-noite.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Todas são insaciáveis
E a maioria parece-me triste
Umas acabam miseráveis
Temos pena, que se lixe
Umas são muito frágeis
Outras são muito duras
Umas são novas e ágeis
Outras experientes e maduras
Umas gostam de dominar
Outras gostam de se render
Umas só sonham em casar
Outras só pensam em foder
Umas são uma tolice
Outras estão desesperadas
Mas a minha cúmplice
Tem a silhueta de uma adaga.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

E como a minha "valentina"
Tens mulheres com vários rodeios
Com diferentes medidas
E com diversos paleios
Tens mulheres esqueléticas e magras
Ou simplesmente anémicas e murchas
Como mulheres gordas e largas
Ou se preferires com chicha e com curvas
Tens mulheres bem grandes
Tens mulheres assim-assim, médias
Com olhos turvos ou cintilantes
Independentes ou com rédeas
E também tens mulheres baixas
Que são catitas e dão-me pelo peito
Mas são raras as "gaijas"
Que ainda têm o meu respeito.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Blackiezato Ravenspawn

quarta-feira, 26 de março de 2014

Banshee

Do centro para a periferia,
Como de dentro para fora.
Eu declamo a minha elegia,
Na vigésima quinta hora...

E abandono estes homúnculos,
Que me enchem de ansiedade.
E equipo o meu um par de óculos,
Para navegar além na insanidade..

E assim viajo pelas várias dimensões,
Nos meus asilos, nas minhas cidadelas.
Mas nunca soube porque estas visões,
Começam e a acabam sempre com ela.

Talvez por ela ser Vénus, e eu Marte,
Apesar d'isto soar um pouco ridículo...
Mas custa-me imenso meter de parte,
Aquela que tem o "meu "outro ventrículo.

Mas mais triste que dizer isto,
É não ter alguém para o dedicar.
Porque pelo que tenho visto,
Não existe quem eu mereça amar..

Logo esses "amores" eu ponho de lado,
E desculpem lá, o meu narcisismo.
Porque eu só sou devidamente amado,
Pelas enigmáticas mãos do abismo.

Pois não existe olho para perceber,
O que na minha existência se passou.
Nem as palavras para descrever,
O que eu sou e para onde vou.

Porque se a poesia está mesma morta,
E a lua de mim, continua no céu, absorta.
Quem será a entidade que me transporta,
Pela noite fora enquanto me conforta?

Será um fogo-fátuo incandescente?
Será um mito ou pura imaginação?
Este bicho que me parasita a mente
E que se alimenta do meu coração?

Blackiezato Ravenspawn

Necromante

Com dotes líricos
E feitiços da cabala,
Eu invoco espíritos
E uma espectro fala.

"Ó príncipe elegante
Ó cavaleiro andante,
A vós, desalmada imploro
Pelo teu corpo pulsante."

A nebelina descende
E a sanidade se perde,
Quando a magia ascende
E a espectro prossegue.

"Pois no vazio eu moro
E nas ruínas eu choro,
Lá esquecida e distante
De quem mais adoro."

Com alquimia necro
Eu refutei a norma,
E agora essa espectro
Ganhou uma forma.

"Ó poeta galante
Ó mago vislumbrante,
Pelo teu beijo ansiei
Com uma fome gigante"

Dá-se a ressurreição
Da Florbela Espanca,
E com eterna sedução
Ela encarna, branca.

"Pelo limbo eu procurei
E só hoje é que encontrei
O romântico necromante
Que outrora, desejei."

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 23 de março de 2014

Estrilho Sarilho (Double Trouble)

Eu gostaria de dizer algo à Pátria mãe
Falar-vos d'uma psicose chamada mania e depressão
E caso forem alvos disto e a sentirem também
Eu conto-vos uma crónica que fala desta condição

Mas caso não tiverem, no fundo alguma noção
Então acendam esse, para perceberem esta canção...

