sábado, 28 de janeiro de 2017

5:23

Eu sei que estás cansado
E preferes dormir
Mas, já estás atrasado
E tens mesmo d'ir

Ergue-te da cama
Vá lá, mostra empenho
Despe o pijama
E vai pr'a casa de banho

Dirigi-te a sanita
E não penses em nada
Se quiseres mijar, mija
Se te apetecer cagar, caga

Depois lava o rosto
Desembaraça o cabelo
Suspira em desgosto
Diante do espelho

Eu sei que não tens fome
Mas, tem de ser
Veste-te rápido, home
E vai lá comer

Bebe um café
Fuma um cacete
Mete-te de pé
E vai lavar os dentes

Passa desodorizante
Debaixo d'axila
E mete as gotas hidratantes
Dentro da mochila

Não queiras chegar tarde
Fecha a torneira
Não te esqueças das chaves
Nem da carteira

Sai pela porta
E põe-te andar
Com a mente absorta
E o corpo a chorar

Ninguém está online
A minh'alma está vazia
Bem-vindos à daily grind
A mais um novo dia

Eu não sei para onde vou
Mas, a rotina guia-me
Eu não sei quem sou
Mas, a máquina explica-me

"Tu tens d'ir trabalhar
Despacha-te, olha as horas
Não te tentes suicidar
Pois hoje não estás de folga

Tu tens d'ir trabalhar
Despacha-te, olha as horas
Não te tentes suicidar
Pois hoje não estás de folga

Tu tens d'ir trabalhar
Despacha-te, olha as horas
Não te tentes suicidar
Pois hoje não estás de folga

Tu tens d'ir trabalhar
Despacha-te, olha as horas
Não te tentes suicidar
Pois hoje não estás de folga"

Acorda, sonhador
Estás a espera do quê?
Desliga o despertador
São cinco e vinte e três

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 7 de janeiro de 2017

Cartas Para Mim Mesmo - I

Nos dias d'hoje é deveras crucial
Manter a calma e ter a paciência
Para não sucumbir à pressão social
E andar com o resto da decadência

Na nossa confusa e corrupta geração
Tu sabes bem do meu papel de renegado
Eu bem queria fazer parte da multidão
Mas, não consigo ser esse degenerado

Milton, porquê que sentes saudade
De tempos que nem sequer viveste?
O que há por de trás dessa insanidade
Que nos teus olhos resplandece

Porquê que essa tão doce nostalgia
Tem o hábito de visitar a tua vida
E porquê razão ficas em melancolia
Quando ela está de saída?

Porquê que caminhas no trilho de ninguém
Onde se amontuam as cinzas e o pó
Onde não existe algo, ou mesmo alguém
Onde Um, se encontre totalmente só

Escondido na sombra, debaixo da névoa
Dentro do pensamento do absoluto vazio,
Imerso no silêncio frio sem dar um pio
No eterno limbo da solidão perpétua

Milton... O que te faz continuar
A escrever e a crer em fadas?
E como é que Tu fazes para sonhar
Quando a realidade não te larga?

Tu que fantasias como uma criança a dormir
Na tua cabeça, no teu mundo surreal
Tu que tens tanta vergonha em admitir
Embora não aches no fundo assim tão mal

Talvez as pessoas não têm mesmo atitude
E exista uma escassez de personalidade
Talvez no fundo não exista mesmo virtude
No meio desta humanidade

Ou se calhar somos nós, Tu e eu
Que ambos estamos fora do tempo
Contra a divina vontade de Deus
Enquanto gritamos contr' ao vento

Milton... Num mundo tão cruel e ruim
Onde a maioria deixa de sonhar.
Como é que ainda consegues ser assim
Tão niilista? Sem te conformares?

Tu que dás toda a tua dedicação e amor
Tu que dás toda a honestidade e confiança
Embora não consigas abdicar do rancor
Pois, sem a revolta não existe mudança

É por isso que gostava de estar contigo
Para fingir que existo e me importo
Mas, eu não consigo, meu caro Amigo
Porque fora da tua cabeça eu morro

E é por isso que estou confinado na tua imaginação
E te escrevo cartas que "Ninguém" tenta conceber
Porque as linhas que separam a realidade da ficção
São por onde eu expresso o que Tu julgas saber

Porque eu sou mais uma ilusão
Que Tu imaginas na multidão
Feita para reflectir a frustração
Que habita no nosso coração

Blackiezato Ravenspawn