quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Valsa Do Inverno Eterno

Dança comigo junto à lareira
A valsa do inverno eterno.
Como se estivéssemos, os dois à beira,
Da decadência, do inferno.

E agarra-te bem a mim,
Para fazermos deste momento, uma elegia.
Enquanto os nossos corpos lutam em frenesim
A solidão e a hipotermia...

Deixa-me que nos meus braços te leve
Para um lugar longe do frio e da dor.
Onde não existe chuva, nem mesmo neve,
Só harmonia, conforto e calor.

Acabando por ficarmos sós, só a anhar,
Enquanto o vendaval ruge lá fora, como uma fera.
Envoltos, um no outro, ainda a dançar
Como se esperássemos juntos, a primavera.

Blackiezato Ravenspawn

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Requiem Para Uma Fae

Vejo fragmentos de cristal,
De asas mágicas, quebradas.
Ocultas na neblina astral
Aqui nesta floresta encantada.
E o seu cheiro a lavanda,
Enche a brisa com mistério.
Esta que em mim se entranha,
Como se tratasse d'um toque etéreo.
Então, cativado por esse brilho,
Eu penetro na cercante escuridão.
Seguindo o rasto púrpura, o meu trilho,
Até chegar aos confins do meu coração.
Ao lugar onde o meu sangue escorre
Como uma nascente, um altar.
Tumba de uma fada que agora morre,
Por eu ter deixado de acreditar.

"Porque demoraste tanto, amigo?.."
Questionou-me ela enlanguescente, eferma.
Sorrindo inocente por ainda estar consigo,
A segurar a Fae que deixou de ser eterna.
Ela que pensou que o nosso laço,
Era inquebrável como "Mithril"!
E é agora morta nos meus braços,
Qu'Eu me apercebo o quanto fui vil!
Pois avisaram-me que as fadas morrem,
Cada vez que uma criança cresce.
E se torna numa mulher ou num homem,
Que deixa de sentir e logo se esquece.

Que outrora dependíamos delas e que agora, morrem sós, dentro de nós...

Por isso preservem-as.

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Tácticas De Guerrilha Psicossocial: Guia De Infiltração I - Parasitae

Hoje descobri que o complexo de evolução,
Sempre se baseou mais na aprendizagem
E não só apenas, numa constante assimilação,
De elementos seleccionados à passagem.

Porque às vezes, um para aqui subsistir
Necessita de sacrificar o seu exterior.
Para que este ou esta continue a existir
Sem comprometer, o seu interior.

Pois, o núcleo é tal e qual um santuário,
Oculto, para os usurpadores não o alcançarem.
Enquanto a carapaça, é mais um obituário,
Tumulto, onde células morrem para outras se formarem.

Logo, não importa a tua autenticidade,
Quando a tua aparência te incrimina.
E acorrenta-te a uma falsa realidade
Que faz do nobre ser que és, uma ruína.

É uma armadilha, é aceitar a estagnação!
Isso de querer ser a alma da paisagem.
Pois como é que irás suceder na tua infiltração,
Quando nem sequer, usas camuflagem?

Lembra-te que a cobra tem de se despir,
Para remover da pele, as provas do seu rancor.
Enquanto a larva exila-se num casulo para evoluir,
Apesar de espiar sempre serena o seu redor.

Por isso esconde o teu código honorário,
E infecta todos os que o desencriptarem.
Fingindo-te de um mero drone, ordinário,
Sendo tu mesmo, sem eles repararem.

É assim que se aje na mais pura suavidade,
Usando a cabeça como um florete de esgrima.
Mas, lembra-te se revelares a tua identidade,
O alarme soa e a tua missão termina...

*

Sê o phantasma dentro da máquina,
O mito urbano, o caçador sem nome.
A bainha que omite a "tímida" lâmina
E a droga que comanda quem a consome.

O paciente zero que devia estar em quarentena
E o vírus mutável que explora o sistema.
Uma cara que representa outra em cena:
A solução como a fonte do problema.
 

Blackiezato Ravenspawn

O Toque Qu'Eu Mais Desejo

O toque qu'Eu mais desejo...
Transcende qualquer plano material.
É mais que um abraço, é mais que um beijo,
É mais que uma conexão psico-corporal.

Que não é regida pela religião ou pela ciência,
Nem sequer mesmo compreensível pr'alguém.
É etéreo, é caos, é serenidade, é demência
É um laço que une o meu pai à minha mãe.

É a alquimia trágica, apesar de romântica,
Que não se conforma com o facto de se trasmutar
E a enigmática mecânica da física quântica,
Complexa e frustrante por custar tanto a decifrar.

Porque tu não existes na minha realidade,
Nem eu mesmo, tenho acesso à tua.
Pois somos dois espelhos que reflectem uma infinidade,
Apesar de separados, como o Sol e a Lua.

Que se os nossos gestos fossem versos,
Aposto qu'eles rimar-se-ia, em harmonia.
Mas, infelizmente estamos dispersos
Em diferentes prosas e diferentes poesias

Como chama e gelo,
Terra e céu!
Como graça e flagelo,
Vítima e réu!..

E isso, não é bonito?
Claro que não, é triste!
Saber que necessito
D'algo que não existe!

Do toque que alegra e cura
E que torna tudo mais humano!
Pois tem sido uma tortura
Lidar com este ódio mundano...

Daquele toque que ressaco mas que eu nunca senti...

"E não é por isso que o desejas?"

Não... Porque essas lamechiches deixam-me ainda mais intoxicado de...

Sei, lá.



Blackiezato Ravenspawn

Ladra D'Almas

Não sei bem o que fiz para acabar assim,
Pois, não sinto corpo, embora esteja consciente.
- Estarei em coma? - É o que questiono a mim,
Algures trancado na minha própria mente

- Não - Responde-me uma ladra d'almas,
Que sussura dócil para eu não pensar mais.
Enquanto pousa devagar as suas palmas,
Sobre o meu coração em cima dos meus peitorais.