A Madama Depressão, a minha Maria Solidão
Diz que não gosta de sair porque detesta a multidão
Só gosta de estar comigo, entrelaçada na cama
A lamentar-se o dia todo, pois ela adora drama
A mesma que obsessiva-compulsiva que só quer saber de mim
Quando fala por charadas, por achar a simplicidade, ruim
E assim julga-se diferente e tem os seus complexos
Que confundem a minha cabeça com coisas sem nexo

E é com a sua éterea enlanguescente voz
Que ela me pinta os cenários mais catatónicos
Deixando os rios da minha vida sem foz
Com todos os seus poemas afónicos
Pois ela é insegura e complicada
Logo é profissional em chantagens emocionais
Como faz qualquer outra namorada
Quando exige do seu namorado, demais
E mesmo gostando imenso dela
São mais as vezes que me aborreço
Por não saber lidar mesmo com ela
Quando me diz coisas que não mereço

Então, libertei-me da minha preguiça
E dirigi-me ao santuário, à casa de banho
Cambaleando com a mão na pissa
Para descarregar a raiva que em mim tenho
E foi derramando todas essas toxinas
Que tinha armazenado na minha bexiga
Pensando no feitio da minha concubina
Que tem o hábito de criar estas intrigas

Depois de urinar sacudi a pissa
Duas a três vezes na mesma sessão
Porque por aí diz-se nas missas
Que mais de três, é masturbação
Depois debrucei-me no lavatório
Para lavar a minha cara e as mãos
Como se estivesse num oratório
E a mobília do sítio fossem os meus irmãos
E assim desabafei no confessionário
Ainda com os olhos vermelhos
Enquanto fitava como um otário
O reflexo que me mostrava o meu espelho

E disse - Espelho meu, querido espelho meu
- Será que existe alguém mais louco do que eu?
E este sorrindo para mim, assim me respondeu
- Só se for eu, este misantropo reflexo teu.
- E desde quando falas para objectos?
- E porque razão tenho de te aturar?
Disse-me o meu alter ego com os olhos bem abertos
E eu dei por mim a alucinar...

Pestanejei as vezes que precisei
Para voltar-me a sintonizar na realidade
Mas confesso que uma gargalhada escutei
Do outro lado da minha vaidade
Mas a Depressão foi a mesma quem
Me chamou preocupada, sempre atenta
Quando me perguntou - Estás a falar p'ra quem?!
Pois ela é um "pouco" ciumenta.

- Com ninguém, meu amor
- Só estava a lavar o rosto
- Não existe alguém ao meu redor
- A não ser o teu adorável desgosto
- Por isso relaxa minha princesa
- Não há razões para discutir
- Apenas caí na minha incerteza
- E acho que preciso de sair...

E saí... Deixando a minha Depressão
Em busca de algo que me trouxesse diversão
Mas não encontrei nas ruas da minha cidade
Só nas infames ruelas da minha irrealidade
Quando fui subtilmente surpreendido
Por alguém hostil, embora amigo
Que já me seguia há algum tempo
Escondido na brisa do omino vento...
- Olá! - disse-me alguém, com a mão no meu ombro
Deste homem cujo a vida, ainda continuava em escombros
E sorriu radiante, como sempre fazia
De uma forma especial que só ela sabia.

Bem, era aquela bizarra fêmea
Que aparecia de vez em quando
A maluca Mania, a irmã gémea
Da gaja com quem eu in-felizmente ando
E ela olhou para mim um pouco triste
Pois sabia que eu me sentia mal
Como tivesse na testa o terceiro olho e visse
Que eu estava tudo, menos normal
E com o seu altruísmo envolto em cetim
Ela estendeu-me a sua elegante mão
E disse-me que não gostava de me ver assim
Pois eu não merecia tal frustração...

Então, levou-me pelas ruas mais sombrias
Aquelas que me disseram para eu não ir
Esta estranha donzela emersa em euforia
Que sabia muito bem, como se divertir
E apesar de ser a irmã da minha Cinderela
Ela não hesitou em difamar o seu humor abismal
Da minha namorada tão bela e singela
Essa minha atribulada companheira espectral.

