sábado, 1 de setembro de 2012

Anjo

Para uma flecha que veio do sol
Descendeste serena desse alto céu
E mostraste-me o teu lado mais mole
Quando destapaste o teu véu

E estas minhas mãos tão frígidas
As descongelaste no teu suave rosto
Derramando as lágrimas mais lívidas
Mesmo de quem ama com bom gosto

Enquanto me olhavas tão radiante
Debruçada sobre o meu peito
Tal e qual viesses do além distante
Só para descansar no meu leito

E aí eu perguntei-te - ó meu anjo
Porque te separaste dos teus?
E tu respondeste em tom de canto
Que desejavas abraços meus

Ó anjo, tu que não conheces a dor
Que mensagem trazes para mim?
E tu sussurando-me com o teu calor
Deste-me mais um pedaço de ti

Oferecendo uma amostra da eternidade
Existente nesses olhos de águas mil
Partilhando comigo toda a tua beldade
Embebedando-me com um beijo gentil

Ó anjo, tu que sopras brisas sagradas
Com todos os aromas da primavera
Leva-me a voar nas tuas asas aladas
Para além do horizonte, da troposfera

E foi sorrindo de uma forma tão clara
De um jeito inocente, sem alguns receios
Que tu acariciaste os traços da minha cara
E que a encostaste nos teus ternos seios

E  foi aí eu comecei a ascender
Aonde eu não julgava poder ir
A um lugar que não consegui entender
E que é quase impossível de se definir

Nesse paraíso que a mim desvendaste
Esculpido com perfeição na tua silhueta
Embora sem despedir, logo esvoaçaste
Como um grão de areia numa ampulheta

Desvanecendo cintilante no ar fino
Deixando-me apenas uma simbólica pena
Com um fio do teu cabelo cristalino
Que reflectia a tua virtuosidade, ó pequena

Tu que vieste embrulhada em amarelo
Fingindo-te ingénua, embora tão sábia
Para me revelar o que existe de mais belo
No silêncio de um bafo de sálvia...

Não foram emoções, nem sentimentos
Que eu senti no auge da experiência em si
Foram visões, foram pensamentos
Que eu tinha perdido algures dentro de mim.

Blackiezato Ravenspawn

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