E é cego, em pânico e quasi afónico,
Qu'Eu grito em vão com a garganta cansada.
Enquanto, Ela, sádica, acha fantástico e irónico,
Querer fazer lucro com uma alma, furtada.

Mas, os seus lábios devoradores de vida,
Não conseguem quebrar o meu selo etéreo.
Então, ela frustrada e completamente enfurecida
Ameaça-me - Não me faças passar do sério!

Com um bafo tenebroso que cheira a fuinha,
Feito de texturas ectoplásmicas com o gosto a morte.
Que me molestam, só ao deslizar pela espinha
Induzindo-me também em terror com espasmos fortes.

- Como te atreves a negar?! Dá-me-a, eu exijo!
Ordena, Ela, possessa pela cobiça e pelo rancor.
Usando as suas unhas famintas do abismo,
Para criar orgias sinistras com a minha dor.

- Isto é o preço das tuas viagens e odisseias!
- Tu que ousas navegar em águas estranhas!
- Iludido por gorgonas mascaradas de sereias!
- Que sempre anseiam em te jogar às piranhas!

Apertou-me ela, no meu desespero total,
Mas, eu não sucumbi, nem me resignei.
Apenas fechei os olhos, abri a glândula pineal
E divaguei, sei lá... Se imaginei ou delirei.

Os nove círculos do inferno num segundo,
Ou a entrada para o limbo num sonho penoso.
Se foram lapsos de memória, ou aventuras no submundo,
Ou se foi mesmo real ou uma paralisia de sono...

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 10 de agosto de 2014

Bife Fodido

Aproximadamente cinquenta quilos de carne,
D'alta categoria, do melhor gado.
Embalado de forma a provocar-me,
Sempre em promoção em qualquer lado.

Aquele bife lá em exposição na montra,
Feito para deixar os carnívoros insanos.
E quem não for, não tem mal - que se foda!
Eu não tenho nada contra vegetarianos.

Continuando... Carne boa aparentas ser,
Pelo que me diz o teu rótulo de qualidade.
Mas, quando um gajo não tem nada comer,
Não liga a muito marca, só a quantidade.

Logo não me vês atrás de carne como tu,
Nem ao som de kizomba para cozinhar cachupa.
Mas se tiver que ser, só aproveito o cu
E arroto - sai, daqui... Puta!

Sim! Às vezes sou mal educado, e quê?!
Desculpa-me lá, se tenho a cabeça estragada
E caso tiveres curiosidade em saber porquê,
É por comer carne mentalmente retardada.

Alterada e massificada em laboratórios,
Para alimentar o povo, que vive um engodo.
Por isso ajudai-me, ó santo Gregório
Pois quando as como, vomito-me todo!

E frases que antes só tinham um sentido,
Ganham outros quando a mente esta expandida.
E assim ouço a voz da minha Mãe no ouvido
"Filho, não se brinca com a comida."

Ai, Mãe... Tinhas toda a razão,
Mas, eu ainda continuo um parvo, enorme
Que não encontrou outra justificação
De dizer - É pá, estava com fome...

Finalizando... Se fui eu quem a comeu,
Porque razão ela me está a esventrar?
O que tenho de fazer para esta dor ir, ó meu?!
E diz o esfíncter - Sei lá, talvez de cagar.

Por isso cautela com essas ceias,
Não se metam com bifes fodidos.
Senão vão acordar com diarreia
E com dores... No umbigo.

Blackiezato Ravenspawn

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O Continente Perdido

No lugar onde todo o mistério se afunda,
Hypnos, enfeitiçou todas as crianças.
Excepto uma que se refazia como a espuma
Com olhos indigos cobertos por tranças.

Os homens e mulheres tornaram-se inférteis
E as sementes de Ceres jamais brotaram.
E com o tempo os novos tornaram-se débeis
E como os seus progenitores, velhos ficaram...

Nessa criança foi depositada,
O futuro de um enigmático continente.
Embora ela, agora mais que irada
Odiava-os por pensar d'um jeito diferente

Porque por essa criança exércitos lutavam,
Pois não existia maior prazer que a obter.
E os poucos que tinham, não a partilhavam
Ela, que não mostrava indícios de envelhecer.

Até ao dia que ela olhou em seu redor,
E sorriu para o seu povo pela última vez.
Fazendo o que achará francamente melhor
Ensinando uma lição pelo que a gente lhe fez.

E sem pingo de remorso ou mesmo medo,
Ela atirou-se da encosta e exilou-se no mar.
Criando uma pandemia de desassossego
Que nem os curandeiros conseguiram curar.

E assim, um a um abandonaram a consciência
E juntaram-se todos numa espiral mortal.
Enquanto Thanatos contemplava a decadência,
Preparando uma festa para o omni-funeral.

As almas das crianças extintas cantaram
Para os seus falecidos familiares.
Enquanto os seus corpos se tornaram,
Comida para peixes, algas e nenúfares.

E após um tempo a criança emergiu e voltou,
E observou apática, ausente de emoções.
Totalmente indiferente ao que se desenrolou,
Sem vontade de justificar as suas razões.

Porque na morte ela tornou-se imperatriz
E a sua primeira ordem foi acabar com a mágoa.
E então olhou para o céu e disse - Atlantis?
Para mim... Fica melhor debaixo d'água.

Então, Hélio ergueu-a no telhado do mundo
E no auge do verão o seu corpo foi dissolvido.
Numa chuva que submergiu a necrópole no fundo
Fazendo de Atlântida, um continente perdido.

Blackiezato Ravenspawn

terça-feira, 24 de junho de 2014

Cão De Guarda

Mendigas o alimento que te envenena,
Obedeces à ordem que te mente.
Imploras pela companhia que te despreza
E veneras a corrente que te prende.