E foi levando-me para a sua casa
Seduzindo-me no processo como o habitual
Como eu se fosse uma cria debaixo da sua asa
Perdido neste mundo real
Que ela me deu afecto e drogas
Enquanto partilhava as suas loucuras
Proporcionadas por grandes mocas
Que me fazia cometer certas travessuras
Pois era assim que ela actuava
E era assim que ela vivia
Confessando que a única coisa que a cativava
Era especialmente a minha alegria
E mesmo sabendo da minha relação
Ela não se ralou com a traição
Fez-me o convite, pois sabia que o meu coração
Não merecia de todo essa frustração

Logo despiu-me com caricias e beijos
E excitou-me com caprichos e desejos
Contaminando-me com a sua serotonina
Que tinha em abundância na sua vagina
E fodemos por horas como apaixonados
No sigílio de um perturbante segredo
Assassinado por um sinistro pecado
Pelo qual eu tinha um tenebroso medo

Mas eu já estava noutra, logo não me ralei
Apenas me ejaculei e de novo continuei
Pois estava hipnotizado pelo seu grande poder
Que me dava tanto, mas tanto pazer.
E foi aí que deixe de ser o Melchior Montenegro
Aquele sublime poeta agarrado às entrelinhas
Para me tornar no Antumbra Eclipse, o meu alter ego
Aquele que só anda com más companhias
Conhecido por ter uma mente deverás insana
E espalhar a misantropia com frases frias
Amigo da puta mais rodada, a Maria Joana
E de um cabrão mais conhecido como Mário Dias.

E por momentos trocamos fluídos
Criando uma estranha simbiose,
Ambos envoltos, completamente despidos
Para se dar a última metamorfose
Pois o frenesim era enorme
E eu não conseguia parar
E cada vez eu tinha mais fome
E cada vez mais eu a queria fornicar
E foi no topo da minha insensatez
Que eu agarrei os cabelos da sua irmã
E gritei cavalgando pela milésima vez
- Eu sou o Destruidor, o Ghenghis Khan

Mas as coisas não correram assim tão bem...
Pois eu ouvi uns passos e assustei-me também
Quando o meu amor entrou de rompante no quarto
Apanhando-me a montar a sua irmã de quatro, que teatro!

Surpresa essa que fez o clima mudar de formato
Pois a Depressão descobriu o que acontecia  mesmo de facto
Quando me deixava "sozinho", a vadiar por aí
Pelos sítios onde ela não tinha poder sobre mim
E assim o silêncio tornou-se de imediato em barulho
Que chocado com a situação eu deixei cair o tartulho
Que segurava na minha boca e que agora tinha caído no chão
Quando ela gritou louca, frustrada cheia de razão
Levando a minha euforia tornar-se em disforia
Quando o seu ciúme ganhou forma da minha agonia

- Seu filho de sete! Como me ousas trair!
Gritou a Depressão angustiada correndo para me destruir
- Sai daqui, Irmã, ele é demasiado bom para ti
Defendeu-me a Mania, enquanto se agarrava a mim

E completamente inconfortável com toda aquela situação
Que eu vi-me tornar no olho daquela tempestade,
Enquanto elas lutavam entre si, à pala da minha confusão
Da minha grande dúvida em torno desta insanidade
E assim tentei fugir, enquanto elas estavam distraídas
A debater o meu controlo com unhas e dentes
Mas foi quando tentava tal que elas reparam ressentidas
Pelo responsável, por todo este ódio demente

E disseram em coro - Porquê que foges, ó querido Romeu
- És um homem ou um rato, diz-me lá, ó meu?!
- E porque que não vens e escolhes uma de nós?!
- Invés de nos olhares com essa confusão atroz?!
- Ó Melchior Montenegro, Ó Antumbra Eclipse!
- Tu és o nosso maior amor e a nossa maior antítese
- E se não escolheres entre a nova e a decadência
- Nós prometemos transformar a tua vida numa demência!

Mas, não escolhi, apenas fugi...
Por ruelas e vielas
Bem longe delas
Como para bem longe de mim...

Pois eu sei que talvez nunca encontrarei a paz
E é agora desabafando ao vinho que tenho na mesa
Que eu descobri que não importa por onde vás
Quando os problemas estão todos na tua cabeça

E é por isso que eu já nem me importo
Mesmo até, quando perco o controlo
E já nem saiba dizer se estou vivo ou morto
Ou talvez lúcido, ou mesmo tolo.

Apenas deixo as coisas fluírem do seu jeito
Como mais desejarem estas invisíveis sucubus
Porque para mim, não existe maior arte e proveito
Que transformar as atribulações da vida em blues.

