terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Árvore

És um ser especial
Minha cara árvore
E para ser franco...
Acho que és a única
Que me percebe.

Pois partilhamos o mesmo ciclo...
Na primavera da tua vida
Tu enches-te de folhas e flores
Tal como eu me encho de amizades e amores.

Depois surge o verão...
Os dias ficam mais longos,
Tu brotas os mais saborosos frutos
Tal como eu, que após um longo desenvolvimento
Lanço as minhas criações na terra.

Mas ninguém as pega, não é verdade?
Quem quer hoje em dia os frutos de uma árvore esquecida
Pelo o agricultor que tanto lhe amou?
Quem quer pedaços de emoções, de sentimentos, de criatividade,
De uma vida em constante mutação...
Quem quer?
Ninguém quer...

Então apodrecemos...
Só de olhar para os nossos filhos
Perdidos no chão de um descampado
Tal como num piso de madeira...

Fwuuuuuuuush... Soam os ventos
Os dias começam a ficar cinzentos
E assim dá-se oficialmente a época outonal.

Acabamos por sermos seduzidos pelo charme dos vendavais
E deixamos cair nossas roupas no chão.
Mas o amor pode ser terrível algumas vezes
E o pior deles todos, provém do elemento mais imaturo
Como é de suspeitar de uma relação...

Ainda com as nossas roupas rasgadas,
De um episódio que remota algum arrependimento
Nós as vestimos, mas não são a mesma coisa.
Até parece que perdemos todo, até a cor da vida...
As cores quentes desaparecem do meu rosto
E a ti, as tuas tornam-se misturas de emoções e desejos não saciados
Com um sabor agridoce... Castanho, laranja, Amarelo e Verde...
Não sei se tu conforta, mas gosto muito desse teu estado...
Não leves a mal, é um elogio...

As nossas folhas, perdem-se no mundo... Não é verdade?
Mas a mãe e o pai lembram-se delas a qualquer altura
Como é normal, o tal aperto no coração.
É pois... Árvore.
E sabemos onde elas estão e zelamos tanto pelos nossos filhotes...
Mas nem todos eles se lembram de nós.
E tudo o que cultivamos na Primavera, começa a cair lentamente.

Dá-se o presságio do fim.

Inverno, Inverno... Inverno...
Chove quase o dia todo, as noites são frias
E a água faz desta paisagem, o seu trono.
Rainha Invernal tu que és a responsável
Pela limpeza anual dos despojos.
E é nesta passagem das nossas vidas
Que se vai tudo o que alguma vez tivemos.
Amizades... Folhas.
Amores... Flores.
Felicidades... Frutos.
Tudo!
O que antes possuía
Agarrado a mim...
Neste caso, a nós.

E ficamos sozinhos nesta altura das nossas vidas.
Por um lado, até acabamos por nos habituar.
Mas o maior medo, não é perder tudo, nem é morrer...
Logo tu, minha bela valente e corajosa
Que enfrenta os lenhadores sem recuar um passo.
Tu que me proteges do calor e da chuva
Tu que és um lar para milhares de seres
E tu que tanto me ouves
Quando não existe mais ninguém para tal.
O meu maior medo...

É ter de repetir de novo o ciclo...

Mas quando olho para ti,
Tu que já tens mais anos que eu...

Eu encontro de novo a força para recomeçar
Do início, as vezes que forem precisas.
Por isso minha querida.

Obrigado pelo oxigénio
Obrigado pelas folhas de papel
Obrigado por susteres as minhas costas
Obrigado pelos alimentos que me dás
Obrigado pela guarida que me ofereces
Obrigado pela inspiração que em mim nutres
Obrigado pelas canções que me cantas ao relento
E obrigado pelos abraços...

E se algum dia reencarnar em algo...
Pedirei raízes,
Um tronco,
Vários ramos
E uma coroa de folhas...

Mas pedirei antes de mais...
Um lugar junto a ti.

Blackiezato Ravenspawn

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