Vives essa vida de escravidão,
Mentido diariamente à tua alma cansada.
Ladrando que tens um plano, uma visão
Para manteres a cabeça levantada.

Oferecendo esses latidos ao céu,
Com tristeza, raiva e sofrimento.
Pois aqui, o leal é visto como réu
Injustiçado, sem qualquer fundamento.

E gastas devoto essa estranha energia
Que reciclas quando te deixam dormir
E é desiludido que farejas a mão vazia
Só para dar a sensação que te estás a divertir.

Embora não seja bem assim no fundo,
Mas tu não te cansas e ainda mostras mais.
Na esperança que esse teu dono imundo,
Reconheça os teus valores imateriais.

Para receber um osso que não te consola,
Pois sabes que é para te calar e deixar entretido.
Quando ninguém tem prazer de te lançar a bola
Por estares aí esquecido, sem ser reconhecido.

E assim lambes persistente as tuas feridas,
Com sede de empatia e com os olhos sêcos.
Reflectindo, se valerá mesmo viver esta vida
Atolada na angustia, neste no esterco?

Mas, quando a lua brilha no céu estrelado
Tu aí levantas-te, hipnotizado e louco.
A uivar ruidoso que nem um desalmado
Só para te sentires, um pouco, lobo.

Mas acabas por ouvir - Cala-te seu desgraçado!
E assim recolhes no teu canto sem dar luta.
Ladrando baixinho, deprimido e sozinho
Pois ninguém te entende ou mesmo escuta.

Tu, esse cão que hoje seguro e protejo,
Porque na verdade também o sou.
Pois é em ti que eu mais me revejo
Onde quer que eu mesmo estou.

Por isso não temas meu amigo canino
E ouve o que te digo, meu caro menino.
Hoje sou o teu irmão que uiva contigo
E tu o humano que escreve comigo...

Dou-te compaixão e oiço as tuas preces,
Pois a tua abnegação me comove.
E tu feliz, humilde agradeces
Ladrando para mim a primeira estrofe.

Blackiezato Ravenspawn

Necro Erotomania

Eu sinto uma sensação estranha no corpo,
Estou petrificado e não sei como a definir.
Encontro-me vivo, embora pareça-me morto,
Que nem sei ao certo o que estou a sentir.

Será seduzido pela tua poesia intemporal?
Ou chocado pela tua beleza espectral?
Será torturado pelo meu desejo mortal?
Ou devorado pela minha mente abismal?

Porque tu és etérea e não real
Pois não te consigo ver, nem mesmo tocar...
Serás tu uma diva sublime ou um ser paranormal?
Ó tu, Aparição que tonto estou a alucinar?..

E foi materializando-se num fogo frio,
Qu'Ela mostrou-se ennui e acariciou-me franca.
Afogando-me com beijos no sonho, no vazio,
Como faz uma sereia - ai, Florbela Espanca!

E assim deixei-me ir no absoluto descontrolo,
Da sua volúpia e da minha erotomania.
Ausentes da angustia, juntos num único consolo,
Tal e qual dois versos abraçados numa rima.

Blackiezato Ravenspawn

Carpe Diem, Carpe Noctem

Hoje saí sem destino para me aventurar
Os planos eram tipo - sei lá, o que me apetecer!
Pois nunca me importa, onde o vento me levar,
Desde que acabe sempre a fumar e a beber.

Porque não sei ao certo o que andava por aí a fazer
E ainda bem! Mais tempo tinha para espairecer.
Por lá, sozinho-perdido algures a magicar,
Enquanto contemplava sereno o dia a passar...

Mais tarde a noite veio e eu nem reparei,
Talvez por estar distraído a olhar para o além.
Pensando na verdade que há muito que não sei,
Nos braços do momento, embora como um refém.

O Espaço é meu o reino, o Tempo é meu o rei,
O Caos é o meu Deus e a consciência é a minha lei.
Logo digo carpe diem, como carpe noctem também,
A quem leva a vida demasiado a sério, e não estiver a bater bem.

Blackiezato Ravenspawn

O Mineteiro

Meus caros...

Cada vagina é um santuário,
Como cada clitoris é um altar.
E é neste mundo efémero e ordinário,
Que ainda busco a fé para acreditar.

Num Deus, numa salvação, num paraíso,
Ou simplesmente em força alguma.
Até olhar para o céu e perder o juízo
E ver nada mais que uma mulher maluca.

Talvez porque o trono das divindades,
Não passa d'uma galeria de orgasmos.
Onde megeras conjuram tempestades,
Para as ninfas cantarem com espasmos.

"Oh meu Deus! Mais rápido! Isso!
Vai! Vai! Uiii, sim! Aí mesmo! CONTINUA!
São alguns dos encantamentos e feitiços,
Evocados por essas tolas nuas...

Oh meu Deus?! Serei eu mesmo Ares/Marte?
Ou um caçador excêntrico... À coca?
E já agora... Deverei eu colocar o meu estandarte?..
- Sim, se o sabor for melhor que droga!

É o que me diz audaz a minha língua,
Que de todos e até de mim faz troça.
Ela que penetra, mas que não mata
Apesar de ser sinistra como uma cobra.

A mesma que comunica com cristãos,
Judeus, Islamitas, Mórmons e Hindus.
Como outros tipo: Satanistas e Pagãos,
Embora não se identifique com algum.

A não ser com o meu/nosso pénis,
A cabecilha da potencia, volúpia e culpa.
Que me incita com caos - Hail Eris!
Agindo também como uma adaga oculta.

É... Porque dizem que a violência resolve tudo,
Quando as palavras falham e criam desacatos.
E é por isso que me finjo de mudo,
Falando apenas, proporcional aos meus actos.

E caso tiverem dúvidas, perguntem,
A sujeitos aficionados tipo o Melchior.
Mas se não o virem, então escutem
Outros que sabem a história de cor.