E o mais engraçado nisto tudo
É que eu guardo só para mim,
Como na verdade eu fosse um mudo
E um livro sem principio e sem fim
Porque nem todos têm o olho para ler
Estas crónicas, tornadas em elegias
Porque só iriam mesmo perceber
Se tivessem de lidar com isto

Quase todos os dias.

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 7 de março de 2014

Espiral Mortal

Com os meus olhos cansados,
Despertei Eu do limbo, tristonho.
Ainda com os membros sepultados
Algures naquele fúnebre sonho.

A visão mostrou-me a poesia morrer,
Enquanto a minha alma murchava.
Pois perdeu-se a razão para Eu viver,
Como a emoção que me alimentava.

Logo o meu corpo tornou-se pedra,
E a minha mente erodiu-se em areia
Deu-se a ruptura, depois a quebra,
Da minha vida, da minha odisseia.

E a terra engoliu a minha essência
Criando a minha combustão espectral.
Até o céu espalhar a minha consciência
Como cinzas, na espiral mortal.

Blackiezato Ravenspawn

terça-feira, 4 de março de 2014

Para Quê?

Para quê ouvir-te cantar
Se não tens nada para dizer?
E para quê mesmo eu te amar
Quando tu só queres me foder?

Para quê ser como tu, normal
E enquadrar-me na sociedade?
Quando tu nem és leal
Com a tua própria personalidade?

Para quê mesmo competir
Trabalhar e ganhar dinheiro?
Quando me forçam a mentir
Para subsistir neste mundo foleiro?

E para quê pergunto-te eu
Fazer de conta que estudo está bem?
Quando no fundo todo se perdeu
Aqui na terra de ninguém?

Para quê?! Ralar-me com merda
Se me falta a vontade toda
Quando posso fumar erva
E dizer - Que sa'foda!

Blackiezato Ravenspawn

Confusão

Ardente, frígido, frígido, ardente.
Triste hoje, amanhã contente.
Sombrio, claro, claro, sombrio.
Alma cheia, coração vazio.

Dia e noite, noite e dia.
Gargalhadas de dor, lágrimas d'alegria.
Sol, chuva, chuva, sol.
Cabeça tão densa, corpo tão mole.

Realidade, fantasia, fantasia, realidade.
Suave mentira, dura verdade.
Natural, sintético, sintético, natural.
Sonho analógico, pesadelo digital.

Fraqueza, vigor, vigor, fraqueza.
Tanta dúvida e nenhuma certeza.
Coragem, medo, medo, coragem.
Um horizonte sem uma paisagem.

Decadência, nova, nova, decadência.
Sacra perversão, herética inocência.
Esperança, desespero, desespero, esperança.
Tremendo potencial, ténue confiança.

Perdido, orientado, orientado, perdido.
Nunca acorrentado, sempre foragido.
Altruísmo, egoísmo, egoísmo, altruísmo.
Desleixado narcisismo, sublime niilismo.

Controverso, incontestável, incontestável, controverso.
Um espelho quebrado, um multiverso.
Sério, infantil, infantil, sério.
Um notável imbecil e um invisível génio.

Lento, rápido, rápido, lento.
Impávido e sereno, no volátil tempo.
Arrogância, modéstia, modéstia, arrogância.
Desejo espontâneo, cíclica ânsia.

Ametista, esmeralda, esmeralda, ametista.
Poeta angelical, demoníaco contorcionista.
Jasmim, Lotus, Lotus, jasmim.
Requiem, Mardi Gras, Pierrot, Arlequim.

Depressores, estimulantes, estimulantes, depressores.
Benditos narcóticos, malditos amores.
Depressão, mania, mania, depressão.
Caos, instabilidade, discórdia, confusão.

Blackiezato Ravenspawn

Sleepwalker

Ando muito, vivo pouco,
Destinos?! Não tenho um.
Pois sou um estranho louco
Que jamais irá a lado algum

Ando simplesmente por andar
E nem ligo para onde vou,
Só quando reparo que devo parar
Quando não sei onde estou.

Eu ando para a frente e para trás,
Como para a esquerda e para direita.
Sem saber se um dia serei capaz,
De ver esta longa caminhada feita.

E é caminhando o dia todo, até cair,
Debruçado na minha constante incerteza
Que percebo que onde eu mais desejo ir,
Só é possível dentro da minha cabeça.

Blackiezato Ravenspawn