terça-feira, 16 de março de 2021

Prosa Poética

A prosa poética é bonita
E nem sequer tem vergonha
De ser banal ou esquisita
E de andar sempre na ronha

A prosa poética não segue
Métricas, estilos, nem leis
Nem sequer reconhece
Muralhas, castelos, nem reis

A prosa poética é livre
Alimenta-se de emoções
E com alto alento, ela vive
Ausente de refrões

A prosa poética fala sozinha
E mesmo assim, divaga
E na maior parte das linhas
Nem sequer diz nada

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 12 de março de 2021

Das Klavier

Eu já não me sinto à deriva a afundar
Nas profundezas da minha demência
De forma alguma, aprendi a nadar
Nesse oceano gigante de malevolência

Eu já não sinto que nasci para achar
Alguém para partilhar a minha decadência
Foi na perda que acabei por encontrar
O propósito da minha existência

Eu já não sinto o desamparo da vida
Nem a fadiga dessa excruciante corrida
Agora corro por prazer em cima de ti

Eu já não ando nesses caminhos vãos
Klavier, pega nas minhas solenes mãos
E leva-nos para bem longe daqui

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Matrizes

Onde essas estradas se cruzam
Os nossos egos são modificados
Onde essas variáveis se juntam
Os nossos fados, predeterminados

É nas diversas junções paralelas
Que as informações são contidas
Os cálculos criam as nossas celas
E o resultado das nossas vidas

É no núcleo da máquina-mestre
Que o sistema é feito na grelha
Simulando esta realidade terreste
Que o mundo, tão bem o espelha

Todos os ramos, todas as raízes
Do ontem, do hoje e do amanhã
Armazenados, dentro das matrizes
Como números presos, no ecrã

Blackiezato Ravenspawn

Enfadado

Mal me levantei da cama
E já sonho em me deitar
Ainda nem veio o drama
E já anseio por este acabar

Não me sinto associado
Apesar de ser mais um sócio
Nem sequer estou casado
E já pretendo um divórcio!

A minha língua rabugenta, clama
Sedenta com uma sede voraz
O copo está cheio e até derrama
Mas, o líquido não me satisfaz

Só agora é que o dia começou
Mas, a noite ainda não se foi
E a minha paciência já acabou
Que fado! Deus, me perdoe!

Blackiezato Ravenspawn

Vasto Oceano

Olha para mim, eu aqui na ria
E Tu absoluto, aí, deveras longe
Quem me dera conhecer a linha
Que atravessa todo o horizonte

Sentir a maior das ressonâncias
E o oscilar de todas as ondas
Estar dos faróis, bem à distância
E não aqui, nestas terras tontas

Eu só sei das cantigas da maresia
E das intrigas da gente da cidade
Do enigmático balanço da calmaria
Que antecede as tuas tempestades

Não conheço os ventos soberanos
Nem o reflexo dos astros vibrantes
Que trazes contigo, ó vasto Oceano
Tão simples, embora, tão gigante

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Monopolistas

Somos nada mais que prostitutas
Sobre o disfarce de um trabalho
Por isso, não resistas, nem dês luta
Pois, não há futuro, aqui no talho

Somos como gado somente criado
Em cativeiro para virar um produto
Que passa o tempo todo encurralado
Só com o propósito de dar um lucro

Somos possuídos por um sistema
Seja ele de direita, ou de esquerda
Prisioneiros de um eterno dilema
Confinados com os olhos na cerca

Somos a matéria-prima que sarne
A propriedade de senhores populistas
Nada mais que recipientes de carne
No estoque de seres monopolistas

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 30 de janeiro de 2021

Contraponto (Contra-Rima)

Sinto que às vezes devo fugir
Fugir daqui, algures por aí
E por aí, ir, sem voltar a vir
A vir, ao sítio de onde lá saí

Saí de mim para me encontrar
E encontrei-me por aí perdido
Perdido por não saber andar
Andar errante, sem um destino

Destino esse, estranha estrada
Estrada onde eu viajo sozinho
Sozinho e livre nessa jornada
Jornada em busca do caminho

Caminho fugindo da realidade
Realidade essa cujo eu minto
Minto para manter a sanidade
A sanidade qu'eu ainda sinto

Sinto que às vezes devo fugir...