Que eu cheiro as flores do jardim,
Como um agarrado à cocaína.
Apesar de serem as papoilas a ressacar por mim,
Ahem-ahem. Quer dizer pela minha Língua...

"Será arte ou ciência?" Perguntarão uns indecisos
E eu respondo - Não sei, talvez uma religião.
Pois quando fecho os olhos e "profetizo"
Elas enchem-se de graça e derramam uma monção...

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Caos

Nós os humanos temos a estúpida mania
De sintetizarmos o que tanto percepcionamos,
Acabando escravos do que assim pensamos
Tudo em busca da absoluta sabedoria...
Que me só é alcançada na minha poesia

E é descentralizados que arranjamos explicações
Embora nenhuma delas seja a única, pois tudo é permitido.
Tudo só para tentarmos explicar o que apenas pode ser sentido
Nos nossos espíritos e nos nossos corações
No interior de nós, onde ardem as nossas emoções.

E é na interminável guerra entre a ordem e a desordem
Que a natureza ciclicamente se cria e se auto-destrói,
Quando o vento da mudança sopra e a terra se erode, corroí
Juntamente com o corpo e os impérios do homem
Deixando mistérios quando os sábios da sua face, somem.

Sejamos nós Espadas, Copas, Ouros ou até mesmo Paus
Ou seja lá mesmo qual for o nosso valor...
Isso não importa, porque até o próprio universal amor
É tão incompreensível como o enigmático caos
Que nos traz momentos bons como momentos maus

Logo o cosmos chora e sorri como Pierrot e Arlequim,
Junto a mim a ver o aborrecimento que nos degenera aqui
Mas eu te pergunto agora - Será que ele ainda se lembra de ti?
Ou não passarás de algo qu'ele se esqueceu a fim
De cantar e dançar para caosófos parecidos a mim?

Blackiezato Ravenspawn

Iluminismo (Bitchslap)

Para a maioria, encontrar o iluminismo,
É ter o prazer de ver um plano sucedido.
Os monges alcançam-o no taoísmo,
E os exploradores no desconhecido.

Para os cientistas é no decifrar da eureka,
Para os velhacos num grande negócio.
Para os fieis, no Vaticano ou em Mecca,
E para os filósofos, numa fuga ao ócio.

Para os ocultistas nos encantamentos arcanos,
Para os artistas, nas sublimes vénias.
Para os lunáticos, num sonho insano,
E para os sem destino, na boémia.

Mas para mim é uma chapada na cara,
Quando a razão e emoção entram em disputa.
Porque na realidade o caos não pára
E eu mereço, pois a vida é-me uma puta!

Uns só precisam de alguma inspiração,
Outros, só de se acalmarem um pouco.
E há quem só precise de um empurrão,
Que se for mal intencionado acaba em soco.

Ou não...

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 19 de abril de 2014

Indivíduos Como Eu Morrem Cedo

Eu descendi bem fundo
Eu libertei-me das correntes,
Eu tributei-me ao submundo
E juntei-me aos insurgentes.

Pois eu tenho mais que tudo
Para ser um Supra-Camões,
Apesar de agir sempre mudo
Para ocultar as minhas intenções.

Eu tenho a magna genuinidade
E a paixão que vocês tanto desejam,
Como tenho a sacra insanidade
Que os são, secretamente invejam.

E o meu sangue é do mais carmim
E a minh'alma uma rosa-dos-ventos,
Que gira como uma roleta num all-in
Pois eu não me ralo com arrependimentos.

Eu sou o artesão de poemas
Eu sou o génio das palavras,
Eu sou o vírus dos sistemas
Quando me prostituo em quadras.

Porque o terceiro olho deixa-me psicótico
E o meu ego lava-se na decadência,
Em rituais místicos de narcóticos
Que fazem transcender a minha consciência.

Logo não sigo a ordem nem a desordem
Nem faço parte dos bons, nem dos maus,
Nem preciso da misericórdia de algum homem
Quando eu preso a discórdia e sou o caos.

Nem faço parte do vosso degredo
Nem sou regido pela vossa gente,
Porque indivíduos como eu morrem cedo
Embora fiquem... Para sempre.

Blackiezato Ravenspawn

Bruxa

Debaixo da luz prateada da lua,
Envolta nessas vestes de cetim.
Eu imagino-te perversamente, nua
Com as tuas unhas cravas em mim.

Enquanto o teu sabor envenena-me com volúpia,
Contaminando-me com uma adição arcana.
Porque a tua alma é-me a maior luxuria
E o meu corpo o teu reservatório de mana.

E é assim que o meu tenebroso coração
Clama pela feitiçaria de uma bruxa,
Por isso deixa-me ser o teu cabrão
Para que tu possas ser a minha puta.

E querida... Se achares que é demais,
Então, amaldiçoa-me por estes versos sombrios.
Mas, garanto-te com ousadia antes de mais,
Que não são ofensas, mas sim elogios.

Blackiezato Ravenspawn

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Curto Circuito

Ó Depressão, dócil Depressão
Estou farto de estar sozinho.
- Então bebe dois copos de vinho
- E mistura-te na multidão...

Ó Mania, agreste Mania
Tanta gente e tanto barulho.
- Então isola-te e fuma bagulhos
- Até silenciares essa histeria...

Ó Depressão, dócil Depressão
Perdi-me e não encontro o caminho.
- Então traça aí dois risquinhos
- Para ti e para a tua solidão...

Ó Mania, agreste Mania
O que faço eu, soterrado num entulho?
- Porque tinhas calor e deste um mergulho
- Numa miragem em euphoria.

Ó Mania, Ó Depressão
Ó anátemas da minha ruína!
- Cala-te, meu! Até pareces uma menina
Que não consegue lidar com a pressão!

