quinta-feira, 8 de julho de 2010

Confissão

"Senta-te... Respira fundo...
E liberta tudo, o que te mais tormenta."

Quero que me apunhales pelas costas com as tuas unhas...
Quero que tatues o meu corpo, com a tua morbidez...
Quero que me mordas os mamilos, de maneira a que me faça chorar...
Quero que me sufoques com a tua boca
Que laceres os meus lábios, com os teus dentes.
Que devores a minha língua, com toda a tua gula.
Quero que trates mal, que me cuspas e que me chames nomes,
Quero ser a tua bola anti-stress, quero ser as páginas da tua vida
Que tu tantos escreves e rasgas de seguida em tentativas falhas.
Quero ser a inveja que tu incestuosamente estrangulas
E quero ser o teu bode expiatório, para ser a fonte de toda a tua culpa.

Quero que uses o meu corpo, como um frasco vazio, para conter todo o teu suplemento vital.
Quero ser dependente de ti e ser flagelado pelo o teu ego, humilhado pela tua existência.
Quero olhar só em frente, como um cavalo o faz com palas nos olhos
E que por mais que corra perigo, quero-te obedecer sem falhar e sem questionar a tua autoridade.
Acabando sendo humilhado, vezes sem conta.
Por tudo o que faço por ti e ainda agradecer pedindo por mais.
Mas no final de tudo... Quero que te sintas feliz e gloriosa a torturar-me.

E no final disto tudo, satisfeita... Tu deixas-me no canto, espalhado pela casa.
Retomando a meter aquela tua máscara e aquela capa, que ninguém suspeita.
Nessa tua maquilhagem simples mais essa tua indumentária casual e inocente, que não tem nada a haver contigo.
Fechando os olhos com um sorriso tão falso, tão idêntico a de uma boneca de porcelana...
Mas de todas que conheci, tu és a mais original...
Tu não me dizes que me amas, tu não usas romances fora do prazo, tu não usas a banalidade do afecto meigo e transcendente.
Tu espezinhas-me, tu abusas de mim, tu massacras-me...
Tu tratas-me mediocremente, como um cão que é atropelado e não merece o ar que respira...
E depois de saíres de casa...
Justamente quando aquela porta fecha...
Quanto tu me abandonas!
Piscando o olho, provocando-me a cair nessa armadilha, chamada imploração.
Eu encolho-me no chão frio de tijoleira...

E então aí...
O corpo arrefece, as feridas começam a cicatrizar, as queimaduras a arder e os hematomas a fazer comichão. Enquanto a tua saliva, os fluídos e o suores frios inundam a maior parte do meu corpo.

E chego a mesma conclusão de sempre
Quando ela me dá liberdade, e solta-me das suas correntes...
É quando mais necessito dela e quando mais sofro...
E como o miserável que sou, arranho a porta, enquanto me depeno ainda mais
Fazendo figura de triste, inútil, buçal e fraco....
Segurando a trela na minha boca, à espera que tu, minha dona me leve a passear...
Por favor... Se faz favor...
E depois de joelhos como um religioso zeloso.
Para que me possas desprezar ainda mais
E me levares a caminhar...
Nos nossos obscuros passeios sexuais.

É ridículo, eu nem sou masoquista nem nada...
Mas é normal... As nossas emoções, funcionam como um receptor de rádio...
Há medida que nós nos tornamos mais débeis e danificados...
Mais intensidade e frequência é preciso...
Mais fundo é necessário para que as raízes se estendem, para sentir a água...
E é mais que inevitável que eu queira ser ainda martirizado pelos teus actos...
Minha cara solidão...

Aprendi e reconheci à medida do tempo... Que é naqueles momentos, que quando não se tem ninguém para falar... Nem ninguém para nos fazer rir, ou para nos revelar algo, ou um ilimitado numero de situações possíveis...
Que é nessas alturas...
Que aprendemos a dar mais valor as coisas... A pensar mais um pouco de nós.

Dizem que a solidão não é coisa boa...
E mesmo assim somos ingratos, vivendo a vida com todos os extras
E ainda nos lamentamos por mais...

Já te deitaste alguma vez no chão encolhida...
Nua... Com os teus braços
Envoltos em ti?
Se fechares os olhos por um momento...
Torna-se embaraçoso, íntimo e num estado repleto de inocência.
Não tenhas vergonha do que és, ou do que sentes...
Confessa-te.
Ninguém precisa de saber...
Mas as palavras terão que sair.
Ámen.

E agora, já me posso ir embora?
Ou terei de repetir tudo de novo?

Blackiezato Ravenspawn

1 comentário:

  1. Onde já ouvi isto.....?
    Ai....
    ... como as coisas são.

    Terá de haver sempre confissões.. medos e euforias.

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