Blackiezato Ravenspawn


Antíclimax (Anti-Rima)

Ai, se soubesses o quanto desejo
Provar o teu corpo, sentir o teu calor
Morder-te os lábios, dar-te um "soco"     
E acariciar-te as mãos com o meu "ódio" 

Ai, se soubesses o quanto tempo
Eu anseio com estas mãos ao peito
Inspirando fundo, estes "desapegos"   
Quando te olho com imenso "desdém"      

Achas que mereces o meu "beijo"?
Achas que mereces o meu "amor"?
Conseguirias aguentar o sufoco
De viver comigo este episódio?

Achas qu'Eu tenho "sentimentos"?
Achas qu'Eu tenho algum "respeito"?
Não! Jamais terás o meu aconchego
Pois, negar-to, faz-me sentir bem!

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Poesia Sanitária

O povo em crescente desconfiança
Dividido e paranoico sem socializar
Aguardando os ventos de mudança
Que nem sequer, vai poder respirar

A voz da liberdade que padece
Os planos arquivados na arca
Um futuro que ninguém conhece
Incógnito, atrás d'uma máscara

As promessas de sonhos digitais
A decadência de todos os afectos
O vírus contaminou os mortais
Por isso, não chegues tão perto

País confinado, vida estagnada
Pessoas refugiadas em solitárias
Quadras que acabam esterilizadas
Para cumprirem normas sanitárias

Blackiezato Ravenspawn

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Velas De Esperança

Somos como astros santificados
Que ainda batalham a escuridão
E apesar de estarmos dispersados
Fazemos parte da mesma constelação

Por isso, enquanto existir uma vela
A brilhar em nome dos mortais
A sua presença nobre e singela
Será o suficiente para as demais

Pois, eu estive calado e sombrio
Sem grande vontade de arder
Até o teu fogo atear o meu pavio
E dar-me força para escrever

O teu brilho atravessou a vidraça
Da catedral que é a minha mente
Devolveste a mim, a luz, de graça
Obrigado... Pelo teu presente

(Dedicado ao Tiago Mendonça Oliveira)

Blackiezato Ravenspawn

Enquanto Sangrares A Vontade Fluirá

Cairia eu na minha mesquinhez
De chorar pelo cálice derramado?
Não... Pois, o líquido encarnado
É a prova pura da minha lividez!

Preocupar-me-ia com a estupidez
De tentar alterar o curso tomado,
Que o destino achou de bom grado
Só para negar a minha languidez?

Talvez... Diria Eu na minha morbidez,
Como s'isto fosse um jogo de xadrez
E eu a peça, que infelizmente, anda

Embora, não me rale com o resultado
Porque mesmo com o torso lacerado!
O coração que sangra... Ainda canta!

Blackiezato Ravenspawn

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Nesta Terra

Na terra dos mártires poetas
Todos clamam saber rimar
Mas, é rara, a alma honesta
Qu'ainda a sabe, a evocar

Na terra dos bravos marinheiros
Todos dizem saber navegar
Mas, são poucos, os aventureiros
Qu'um dia, enfrentaram o mar

Na terra dos eloquentes vinhos
A maioria gosta de se embriagar
Mas, são escaços, os vizinhos
Que me chegam, a elucidar

Na terra dos virtuosos fados
O povo cisma em se relembrar
A glória que lhe passou ao lado
E a saudade que veio p'ra ficar

Blackiezato Ravenspawn

Bondage Social

Mentiras e retóricas bonitas
Palavras que geram corrupção
Cantigas e histórias ridículas
Que embelecem a submissão

Seduzidos pela a desgraça
Em castidade, como um zelote
Com o arnês e a mordaça
Dançando ao som do chicote

A falsa esperança se eleva
Onde o fiel planta a cruz
Abrindo a porta, às trevas
Para convidar a sair, a luz

Entre correntes e algemas
O povo clama - o que faremos?
Como escravos do sistema
Escravizados, por eles mesmos

Na masmorra com medo da chuva
Na guarida dos capatazes do mal
Eles odeiam, mas, beijam a luva
Que lhes lança, o bondage social

Blackiezato Ravenspawn

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Fazer Parte

Venerar máscaras e personas
Cumprir regras e leis imorais?
Lutar por causas, numa poltrona?
Seguindo falsos e meros mortais?