Então, qual é o propósito e o intuito
De atrofiarem e gozarem comigo?
- Foda-se! Deixa-te de merdas querido
- Pois só é um curto circuito!!!

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 28 de março de 2014

D.R.E.A.D's

Estrilhar?! Mandar o bife?!
Qual seria a enigmática emoção?
Capaz de iludir a minha razão
Ao ponto de injuriar um irmão?
Só para mostrar uma mera opinião?!
Sem fundamento e sem visão?
E porque seria tão agressivo?
Só para descarregar essa tensão?

Para que fosse o rei por um dia?
E o agrado de toda a multidão?
Para que quando chegasse a noite
Tivesse uma fêmea no meu colchão?
Não, não e não! Isso é uma ilusão
Que te plantaram no coração
Pois não existe possível justificação
Para essa ridícula acção.

E para quem toma tal decisão
Nenhum de vós merece, ser, cidadão
Sabes porquê? Aqui vai, então!
Eu faço o obséquio e respondo À questão
E até se precisarem meus caros
Eu ajudo-vos a resolver a equação
Com a mais sábia e pura solução
De não transmitir ódio, apenas compaixão.

Eu não compactuo com a destruição
Porque não encontro algum prazer
Nessa miserável auto-satisfação
De descarregar a frustração
E moldar a minha ignorância e torná-la perdição
Só para ter o gostinho momentâneo
De ter fodido, um irmão

Porque tudo isso é dementação
E não me trás grande gratificação
Por isso cago nesses rodeios
Pois não preciso dessa atenção
Não preciso de seis-trinta-e-cinco
Só preciso de um lápis na mão
Porque perante a comportamentos desses
Eu faço fold, recuso, dou a negação

Só não passo de um poeta urbano
Que escreve poesia SAD
Aquele andarilho renegado
Que é rotulado por ter um feitio BAD
Um freak visionário que deu à volta à lua
E voltou meio MAD
E o niilista estacionado na rua
Que se está a cagar se é DREAD
Pois eu não tenho nada para vender
Eu sou real, não sou um AD
Mas se quiseres fumar daqui
Estás a vontade, meu LAD

Blackiezato Ravenspawn

A Tristeza É Um Acto De Rebelião

Há dias luminosos que faz sol
E há dias como este que apenas chove,
E hoje estou tão estagnado e tão mole
Que qualquer coisa me comove.

Porque se a natureza tem opostos
Porque razão eu não haveria de os ter?
Os meus orgulhos e os meus desgostos
Entrelaçados na dor e no prazer.

Mas nesta fantástica era digital e moderna
A tristeza é vista como acto de rebelião,
Porque se não te rires, dizem que és uma merda
E se andares solo, dizem que tens depressão.

Que até parece que perdemos o direito
De sentir as coisas e de sermos humanos,
Porque é na tecnologia que buscamos o perfeito
Como se fossemos alquimistas insanos.

Mas como esta gente quer ser feliz
Se não sabem estar em baixo e tristes?
Quando a vida te fode e o mundo te diz
Que não vales nada, nem mesmo existes?

Mas... Hoje o céu está melancólico
Por isso temos permissão para chorar,
Como bêbados em transes alcoólicos
Pois ambas são partículas d'água e ninguém vai reparar.

Mas nada saí de mim, (in)felizmente
Porque as minhas lágrimas estão congeladas,
No permafrost do meu subconsciente
Seladas do mundo com as luzes desligadas.

Por isso deixai-me na minha tristeza
E deixai-me saborear o destino cru,
Porque é na minha maior fraqueza
Que me sabe melhor, um prato de Blues.

Tens os bolsos cheios de dinheiro
Logo fitas um sorriso nas montras
- Queres um que te fique bem porreiro?
Não foi por isso que vieste às compras?

Mas acho um bocado duro da vossa parte
Pedirem-me a mim para sorrir,
Quando o meu humor torna-se escuro e arde
Com o único propósito de vos destruir.

É verdade, eu procrastino imenso
Uma das minhas maiores virtudes,
Fórmulas em pensamento extenso
Para resolver a equação da plenitude.

Mas a vida tem o habito de ser assim
Logo, neste dia só me sobra o agouro,
Por ser tão generoso e dar tanto de mim
A um mundo que só quer saber de ouro...

Blackiezato Ravenspawn

quinta-feira, 27 de março de 2014

"Gaijas"

Todas vestem algodão
E algumas ainda vestem ganga
A maioria não tem coração
Só truques na manga
Umas ainda são jovens
Outras são quase idosas
Algumas parecem homens
Que se acham bem vistosas
Umas são convencidas
Outras só olham para o seu umbigo
Com ar de aborrecidas
Que só sabem dar migos
"Poucas" são ricas
"Muitas" são pobres
E o resto são as finas
Que ainda se julgam nobres.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Umas parecem miragens
Outras, a minha tulpa
A maioria usa maquilhagem
E adora descartar as culpas
Umas são extremamente quentes
Outras, frias demais
E há aquelas que se acham diferentes
Apesar de serem as mais banais
Umas são pálidas e brancas
Outras são escuras e pretas
E todas elas dizem ser francas
Embora só mandem petas.
Muitas são inseguras
E até parece que não batem bem
Pois todas elas são confusas
Até mesmo tu, minha mãe.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Umas gostam de flores
Outras sofrem de alergias
Pois não gostam de amores
Nem de romance nem de poesias
Umas são criaturas sagazes
Outras, bestas ignorantes
Completamente capazes
De actos bem degradantes
Umas são deveras foleiras
Enquanto outras dizem-se astutas
Quando se mascaram de freiras
Embora tenham fama de putas
Umas dão comigo na droga
Outras só me dão pena
Que quando se vai a moca
Até parece que consumi rena.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Umas são depressivas
Outras raras e genuínas
Perigosas e maníacas
Com cara de meninas
Umas nem eu mesmo sei
O que têm dentro de si
Outras dizem que são gay
E até já apanhei uns travestis
Umas são simpáticas
Outras, só são apenas boas
Com uma história tão trágica
Para serem um mau exemplo de pessoa
Umas até galo e aprecio delas
Outras, pregava-lhes uma foice
Porque a magia da Cinderela
Cessa depois da meia-noite.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Todas são insaciáveis
E a maioria parece-me triste
Umas acabam miseráveis
Temos pena, que se lixe
Umas são muito frágeis
Outras são muito duras
Umas são novas e ágeis
Outras experientes e maduras
Umas gostam de dominar
Outras gostam de se render
Umas só sonham em casar
Outras só pensam em foder
Umas são uma tolice
Outras estão desesperadas
Mas a minha cúmplice
Tem a silhueta de uma adaga.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

