Não faço nadinha! Mas nem mesmo, nadinha de nada,
Porque encontro sempre tudo, devidamente feito.
Pois existe dentro de mim, algures uma petiz fada,
Que vive escondida em simbiose com o meu peito.
E ela alimenta-se de mim, criando todos os meus desejos,
Sendo todo o meu bem-estar, sendo todo o meu deleito.
Quando se manifesta subtil, nos meus sonolentos bocejos,
Que derretem o meu cérebro e me deixam desfeito.
Ela é o meu maior passatempo, ela é o meu maior ócio,
A droga que não se toma, nem que se tem de obter
E o seu efeito é como beber absinto e como fumar ópio,
E é como não estivesse cá, mas visse tudo a acontecer...
Tantos planos para hoje, e deixo-os todos para amanhã,
Porque encontro-me sempre, eternamente, tão cansado.
E assim acordo ao início da noite e adormeço logo de manhã,
Vendo o tempo passar, pensando sonhado, mais um bocado.
E é pegando nessas palavras, lançando-as à balda numa sertã,
Sem ligar o lume, apenas olhando para o fogão meio-aluado.
Que através da minha distracção, eu evoco a minha anfitriã,
Para cozinhar o meu tédio, preparando um serão, requintado.
Pois eu não possuo rotina, eu nem faço parte do sistema,
Porque eu sou uma partícula que foi feita para se perder
E que quando viaja por si, encontra-se sobre um poema,
Criado magicamente, pela arte, de nada fazer...
E é arrotando agoniado, que eu crio um instrumento gutural,
Que da minha misteriosa embriaguez, eu produzo esta canção.
Enquanto o cigarro vai-se ardendo, dando-se mais um ritual,
Que pelo seu fumo se revela, um universo regido, pela perfeição.
Mas só quando fico sóbrio, é que reparo que agi deveras mal,
Que nem apesar das críticas, consigo encontrar alguma razão.
E é por isso que me arrasto pelas ruas, em busca do surreal,
Como um drogado agarrado, a mendigar pela sua salvação.
Pois nenhuma ressaca doí mais, que a simples pura realidade,
Quando a sua graça etérea finda e eu perco todo o seu poder.
E às vezes até parece, que me esqueço da minha mortalidade
E salto de pedra em pedra, à espera de cair para depois me erguer!
Enquanto eu sofro em silêncio, sobre o vazio véu da obscuridade...
Abafado e cegado! Pelo barulho cintilante! Do absoluto prazer!
Blackiezato Ravenspawn
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