Dar a minha vida a sanguessugas?
Tornar-me noutro peão para a guerra?
Descendo aos mais baixos, patamares
Para extrair o sangue da terra?

Desejar atingir o maior estatuto
Para ver o quanto, é insignificante,
Ser possuído por modas e produtos
Criados por uma formiga errante?

Ceder à pressão psicológica
Da praga invisível que nos move?
Corromper um mundo, sem lógica
Enquanto a colmeia, implode?

Viver para tapar um buraco
Duma vaga, dum baluarte?
Tão miserável e tão opaco.
Não... Eu não quero fazer parte.

Blackiezato Ravenspawn

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Incompleto #1

Um monge sem nirvana
Um fungo sem cogumelo
Um mago sem mana
Um monarca sem castelo

Uma marioneta sem cordas
Uma doença sem cura
Uma caravana sem rodas
Um sistema sem estrutura

Um cálice sem vinho
Uma forma sem simetria
Um viajante sem caminho
Um acorde sem harmonia

Um baile sem dança
Um gladiador sem arena
Uma casa sem vizinhança
Numa noite sem estrelas

Blackiezato Ravenspawn

Falsa Mídia

Falam muito, mas, dizem tão pouco
Escondem tudo, mas, não revelam nada
Querem fazer de nós uns loucos
Pois, devem achar isto uma piada

Milhares pessoas morrem todos os dias
E todas as noites, nasce mais um produto
Embrulhado na mais deslumbrante alegria
Embora na verdade, seja um podre fruto

Querem endoutrinar a minha cabeça
Fazer dos meus templos, minhas prisões
Querem meter-me em cima da mesa
E esterilizar-me o cérebro às prestações

Pregam o truque mais velho do mundo
O Tal pensamento: Eles contra Nós
Aproveitando-se do trance profundo
Daqueles que venderam a sua voz

Usam a histeria e a desinformação
Para engenhar uma nova normalidade
Querem alterar a minha percepção
Para me mostrar uma falsa realidade

Blackiezato Ravenspawn

O Eterno "Loop" D'Uma Barra

A limitação gera criatividade
A necessidade cria a invenção
E há quem pegue na precariedade
E a transforme numa imensidão

Transpondo-a numa rotina
D'uma forma deveras sensível
Tal e qual o é, a minha vida
Tão incerta e tão imprevisível

Eles deram-me uma barra
E Eu dobrei-a! que ridículo!
Agora a recta já não para
Agora roda como um círculo

Sem um começo, sem um final
Tão perfeito, tão regular
Repetindo-se sempre igual
Embora d'um jeito peculiar

Uma ternura para à alma
Uma satisfação de todo
Bater o pé e as palmas
E ele recomeçar de novo

Blackiezato Ravenspawn

domingo, 3 de janeiro de 2021

Pária

Muitas luas passaram
Várias batalhas se deram
Mas os puros, não se calaram
E jamais, se renderam

O sistema imponente
Designou-te um uniforme
Mas, tu fizeste-lhes frente
Com o teu espírito, enorme

Dizem que és a escumalha
A classe dos homens, mais pobre
Mas, sobre o fio da navalha
Tu a Pária, és o mais nobre

A tua vontade é fulminante
Desde as cinzas, ao pó
A partir D'hoje, adiante
Jamais, um dia, lutarás só

Blackiezato Ravenspawn

sábado, 2 de janeiro de 2021

Kali Yuga

Quantas vezes o pedregulho
Foi levado até ao cume?
Quantas vezes o orgulho
Se tornou num queixume?

Quantos mais turnos virão
Até ao jogo terminar?
Quantas peças tombarão
Até ao rei se resignar?

Quantas batidas escutarás
No vácuo do ser, incómodo?
Quantas notas acertarás
No coração, do metrónomo?

Quantas almas se quedam
Sem encontrarem a fuga?
Quantos anos, ainda restam
Para o final do Kali Yuga?

Blackiezato Ravenspawn