E como a minha "valentina"
Tens mulheres com vários rodeios
Com diferentes medidas
E com diversos paleios
Tens mulheres esqueléticas e magras
Ou simplesmente anémicas e murchas
Como mulheres gordas e largas
Ou se preferires com chicha e com curvas
Tens mulheres bem grandes
Tens mulheres assim-assim, médias
Com olhos turvos ou cintilantes
Independentes ou com rédeas
E também tens mulheres baixas
Que são catitas e dão-me pelo peito
Mas são raras as "gaijas"
Que ainda têm o meu respeito.

E eu pergunto-vos minha gente...
- Será assim mesmo tão complicado encontrar alguém?!
Capaz de me amar verdadeiramente
Como me ama a minha mãe?!
Ou será que é pedir de mais?!
Um pingo d'amor - QUE SECA!
Eu já tenho idade a mais!
Para brincar com bonecas!

Blackiezato Ravenspawn

quarta-feira, 26 de março de 2014

Banshee

Do centro para a periferia,
Como de dentro para fora.
Eu declamo a minha elegia,
Na vigésima quinta hora...

E abandono estes homúnculos,
Que me enchem de ansiedade.
E equipo o meu um par de óculos,
Para navegar além na insanidade..

E assim viajo pelas várias dimensões,
Nos meus asilos, nas minhas cidadelas.
Mas nunca soube porque estas visões,
Começam e a acabam sempre com ela.

Talvez por ela ser Vénus, e eu Marte,
Apesar d'isto soar um pouco ridículo...
Mas custa-me imenso meter de parte,
Aquela que tem o "meu "outro ventrículo.

Mas mais triste que dizer isto,
É não ter alguém para o dedicar.
Porque pelo que tenho visto,
Não existe quem eu mereça amar..

Logo esses "amores" eu ponho de lado,
E desculpem lá, o meu narcisismo.
Porque eu só sou devidamente amado,
Pelas enigmáticas mãos do abismo.

Pois não existe olho para perceber,
O que na minha existência se passou.
Nem as palavras para descrever,
O que eu sou e para onde vou.

Porque se a poesia está mesma morta,
E a lua de mim, continua no céu, absorta.
Quem será a entidade que me transporta,
Pela noite fora enquanto me conforta?

Será um fogo-fátuo incandescente?
Será um mito ou pura imaginação?
Este bicho que me parasita a mente
E que se alimenta do meu coração?

Blackiezato Ravenspawn

Necromante

Com dotes líricos
E feitiços da cabala,
Eu invoco espíritos
E uma espectro fala.

"Ó príncipe elegante
Ó cavaleiro andante,
A vós, desalmada imploro
Pelo teu corpo pulsante."

A nebelina descende
E a sanidade se perde,
Quando a magia ascende
E a espectro prossegue.

"Pois no vazio eu moro
E nas ruínas eu choro,
Lá esquecida e distante
De quem mais adoro."

Com alquimia necro
Eu refutei a norma,
E agora essa espectro
Ganhou uma forma.

"Ó poeta galante
Ó mago vislumbrante,
Pelo teu beijo ansiei
Com uma fome gigante"

Dá-se a ressurreição
Da Florbela Espanca,
E com eterna sedução
Ela encarna, branca.

"Pelo limbo eu procurei
E só hoje é que encontrei
O romântico necromante
Que outrora, desejei."

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 23 de março de 2014

Estrilho Sarilho (Double Trouble)

Eu gostaria de dizer algo à Pátria mãe
Falar-vos d'uma psicose chamada mania e depressão
E caso forem alvos disto e a sentirem também
Eu conto-vos uma crónica que fala desta condição

Mas caso não tiverem, no fundo alguma noção
Então acendam esse, para perceberem esta canção...

A Madama Depressão, a minha Maria Solidão
Diz que não gosta de sair porque detesta a multidão
Só gosta de estar comigo, entrelaçada na cama
A lamentar-se o dia todo, pois ela adora drama
A mesma que obsessiva-compulsiva que só quer saber de mim
Quando fala por charadas, por achar a simplicidade, ruim
E assim julga-se diferente e tem os seus complexos
Que confundem a minha cabeça com coisas sem nexo

E é com a sua éterea enlanguescente voz
Que ela me pinta os cenários mais catatónicos
Deixando os rios da minha vida sem foz
Com todos os seus poemas afónicos
Pois ela é insegura e complicada
Logo é profissional em chantagens emocionais
Como faz qualquer outra namorada
Quando exige do seu namorado, demais
E mesmo gostando imenso dela
São mais as vezes que me aborreço
Por não saber lidar mesmo com ela
Quando me diz coisas que não mereço

Então, libertei-me da minha preguiça
E dirigi-me ao santuário, à casa de banho
Cambaleando com a mão na pissa
Para descarregar a raiva que em mim tenho
E foi derramando todas essas toxinas
Que tinha armazenado na minha bexiga
Pensando no feitio da minha concubina
Que tem o hábito de criar estas intrigas

Depois de urinar sacudi a pissa
Duas a três vezes na mesma sessão
Porque por aí diz-se nas missas
Que mais de três, é masturbação
Depois debrucei-me no lavatório
Para lavar a minha cara e as mãos
Como se estivesse num oratório
E a mobília do sítio fossem os meus irmãos
E assim desabafei no confessionário
Ainda com os olhos vermelhos
Enquanto fitava como um otário
O reflexo que me mostrava o meu espelho

E disse - Espelho meu, querido espelho meu
- Será que existe alguém mais louco do que eu?
E este sorrindo para mim, assim me respondeu
- Só se for eu, este misantropo reflexo teu.
- E desde quando falas para objectos?
- E porque razão tenho de te aturar?
Disse-me o meu alter ego com os olhos bem abertos
E eu dei por mim a alucinar...

