sábado, 22 de outubro de 2011

A Fada Do Nada Fazer

Não faço nadinha! Mas nem mesmo, nadinha de nada,
Porque encontro sempre tudo, devidamente feito.
Pois existe dentro de mim, algures uma petiz fada,
Que vive escondida em simbiose com o meu peito.
E ela alimenta-se de mim, criando todos os meus desejos,
Sendo todo o meu bem-estar, sendo todo o meu deleito.
Quando se manifesta subtil, nos meus sonolentos bocejos,
Que derretem o meu cérebro e me deixam desfeito.

Ela é o meu maior passatempo, ela é o meu maior ócio,
A droga que não se toma, nem que se tem de obter
E o seu efeito é como beber absinto e como fumar ópio,
E é como não estivesse cá, mas visse tudo a acontecer...

Tantos planos para hoje, e deixo-os todos para amanhã,
Porque encontro-me sempre, eternamente, tão cansado.
E assim acordo ao início da noite e adormeço logo de manhã,
Vendo o tempo passar, pensando sonhado, mais um bocado.
E é pegando nessas palavras, lançando-as à balda numa sertã,
Sem ligar o lume, apenas olhando para o fogão meio-aluado.
Que através da minha distracção, eu evoco a minha anfitriã,
Para cozinhar o meu tédio, preparando um serão, requintado.

Pois eu não possuo rotina, eu nem faço parte do sistema,
Porque eu sou uma partícula que foi feita para se perder
E que quando viaja por si, encontra-se sobre um poema,
Criado magicamente, pela arte, de nada fazer...

E é arrotando agoniado, que eu crio um instrumento gutural,
Que da minha misteriosa embriaguez, eu produzo esta canção.
Enquanto o cigarro vai-se ardendo, dando-se mais um ritual,
Que pelo seu fumo se revela, um universo regido, pela perfeição.
Mas só quando fico sóbrio, é que reparo que agi deveras mal,
Que nem apesar das críticas, consigo encontrar alguma razão.
E é por isso que me arrasto pelas ruas, em busca do surreal,
Como um drogado agarrado, a mendigar pela sua salvação.

Pois nenhuma ressaca doí mais, que a simples pura realidade,
Quando a sua graça etérea finda e eu perco todo o seu poder.
E às vezes até parece, que me esqueço da minha mortalidade
E salto de pedra em pedra, à espera de cair para depois me erguer!

Enquanto eu sofro em silêncio, sobre o vazio véu da obscuridade...
Abafado e cegado! Pelo barulho cintilante! Do absoluto prazer!

Blackiezato Ravenspawn

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