Pestanejei as vezes que precisei
Para voltar-me a sintonizar na realidade
Mas confesso que uma gargalhada escutei
Do outro lado da minha vaidade
Mas a Depressão foi a mesma quem
Me chamou preocupada, sempre atenta
Quando me perguntou - Estás a falar p'ra quem?!
Pois ela é um "pouco" ciumenta.

- Com ninguém, meu amor
- Só estava a lavar o rosto
- Não existe alguém ao meu redor
- A não ser o teu adorável desgosto
- Por isso relaxa minha princesa
- Não há razões para discutir
- Apenas caí na minha incerteza
- E acho que preciso de sair...

E saí... Deixando a minha Depressão
Em busca de algo que me trouxesse diversão
Mas não encontrei nas ruas da minha cidade
Só nas infames ruelas da minha irrealidade
Quando fui subtilmente surpreendido
Por alguém hostil, embora amigo
Que já me seguia há algum tempo
Escondido na brisa do omino vento...
- Olá! - disse-me alguém, com a mão no meu ombro
Deste homem cujo a vida, ainda continuava em escombros
E sorriu radiante, como sempre fazia
De uma forma especial que só ela sabia.

Bem, era aquela bizarra fêmea
Que aparecia de vez em quando
A maluca Mania, a irmã gémea
Da gaja com quem eu in-felizmente ando
E ela olhou para mim um pouco triste
Pois sabia que eu me sentia mal
Como tivesse na testa o terceiro olho e visse
Que eu estava tudo, menos normal
E com o seu altruísmo envolto em cetim
Ela estendeu-me a sua elegante mão
E disse-me que não gostava de me ver assim
Pois eu não merecia tal frustração...

Então, levou-me pelas ruas mais sombrias
Aquelas que me disseram para eu não ir
Esta estranha donzela emersa em euforia
Que sabia muito bem, como se divertir
E apesar de ser a irmã da minha Cinderela
Ela não hesitou em difamar o seu humor abismal
Da minha namorada tão bela e singela
Essa minha atribulada companheira espectral.

E foi levando-me para a sua casa
Seduzindo-me no processo como o habitual
Como eu se fosse uma cria debaixo da sua asa
Perdido neste mundo real
Que ela me deu afecto e drogas
Enquanto partilhava as suas loucuras
Proporcionadas por grandes mocas
Que me fazia cometer certas travessuras
Pois era assim que ela actuava
E era assim que ela vivia
Confessando que a única coisa que a cativava
Era especialmente a minha alegria
E mesmo sabendo da minha relação
Ela não se ralou com a traição
Fez-me o convite, pois sabia que o meu coração
Não merecia de todo essa frustração

Logo despiu-me com caricias e beijos
E excitou-me com caprichos e desejos
Contaminando-me com a sua serotonina
Que tinha em abundância na sua vagina
E fodemos por horas como apaixonados
No sigílio de um perturbante segredo
Assassinado por um sinistro pecado
Pelo qual eu tinha um tenebroso medo

Mas eu já estava noutra, logo não me ralei
Apenas me ejaculei e de novo continuei
Pois estava hipnotizado pelo seu grande poder
Que me dava tanto, mas tanto pazer.
E foi aí que deixe de ser o Melchior Montenegro
Aquele sublime poeta agarrado às entrelinhas
Para me tornar no Antumbra Eclipse, o meu alter ego
Aquele que só anda com más companhias
Conhecido por ter uma mente deverás insana
E espalhar a misantropia com frases frias
Amigo da puta mais rodada, a Maria Joana
E de um cabrão mais conhecido como Mário Dias.

E por momentos trocamos fluídos
Criando uma estranha simbiose,
Ambos envoltos, completamente despidos
Para se dar a última metamorfose
Pois o frenesim era enorme
E eu não conseguia parar
E cada vez eu tinha mais fome
E cada vez mais eu a queria fornicar
E foi no topo da minha insensatez
Que eu agarrei os cabelos da sua irmã
E gritei cavalgando pela milésima vez
- Eu sou o Destruidor, o Ghenghis Khan

Mas as coisas não correram assim tão bem...
Pois eu ouvi uns passos e assustei-me também
Quando o meu amor entrou de rompante no quarto
Apanhando-me a montar a sua irmã de quatro, que teatro!

Surpresa essa que fez o clima mudar de formato
Pois a Depressão descobriu o que acontecia  mesmo de facto
Quando me deixava "sozinho", a vadiar por aí
Pelos sítios onde ela não tinha poder sobre mim
E assim o silêncio tornou-se de imediato em barulho
Que chocado com a situação eu deixei cair o tartulho
Que segurava na minha boca e que agora tinha caído no chão
Quando ela gritou louca, frustrada cheia de razão
Levando a minha euforia tornar-se em disforia
Quando o seu ciúme ganhou forma da minha agonia

- Seu filho de sete! Como me ousas trair!
Gritou a Depressão angustiada correndo para me destruir
- Sai daqui, Irmã, ele é demasiado bom para ti
Defendeu-me a Mania, enquanto se agarrava a mim

E completamente inconfortável com toda aquela situação
Que eu vi-me tornar no olho daquela tempestade,
Enquanto elas lutavam entre si, à pala da minha confusão
Da minha grande dúvida em torno desta insanidade
E assim tentei fugir, enquanto elas estavam distraídas
A debater o meu controlo com unhas e dentes
Mas foi quando tentava tal que elas reparam ressentidas
Pelo responsável, por todo este ódio demente

E disseram em coro - Porquê que foges, ó querido Romeu
- És um homem ou um rato, diz-me lá, ó meu?!
- E porque que não vens e escolhes uma de nós?!
- Invés de nos olhares com essa confusão atroz?!
- Ó Melchior Montenegro, Ó Antumbra Eclipse!
- Tu és o nosso maior amor e a nossa maior antítese
- E se não escolheres entre a nova e a decadência
- Nós prometemos transformar a tua vida numa demência!

Mas, não escolhi, apenas fugi...
Por ruelas e vielas
Bem longe delas
Como para bem longe de mim...

Pois eu sei que talvez nunca encontrarei a paz
E é agora desabafando ao vinho que tenho na mesa
Que eu descobri que não importa por onde vás
Quando os problemas estão todos na tua cabeça

E é por isso que eu já nem me importo
Mesmo até, quando perco o controlo
E já nem saiba dizer se estou vivo ou morto
Ou talvez lúcido, ou mesmo tolo.

Apenas deixo as coisas fluírem do seu jeito
Como mais desejarem estas invisíveis sucubus
Porque para mim, não existe maior arte e proveito
Que transformar as atribulações da vida em blues.

E o mais engraçado nisto tudo
É que eu guardo só para mim,
Como na verdade eu fosse um mudo
E um livro sem principio e sem fim
Porque nem todos têm o olho para ler
Estas crónicas, tornadas em elegias
Porque só iriam mesmo perceber
Se tivessem de lidar com isto

Quase todos os dias.

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 7 de março de 2014

Espiral Mortal

Com os meus olhos cansados,
Despertei Eu do limbo, tristonho.
Ainda com os membros sepultados
Algures naquele fúnebre sonho.

A visão mostrou-me a poesia morrer,
Enquanto a minha alma murchava.
Pois perdeu-se a razão para Eu viver,
Como a emoção que me alimentava.

Logo o meu corpo tornou-se pedra,
E a minha mente erodiu-se em areia
Deu-se a ruptura, depois a quebra,
Da minha vida, da minha odisseia.

E a terra engoliu a minha essência
Criando a minha combustão espectral.
Até o céu espalhar a minha consciência
Como cinzas, na espiral mortal.

Blackiezato Ravenspawn

terça-feira, 4 de março de 2014

Para Quê?

Para quê ouvir-te cantar
Se não tens nada para dizer?
E para quê mesmo eu te amar
Quando tu só queres me foder?

Para quê ser como tu, normal
E enquadrar-me na sociedade?
Quando tu nem és leal
Com a tua própria personalidade?

Para quê mesmo competir
Trabalhar e ganhar dinheiro?
Quando me forçam a mentir
Para subsistir neste mundo foleiro?

E para quê pergunto-te eu
Fazer de conta que estudo está bem?
Quando no fundo todo se perdeu
Aqui na terra de ninguém?

Para quê?! Ralar-me com merda
Se me falta a vontade toda
Quando posso fumar erva
E dizer - Que sa'foda!

Blackiezato Ravenspawn

Confusão

Ardente, frígido, frígido, ardente.
Triste hoje, amanhã contente.
Sombrio, claro, claro, sombrio.
Alma cheia, coração vazio.

Dia e noite, noite e dia.
Gargalhadas de dor, lágrimas d'alegria.
Sol, chuva, chuva, sol.
Cabeça tão densa, corpo tão mole.

Realidade, fantasia, fantasia, realidade.
Suave mentira, dura verdade.
Natural, sintético, sintético, natural.
Sonho analógico, pesadelo digital.

Fraqueza, vigor, vigor, fraqueza.
Tanta dúvida e nenhuma certeza.
Coragem, medo, medo, coragem.
Um horizonte sem uma paisagem.

Decadência, nova, nova, decadência.
Sacra perversão, herética inocência.
Esperança, desespero, desespero, esperança.
Tremendo potencial, ténue confiança.

Perdido, orientado, orientado, perdido.
Nunca acorrentado, sempre foragido.
Altruísmo, egoísmo, egoísmo, altruísmo.
Desleixado narcisismo, sublime niilismo.

Controverso, incontestável, incontestável, controverso.
Um espelho quebrado, um multiverso.
Sério, infantil, infantil, sério.
Um notável imbecil e um invisível génio.

Lento, rápido, rápido, lento.
Impávido e sereno, no volátil tempo.
Arrogância, modéstia, modéstia, arrogância.
Desejo espontâneo, cíclica ânsia.

Ametista, esmeralda, esmeralda, ametista.
Poeta angelical, demoníaco contorcionista.
Jasmim, Lotus, Lotus, jasmim.
Requiem, Mardi Gras, Pierrot, Arlequim.

Depressores, estimulantes, estimulantes, depressores.
Benditos narcóticos, malditos amores.
Depressão, mania, mania, depressão.
Caos, instabilidade, discórdia, confusão.

Blackiezato Ravenspawn

Sleepwalker

Ando muito, vivo pouco,
Destinos?! Não tenho um.
Pois sou um estranho louco
Que jamais irá a lado algum

Ando simplesmente por andar
E nem ligo para onde vou,
Só quando reparo que devo parar
Quando não sei onde estou.

Eu ando para a frente e para trás,
Como para a esquerda e para direita.
Sem saber se um dia serei capaz,
De ver esta longa caminhada feita.

E é caminhando o dia todo, até cair,
Debruçado na minha constante incerteza
Que percebo que onde eu mais desejo ir,
Só é possível dentro da minha cabeça.

Blackiezato Ravenspawn